Título: Filosofia e Antifilosofia
Autor: Michele Federico Sciacca
Tradução: Valdemar A. Munaro
SCIACCA, Michele Federico. Filosofia e Antifilosofia. Tradução de
Valdemar A. Munaro. São Paulo: Realizações Editora, 2011.
Premissa
A
"Cátedra" tem uma norma, embora não seja rígida: desenvolver
criticamente e do ponto de vista especulativo um problema de viva atualidade a
fim de propô-lo, uma vez mais, endereçado a uma perspectiva de aprofundamento e
de solução sempre aberta, à luz do pensamento rosminiano e da filosofia
clássica, pessoalmente repensados sem dogmatismos e sem apologias.
O livro descontenta
a todos: aos assim chamados tradicionalistas ou conservadores, aos
revolucionários ou progressistas, e também aos moderados acomodatícios. Que
"filosofia da integralidade" seria a minha caso se prestasse a
acomodações unilaterais ou a etiquetas de exclusividade? (Gênova, 31 de março
de 1968)
"Quem não
filosofa pela filosofia, mas se serve da filosofia como meio, é um
sofista". (F. Schlegel, Fragmentos do "Athenaeum")
Lição
Primeira — Filosofia e Antifilosofia
1. A filosofia
como metafísica: princípio metafísico, princípio dialético e forma real do ser
"Um homem de
natureza vil e superficial não pode ter... nenhuma comunicação com a
filosofia" (Platão, República), e quanto mais vil e superficial for
a sua natureza, mais terá comunicação com os particulares pelo seu
"particular" e com as opiniões que, ao redor deste, prevalecem ou ele
faz prevalecer.
Com efeito, a
filosofia não é conhecimento ou conquista do particular, nem bagagem de
opiniões: nasce, e ela é tal por essência, como busca da arché, isto é,
do Princípio de todas as coisas; arché significa também
"começo" ou aquilo que é desde o princípio e do qual tudo começa.
Só o Ser-Princípio
não é dialético; qualquer outro está "em relação" ao Ser, o único absolutus.
Ainda hoje e sempre
válida, portanto, a filosofia deve ser entendida como a busca ou amor da
verdade, mas o homem não buscaria a verdade de cada ente e de cada princípio,
se antes a verdade, que as outras contêm, não estivesse presente em sua mente,
isto é, o homem não buscaria a verdade se tivesse que partir do nada de verdade
na mente. Portanto, a filosofia é a busca da verdade a partir da reflexão sobre
o primeiro verdadeiro que constitui a mente e a faz capaz de conhecimento
veritativo ou intelectivo sobre o próprio homem e o mundo no qual vive.
2. Filosofia e
antifilosofia: diálogo e antidiálogo
A filosofia nasce
como diálogo de pensantes e é "comunicativa" pelo logos. O
diálogo é uma descoberta dos filósofos Parmênides, Sócrates, Platão, descoberta
recolocada e renovada pelos filósofos de cada época, e não pelos sofistas
Protágoras, Górgias, Trasímaco, de ontem e de sempre, os quais, "amantes
da opinião" ou filodoxos, e não amantes do logos, são a antifilosofia e o
antidiálogo. O autor esclarece que usa sofista e sofística para indicar aquela
posição que, negando o princípio da verdade, o substitui pelo doxa. Daí,
"falsa filosofia" e "filosofia do erro".
Platão é, tout
court, o filósofo do diálogo, da filosofia enquanto diálogo da verdade.
Há somente a
sensação prazerosa para quem a sente como tal, a opinião a qual se deve
aparência de verdadeiro sem que algum verdadeiro "compareça". Assim
procedem os sofistas de cada época, os destruidores do ser e, com ele, do
logos, do princípio da objetividade, lume da razão.
Há, também, os
"clássicos da doxa" ou da antifilosofia, Górgias e Montaigne, Hume e
Kant, Protágoras e Locke e Marx e mais outros mil: somente a antifilosofia os
induz a revolver o logos próprio do homem e o Logos que é Deus fazendo-os ceder
à "tentação" ratio-vitalística do mundano e, por isso, da opinião
multíplice.
O diálogo logos-doxa,
repito, é interior à filosofia, que é tal quando, de uma perspectiva qualquer
que seja, sabe mantê-lo à altura do primeiro; do contrário, torna-se
"debate" contra o próprio logos, a partir de regiões inferiores da
doxa, o que significa perder a validez da opinião e da verdade, se tudo isso
está fora do filosofar, fazendo-se então bem outra coisa.
3.
Antifilosofia e práxis política. Critério teorético e regras práticas
Os sofistas
preparavam para a carreira política e para o exercício de cargos públicos.
Segue-se que existe somente a vida num mundo de opiniões, e que devemos nos
ocupar dela a fim de realizar todas as nossas possibilidades.
Negado o momento
filosófico ou teorético, não é mais possível a filosofia da moral, da
sociedade, do direito; morta a verdade, prospera apenas a opinião. Não se
ensina sair ao sol, mas viver na obscuridade da caverna.
O resultado é a
atrofia do espírito e o término de todo o valor, inclusive o econômico,
reduzido a valor meramente hedonístico-econômico, em relação ao qual os outros
são instrumentalizados, e, por isso, é causa de conflitos e de lutas,
alimentados pelo ódio e pela ânsia de dominação.
Reduzido o
pensamento à opinião, à práxis político-econômica. Daí resultam: a) a desordem
camuflada sob o falso ouro da programação...; b) tudo se politiza ao nível de
uma política que admite somente a doxa e tem sempre, na ponta da língua, o
pântano econômico.
4. Sistema de
erro e sistema de verdade
Chamamos filodoxia
ou sofística ou sistema de erro, oposto ao sistema de verdade, ou
filosofia do ser, a qual assume como seu objeto interno e ponto de
partida o princípio da inteligibilidade, a verdade primeira.
5. Rosmini
crítico da antifilosofia
A luta radical
contra a sofística em defesa da forma ou do princípio do pensar. Combater os
erros dos sofistas modernos. Sofisma. Aquilo que é aparentemente verdadeiro e
substancialmente falso.
Das idades
"quase consagradas ao erro", uma é o século XVIII, na qual os
sofistas ocuparam o reino das opiniões: O livro de John Locke (1690) foi o
sinal do começo deste novo período de vulgaríssimas e também eficacíssimas
falácias.
O filósofo deve
examinar "todos os assentimentos mais ou menos gratuitos", distinguir
"os que se dedicaram ao verdadeiro dos que se dedicaram ao falso" de
modo a eliminar os erros que produziram.
Certamente, a
persuasão imediata que procede da vontade é necessária ao homem e o ajuda, na
ação, mais do que o próprio raciocínio demonstrativo; todavia, os que constroem
sobre preconceitos, presunções e prevenções são sofistas superficiais e
dogmáticos.
Ao contrário, a
Verdade em pessoa nos disse com a própria boca: "O meu jugo é suave, o meu
fardo é leve". Portanto, há um fardo e um jugo: ou servos do pecado, ou
servos da justiça.
Lição
Segunda — Progresso da Verdade e "Diálogo"
1. A
"forma dialética" como progresso da verdade e do erro
Quando a verdade e
os "erros antigos", novamente propostos vestidos de novos conceitos,
"se enfrentam com nova linguagem", "o homem volta a ser tentado
e facilmente seduzido como se aqueles erros fossem insinuados pela primeira vez,
e que os sofismas não tivessem jamais sido dissipados.
De um erro elevado
a princípio nascem novos erros a ele redutíveis, ainda que nem sempre se tenha
consciência de tal derivação. Assim, o homem tende mais ao erro mascarado, ao
sofisma, porque este melhor corresponde à sua inclinação ao mal.
Para Rosmini,
portanto, o erro vence quando o sistema da verdade é repetido numa forma
ultrapassada e estagnada, isto é, quando não nos preocupamos em lhe dar uma
nova forma dialética e nos municiar de armas adequadas.
E sapere significa
"o que tem sabor" e "que tem gosto" ou sente o sabor;
apenas a verdade é saborosa e somente quem tem esse gosto é filósofo, sendo a
"sabedoria" o vértice de fineza ou de perfeição integral.
2. Necessidade
do repensamento do sistema da verdade e crítica da sua esterilização ou da sua
rejeição
A esta altura,
antes de continuar, proponho com Platão: "Se há um caso em que se dever
ter a coragem de dizer a verdade, isso se dá sobretudo quando se fala de
verdade".
