06 outubro 2025

Heráclito e seu (Dis)curso (Notas de Livro)

TítuloHeráclito e seu (Dis)curso

Autor: Donaldo Schüler

Porto Alegre: L&PM, 2000.

Aforismos e constelações

Não apagamos as marcas do lugar em que estamos. Nossa situação no tempo e no espaço faz a diferença. Ao definir conferimos. A diferença faz-nos falar.

Capítulo 1 — O Discurso no Discursos

O apego indevido a discursos retarda o acesso ao Discurso. Há discursos que prendem, fecham a passagem a outros discursos. O pensador afronta as couraças para surpreender o que elas encobrem. 

Logos designa muitas coisas. Homero emprega o verbo lego, da mesma raiz de logos, para o processo de recolher alimentos, armas e ossos, para reunir homens. Cada uma dessas operações implica comportamento criterioso; não se reúnem armas, por exemplo, sem as distinguir de outros objetos. Logos, na realidade, significa uma reunião de coisas sob determinado critério. 

Sem logos não há discurso; há, quando muito, amontoado caótico de palavras. 

Idiota é quem não sai de si. Age como se nada lhe fosse dado, como se os outros só existissem para servi-lo. O homem deixa de ser idiota quando sai de si e constata que há coisas que não dependem dele, que há outros eus com direitos iguais aos dele, que ele não existe só, que ele se faz com eles. 

quem sai da idiotice entra no discurso. Pensar é viver no discurso: dizer e escutar. O discurso reúne. 

O estranhamento é o princípio do saber. Quem  tem olhos para o estranho sabe. 

Nada se ouve sem decisão de ouvir. Ficar atento a discursos sedutores é cômodo. Perceber os movimentos do Discurso, que age no silêncio, no espaço que se interpõe entre as palavras, que atua no conflito, que reúne — requer energia de despertos. Sendo invisível, ele se dirige aos ouvidos. 

Todo saber, contudo, está mesclado de não-saber. Se ignorássemos inteiramente o que buscamos, como nos poríamos a caminho? 

Os discursos nunca são o Discurso. 

O imbecil ama excitar-se por qualquer discurso 

Fontes de excitação: o timbre da voz, a harmonia dos gestos, o brilho dos olhos, a agilidade da argumentação, o ritmo das frases... Seduzidos, partem sem norte. 

Nas cidades que se democratizam a palavra fulgura como uma arma, não raro perigosa. A retórica inventada para persuadir, busca influir, mesmo com o sacrifício dos fatos. Se o discurso se elava para abrilhantar o orador, bloqueado está o caminho da verdade. 

Pleno não significa terminado. Pleno é o Discurso robusto e amplo, o que traz à luz e se expande em associações que fluem e refluem em novas vagas de sentido. 

Capítulo 2 — O Transcurso dos Signos

O filósofo de Éfeso procura demonstrar o descompasso entre o discurso e os objetos sobre os quais o discurso discorre. Aberta a distância entre palavras e coisas, é-lhe possível examinar as possibilidades e as limitações da fala. 

Heráclito empreende percurso inverso ao do mito. 

A duplicidade heraclitiana decepciona quem procura em nomes conceitos precisos, signos para se comentar, para evitar riscos. A incerteza desperta os que tinham acomodado num sistema linguístico acreditado por muitas gerações devotas. 

Se a justiça não é deusa, qual é a origem de tais causas (atos justos e injustos), que dela derivam? Primeiro houve a infração. A ideia de justiça veio depois para puni-la. 

A sinonímia preocupou os gregos desde Homero. Se a linguagem é um instrumento exato, um mesmo referente comporta um só nome. Na opinião de Heráclito, como toda a linguagem é humana, inventada, ao que tudo indica, por homens quaisquer, o legado deve ser cuidadosamente examinado. 

Heráclito estranha a sinonímia. Por que o mesmo objeto tem mais de um nome?

Capítulo 3 — Um Lance de Dados no Discurso-rio

Capítulo 4 — Concurso de Contrários

Capítulo 5 — Recursos do Corpo

Capítulo 6 — Os que (Dis)correm

Capítulo 7 — O Saber em Curso

Capítulo 8 — Riscos de Percurso

Capítulo 9 — O (Dis)curso da Morte

Capítulo 10 — O Discurso do Universo

Capítulo 11 — Discorrer

 

Nenhum comentário: