16 outubro 2025

Sobre o que nos Perguntam os Grandes Filósofos - Vol. 1 (Notas de Livro)

Título: Sobre o que nos Perguntam os Grandes Filósofos

Autor: Leszek Kolakowski

Tradução: Tomasz Lychowski

KOLAKOWSKI, Leszek. Sobre o que nos Perguntam os Grandes Filósofos vol.1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009

O autor pretende extrair de cada filósofo uma espécie de pilar, no sentido de despertar algo em nossa mente, que não seja apenas uma informação histórica.

Sócrates (469-399 a.C.)

Eis a pergunta que resulta de um culto à Razão: Sócrates afirma que é impossível que façamos intencionalmente algo que saibamos ser mau; se o fazemos, isso resulta de nosso não saber, quando sabemos o que é bom, fazemos o bem.

Refletir: para Sócrates, o mal que fazemos tem como origem a nossa ignorância; que a nossa pobre Razão é incapaz de distinguir o mal do bem.

Parmênides (c.540-470 a.C.)

O que é real? Perguntemos, por exemplo, se os nossos sonhos ou as alucinações acidentais dos sentidos são reais.

Seria eu real, seria você real? Baseado em quer regras uns dizem que Deus é real, e outros o negam?

Heráclito de Éfeso (c.540-480 a.C.)

Alguém que confia em Deus numa percepção cristã poderia descrever o universo dentro dessa visão divina? Deus conhece todo o mal de seus súditos humanos, conhece a injustiça e a feiura de suas ações; o que significaria então que aos seus olhos tudo seja belo, bem e justo?

Platão (c.427-347 a.C.)

Podemos viver racionalmente, acreditando que no mundo não há nada a não ser diversos objetos e que, de modo particular, não existe algo como o invisível, porém acessível à razão, reino dos seres matemáticos.

Aristóteles (384-322 a.C.)

Seria possível, à moda de Aristóteles, definir a “felicidade” através do comportamento e das disposições morais ativas, _____-se as chamadas circunstâncias subjetivas.

Sobre o caminho do meio-termo. Ocorre de fato, assim, que aqueles que se entregam aos extremos são sempre merecedores de repreensão, além de serem infelizes? Se alguém tem o prazer de ser pródigo, será ele digno de reprovação? Será que provoca a sua própria infelicidade? Alguém, por exemplo, que aprecia e pratica esportes perigosos e com isso põe em risco a própria vida merece forçosamente o nossa reprovação se isso lhe enriquece a vida?

Epicteto de Hierapolis (55 d.C.-135 d.C.)

As emoções ordinárias, inclusive a compaixão, a ternura, a tristeza e a alegria, não seriam, pois, o testamento da nossa vida na multiplicidade do verdadeiro mundo, mas antes simplesmente a prova de nossa imaturidade e de nossa ignorância? E por que aceitar que essa vida estoica esteja de acordo com a natureza, já que a natureza nos fez de forma totalmente contrária e que o perfeito estoico se nos afigura uma raridade, na realidade, um ser estranho?

Sexto Empírico (século II d.C.)

É válido o argumento de que não existe um critério da verdade, pois, para defini-lo, precisamos de outro critério da verdade, e assim infinitamente.

Haveria a física moderna com todas as suas aplicações práticas se não tivesse sido antecedida pela física especulativa, a qual Sexto acusava de ser estéril, fantasiosa e infundada?

Será que o cético frauda suas convicções quando proclama a doutrina do ceticismo? Não deveria ele antes silenciar, se pretende ser consequente?

Santo Agostinho (354-430) 

Partindo do princípio de que tudo o que fizermos, tendo por origem a nossa vontade é mau, e o bem que fazemos o fazemos devido à irresistível graça divina, poderemos sustentar, sem cair em contradição, a ideia do livre-arbítrio? Aquele que acredita Deus não é apenas o soberano absoluto da existência, mas que, além disso, escolhe entre seus súditos humanos aqueles que irão para o céu, deixando os outros à mercê de sua própria corrupção, e que essa escolha não tem nada a ver com os méritos dos escolhidos, como pode, pois, aquele que nisso acredita também acreditar, sem que haja contradição, que existe justiça divina?

Aquilo que é e deve ser existe; aquilo que é, mas não deve ser, não possui existência assim parece ser, afirma Agostinho falando da negatividade do mal. Existem, portanto, o bem e a coisa boa; existe também a coisa corrompida, porém a corrupção em si não tem existência.

Santo Anselmo (1033-1109)

Deus é misericordioso e tem pena dos pecadores. Todavia Deus é imutável e não se emociona, como podemos então imaginá-lo misericordioso? De modo semelhante, Deus é justo; como pode, então, poupar alguns pecadores e punir outros, aqueles com  base em sua misericórdia, estes segundo a justiça, se o mal de uns e de outros é semelhante?

E, por fim, a pergunta mais geral, que Anselmo não formula dessa maneira, mas que, inexoravelmente, resulta de seus escritos. Essa pergunta é sugerida por sua famosa afirmação: "Não quero entender para crer, mas creio para entender." Trata-se do seguinte: embora Anselmo tivesse investido tanto esforço para racionalizar a fé cristã, ele não a subordinou à validade de seu raciocínio, mas afirma de forma categórica que a fé a tudo precede. É-nos permitido perguntar então: seria insensato acreditar em Deus, sabendo que não há provas válidas de sua presença, provas que passariam num teste científico? E o que, nesse caso, significaria “insensato"?

Mestre Eckhart (1260-1328)

Tentaremos anotar algumas das questões que Eckhart nos coloca, levando em conta, todavia, elas devem ser feitas a partir de uma perspectiva cristã, do contrário tais perguntas poderiam parecer incompreensíveis. Partindo do pressuposto de que Deus é o criador de tudo, ou seja, tudo que existe está presente, eterna e sempiternamente, no pensamento divino, inclusive o tempo, como podemos conceber que o universo teve seu início no tempo? E, de forma mais geral, seria válido afirmar que o que existe no pensamento divino é menos real do que aquilo que conhecemos no nosso universo?

A segunda pergunta é a seguinte: tendo em vista que em tudo o que fazemos, bom ou mau, na virtude ou no pecado, brilha e transparece a glória de Deus, e a nossa vocação consiste em contribuirmos e em nos esforçarmos para essa glória de Deus, por que então deveríamos fazer o bem e não o mal, por que deveríamos evitar o pecado?

 

 

 

 

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