Mas os
aristotélicos-tomistas são diligentes em condenar o catolicismo Galileu que
jamais pôs em dúvida as verdades de fé e o ser como princípio ou forma do
saber, ainda que ridicularizasse sem piedade os "escravos" de
Aristóteles: tomistas, averroístas e alexandristas, unidos circunstancialmente
a fim de silenciá-lo.
O século XVII foi
uma das idades que Rosmini define "quase consagradas ao erro".
Se é verdade que
"não nascemos filósofos, mas nos tornamos filósofos, e quem acha que já o
é deixou de sê-lo", é preciso concluir que os tomistas, por mais de seis
séculos, convencidos de serem filósofos, não pensaram em se fazer filósofos...
Pretendendo defender o velho, adulteravam o essencial, pecando, assim, duas
vezes: por tradicionalismo e modernismo.
É aqui, como afirma
Rosmini, que surge a necessidade da coragem e audácia filosófica,
da "boa coragem que liberta a filosofia de inúteis restrições e injustos
vínculos, e ela nasce na mente de quem filosofa movido pelo amor à verdade".
3. Os termos
do diálogo entre filosofia e antifilosofia
Não vale a pena
dizer que cada sistema contém uma verdade.
Aqui podem ser
reencontrados os "termos" do diálogo — ou seja, em que sentido e
dentro de quais limites ele é possível — entre o sistema da verdade ou
filosofia e o sistema do erro ou filodoxia, isto é, entre as filosofias que
"elevam" o princípio verdadeiro com todas as suas consequências e as
outras, as antifilosofias, que elevam algo a particular, ou toda a zona da
experiência sensível-racional com todas as consequências.
Um diálogo
estabelecido, mediante concessões recíprocas, como tática de aproximação entre
a verdade e o erro já está decidido, ao ponto de partida, em favor do erro, não
por fraqueza da verdade, mas porque o dialogante por parte da verdade, no
momento em que cede a essa tática, já passou ao outro campo, com armas e
bagagens sofísticas.
Em suma, uma das
duas: o sistema do erro aceita que há uma verdade primeira e, nesse caso,
recusa a si mesmo; ou permanece firme no seu princípio negativo e assim o
diálogo pode se colocar apenas como guerra ao sistema sem que nos preocupemos
em perder o sistema verdadeiro que antifilosoficamente contém.
Há um só diálogo: o
da verdade e com a verdade, levando em conta a doxa para trazer-lhe verdade, e
em luta com a filosofia, que faz também perder a positividade da doxa.
4. A falsa
"reverência ao espírito humano" e a "tolerância" mal
respondida
Nos tempos de
Rosmini, e ainda hoje, objetava-se o seguinte: é preciso respeitar todas as
ideias e todos os sistemas por "reverência ao espírito humano". De
tanto respeitar o espírito humano, tem-se reverência pelo erro que o faz
escravo.
E a tolerância,
mágica palavra dos filodoxos, onde será colocada? Onde lhe compete —
impedindo-lhe de meter-se sofisticamente onde não deve estar —, se está fora do
lugar, vamos pô-la no lugar. A tolerância é uma virtude preciosa, mas uma
virtude que se exercita para com as pessoas, e não para com os sistemas, e
justamente porque é uma virtude, é um hábito da vontade humana, não uma
ciência. Quem desconhece que a tolerância é uma lei impossível de ser praticada
pela mente? Que a mente, por sua natureza, é sempre intolerante, e se a mente
pudesse tolerar a contradição e o erro por ela conhecido, realizaria com isso
uma tal negação a si mesma que se anularia.
Com efeito, não há
discurso algum se não há verdade, a qual, enquanto tal, é "maximamente
intolerante".
Pelo caminho da
tolerância, portanto, não é possível a conciliação dos sistemas filosóficos, e
é contraditório que o sistema de verdade faça concessão ao sistema do erro.
A tolerância pode
ser exercitada apenas a respeito de pessoas e opiniões; quem erra, sim, dever
ser "tolerado" com toda plenitude. Mas isso já é caridade.
5. Ainda dos
termos do diálogo verdade-erro
A mente é
intolerante para com o erro e a vontade caridosa com quem erra.
Abandonar a
política à filodoxia é aceitar que esta domine em todos os planos, ainda que,
contraditoriamente, se negue tal extensão, é, enfim, optar pela antifilosofia.
O sistema de erro
tem sua lógica interna, ou seja, substituir a hora da missa por aquela dedicada
à leitura dos jornais.
