Título: Heráclito e seu (Dis)curso
Autor: Donaldo Schüler
Porto Alegre:
L&PM, 2000.
Aforismos e constelações
Não apagamos as
marcas do lugar em que estamos. Nossa situação no tempo e no espaço faz a
diferença. Ao definir conferimos. A diferença faz-nos falar.
Capítulo 1 — O Discurso no Discursos
O apego indevido a discursos retarda o acesso ao Discurso. Há discursos que prendem, fecham a passagem a outros discursos. O pensador afronta as couraças para surpreender o que elas encobrem.
Logos designa muitas coisas. Homero emprega o verbo lego, da mesma
raiz de logos, para o processo de recolher alimentos, armas e
ossos, para reunir homens. Cada uma dessas operações implica comportamento
criterioso; não se reúnem armas, por exemplo, sem as distinguir de outros objetos.
Logos, na realidade, significa uma reunião de coisas sob determinado
critério.
Sem logos não há
discurso; há, quando muito, amontoado caótico de palavras.
Idiota é quem não
sai de si. Age como se nada lhe fosse dado, como se os outros só existissem para
servi-lo. O homem deixa de ser idiota quando sai de si e constata que há coisas
que não dependem dele, que há outros eus com direitos iguais aos dele, que ele
não existe só, que ele se faz com eles.
quem sai da
idiotice entra no discurso. Pensar é viver no discurso: dizer e escutar. O
discurso reúne.
O estranhamento é o
princípio do saber. Quem tem olhos para o estranho sabe.
Nada se ouve sem
decisão de ouvir. Ficar atento a discursos sedutores é cômodo. Perceber os
movimentos do Discurso, que age no silêncio, no espaço que se interpõe entre as
palavras, que atua no conflito, que reúne — requer energia de despertos.
Sendo invisível, ele se dirige aos ouvidos.
Todo saber,
contudo, está mesclado de não-saber. Se ignorássemos inteiramente o que buscamos,
como nos poríamos a caminho?
Os discursos nunca
são o Discurso.
O imbecil ama
excitar-se por qualquer discurso
Fontes de
excitação: o timbre da voz, a harmonia dos gestos, o brilho dos olhos, a
agilidade da argumentação, o ritmo das frases... Seduzidos, partem sem
norte.
Nas cidades que se
democratizam a palavra fulgura como uma arma, não raro perigosa. A retórica
inventada para persuadir, busca influir, mesmo com o sacrifício dos fatos. Se o
discurso se elava para abrilhantar o orador, bloqueado está o caminho da
verdade.
Pleno não significa
terminado. Pleno é o Discurso robusto e amplo, o que traz à luz e se expande em
associações que fluem e refluem em novas vagas de sentido.
Capítulo 2 — O Transcurso dos Signos
O filósofo de Éfeso
procura demonstrar o descompasso entre o discurso e os objetos sobre os quais o
discurso discorre. Aberta a distância entre palavras e coisas, é-lhe possível
examinar as possibilidades e as limitações da fala.
Heráclito empreende
percurso inverso ao do mito.
A duplicidade
heraclitiana decepciona quem procura em nomes conceitos precisos, signos para
se comentar, para evitar riscos. A incerteza desperta os que tinham acomodado
num sistema linguístico acreditado por muitas gerações devotas.
Se a justiça não é
deusa, qual é a origem de tais causas (atos justos e injustos), que dela
derivam? Primeiro houve a infração. A ideia de justiça veio depois para
puni-la.
A sinonímia
preocupou os gregos desde Homero. Se a linguagem é um instrumento exato, um
mesmo referente comporta um só nome. Na opinião de Heráclito, como toda a
linguagem é humana, inventada, ao que tudo indica, por homens quaisquer, o
legado deve ser cuidadosamente examinado.
Heráclito estranha
a sinonímia. Por que o mesmo objeto tem mais de um nome?
Capítulo 3 — Um
Lance de Dados no Discurso-rio
Capítulo 4 —
Concurso de Contrários
Capítulo 5 —
Recursos do Corpo
Capítulo 6 — Os que
(Dis)correm
Capítulo 7 — O
Saber em Curso
Capítulo 8 — Riscos
de Percurso
Capítulo 9 — O
(Dis)curso da Morte
Capítulo 10 — O
Discurso do Universo
Capítulo 11 —
Discorrer
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