6. O diálogo
proibido
O problema é
colocado num só sentido: o convite insistente feito à Igreja, por alguns clergyman,
escritores improvisados, para que ela se abra à modernidade.
O novo Paraíso
progressista, o gozo do novo Adão-Robô, a árvore do bem-estar, a vanglória da
civilização da produção e dos consumos, as insígnias da técnica e dos
tecnocratas.
"Não é mais a
verdade que nos faz livres, mas é a liberdade que nos assegura a coexistência
das verdades", de onde "as verdades", quer dizer, "as
opiniões", e a liberdade é apenas aquela do poder fazer.
No fundo desses ou
de outros equívocos há uma espécie de logofobia, produto da filodoxia que conquistou
não poucos políticos e intelectuais católicos, empenhados em pregar, competindo
com o mais aceso pragmatismo progressista e perfeccionista.
7. Verdade e
eficácia
A logofobia é a
consequência de um aut-aut que não tem razão alguma de se pôr: ou a verdade,
ou a eficácia.
A verdade "não
serve", como ensinaram Platão e Aristóteles, porque não está a serviço de
nada e tudo está ao seu serviço.
A verdade "dá
à luz ódio" e perseguição, como disse Platão, por experiência pessoal e
também pela perseguição suportada por Sócrates, no V da República.
E a terceira das
Máximas de perfeição nos serve de conselho e conforto: "Permanecer em
perfeita tranquilidade acerca de tudo o que acontece por divina disposição, não
só no que diz respeito a si, mas também no que diz respeito à Igreja de Jesus
Cristo, agindo em prol dela segundo o divino chamado".
Lição
Terceira — A Filodoxia e suas Consequências. O Objeto da Filosofia e o Saber na
sua ordem
1. A filodoxia
sensístico-empirista e suas consequências
Das filosofias do
erro, as mais distantes do sistema da verdade, isto é, as de natureza sensista,
empirística, positivista, sociologista, materialista ou negam de início o
princípio veritativo, ou imaginam fazê-lo nascer alquímica e astrologicamente
da sensação das coisas.
Também os anos que
estamos vivendo são "quase consagrados ao erro", o qual se vestiu de
novas formas dialéticas (neopositivismo, neoempirismo, neoiluminismo etc.)
O nó solfístico deve
ser cortado pela raiz: a verdade não se apreende com os sentidos; uma coisa são
os sentidos, outra é o intelecto; o homem é também intelecto e a verdade é
intelectiva. Santo Tomás nos ilumina sobre a diferença entre intelecto e
sentidos:
a) o sentido se
encontra em todos os animais. Com exceção do homem, os outros animais não
possuem intelecto;
b) o sentido não
pode conhecer senão os singulares; o intelecto foi feito para conhecer os
universais;
c) o conhecimento
do sentido está limitado às coisas corpóreas; o intelecto conhece também as
coisas incorpóreas;
d) nenhum sentido
conhece a si mesmo nem a própria operação: o olho, com efeito, não vê a si
mesmo, nem vê que vê; o intelecto, porém, conhece a si mesmo e conhece a
própria intelecção;
e) o sentido é
diminuído pela intensidade do próprio objeto. Porém, o intelecto não é
diminuído pela intensidade ou excelência do objeto inteligível; antes, quem
entende as verdades maiores pode melhor entender as menores. (Cf. Summa
contra Gentiles, livro II, c. LXVI)
Inevitáveis
consequências: as paixões e o ignóbil cálculo dos interesses materiais se
tornaram o único conselheiro, o único mestre das mentes; estas, por sua vez,
abertas a todas as prevenções, dispostas a dar prontamente o seu assentimento às
sentenças mais extravagantes.
O sapiens,
que age segundo a verdade, é menosprezado; o insipiens, por outro lado,
prospera.
Não basta
demonstrar que uma doutrina é falsa. A tarefa do filósofo é pensar a doutrina
verdadeira. A filosofia é a "busca" perene da verdade infinita.
2. A verdade
primeira do ser: objeto da filosofia, princípio de inteligibilidade do real e
fundamento de todo saber
A razão e o
raciocínio sozinhos são insuficientes para fundar o saber humano; seu
fundamento é o logos ou o princípio verdadeiro, o ser como Ideia.
"A razão é
própria do homem; o sentir é comum com os animais e o vegetar com as plantas,
mas o ser é comum a todas as coisas".
O discurso de
natureza sensista, empirista ou aquelas que de algum modo prescindem do
princípio da verdade, não é discurso filosófico, pois não é discurso algum.
O sensível não é
luz do alto, não é luz alguma, e será cego se não estiver referido à Ideia, que
o torna inteligível e não somente racional.
Santo Tomás define
a metafísica como a ciência das causas primeiras ou filosofia primeira, ciência
dos princípios universais que os sentidos não podem conhecer.
3. O saber no
seu princípio, nos seus graus e na sua ordem
A imagem da
pirâmide pode representar o saber humano enquanto está disposta e ordenada
cientificamente: a base, "exageradamente grande", é formada por
inumeráveis verdades particulares; acima delas, há uma outra série constituída
por uma ordem de verdades universais... cada um deles contendo menor número de
verdades, mas de universalidade sempre maior, até que, chegando ao cume, o
número mesmo desaparece na unidade e a potência da universalidade é máxima e
infinita.
A ordem superior
das verdades contém e gera as de ordem inferior, e a primeira verdade, o ser,
contém e gera todo o sistema, o saber sempre aberto a novos acréscimos por
processo intrínseco.
Lição
Quarta — Perspectiva de Solução do Problema da Doxa no Sistema da Verdade
1. Os dois
postulados da filosofia
A filosofia é a
reflexão com a qual o homem se pergunta, implícita ou explicitamente, quais são
as razões últimas de todo o saber e "as razões últimas são as
respostas satisfatórias que (ele) dá aos últimos porquês com os quais a
sua mente interroga a si mesma".
O primeiro é o ato
de intuição, que precede a reflexão. O segundo é o sujeito homem.
2. Caráter
noético do princípio fundante e caráter dianoético do real
3. A
recuperação da doxa no logos e a perspectiva de solução de seu conflito
4. O sistema
da verdade como fundamento da Revelação
Lição
Quinta — Tradição e Progresso
1.
Tradicionalismo conservador e revolucionarismo futurista
Os desacordos entre
os homens não se desencadeiam em torno de números, porque basta contar, nem
sobre aquilo que se pode medir e pesar, mas, sim, sobre o verdadeiro e o falso,
o justo e o injusto, o belo e o feio. Filosofar é o contínuo discurso crítico e
problemático sobre aquilo que não se conta, pesa e mede, é o salto qualitativo
do pensamento.
O filosofar coloca
em "crise" as filosofias preexistentes, submete-as a
"juízo" numa dupla direção: a da "separação" daquilo que há
de caduco daquilo que contém de perene e do "repensamento" deste
último à luz de novas verdades de modo que todo o sistema seja renovado e
inovado.
Conservadorismo dos
falsos guardiães da tradição, cantineiros que guardam garrafas de cem anos, mas
sem "sabor". Futurista que querem mudar tudo sem nexo algum.
Progresso na
tradição e tradição no progresso; o novo que não renega o passado, e
dele tira alimento, as verdades adquiridas e aprofundadas do sistema. A verdade
não é um produto histórico, mas mãe da história, que não é história da verdade,
mas, antes, história do seu conhecimento.
2.
"Conciliação das sentenças" e "pluralismo filosófico"
"Conciliação
das sentenças": "A verdade se concilia sempre com a verdade, o erro
se concilia raras vezes consigo mesmo e jamais com a verdade... A verdade..,
eis o único ponto possível de conciliação".
Daí se segue que
"entre os sistemas verdadeiros... a conciliação é possível e maximamente
desejável", desde que se obedeçam a certas normas:
a) Vigiar para não
cair na injustiça de excluir algo verdadeiro como sendo falso...;
b) Distinguir a
verdade das várias formas das quais se veste...;
c) Interpretar de
modo benigno as sentenças, embora por vezes expressas de modo imperfeito...
Sobre a verdade não
se pode colocar a questão de confiança; por essência, a verdade não se submete
ao voto da maioria.
3. Em que
sentido a Igreja pode andar ao encontro do mundo moderno
A Igreja deve
preservar a pureza de Cristo
São Paulo, 2
Timóteo 4,2-7 encerra o livro. "Que pregues a palavra, instes a tempo e
fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e
doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo
comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias
concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas
tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre
o teu ministério. Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de
sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate,
acabei a carreira, guardei a fé".
São Paulo, junho de
2017.
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