Autor: Leszek
Kolakowski
Tradução: Tomasz
Lychowski
KOLAKOWSKI, Leszek.
Sobre o que nos Perguntam os Grandes
Filósofos vol.1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009
O autor pretende
extrair de cada filósofo uma espécie de pilar, no sentido de despertar algo em
nossa mente, que não seja apenas uma informação histórica.
Sócrates (469-399
a.C.)
Eis a pergunta que
resulta de um culto à Razão: Sócrates afirma que é impossível que façamos intencionalmente
algo que saibamos ser mau; se o fazemos, isso resulta de nosso não saber, quando
sabemos o que é bom, fazemos o bem.
Refletir: para Sócrates, o mal que fazemos tem como origem a nossa ignorância; que a nossa pobre Razão é incapaz de distinguir o mal do bem.
Parmênides
(c.540-470 a.C.)
O que é real?
Perguntemos, por exemplo, se os nossos sonhos ou as alucinações acidentais dos sentidos
são reais.
Seria eu real,
seria você real? Baseado em quer regras uns dizem que Deus é real, e outros o
negam?
Heráclito de Éfeso (c.540-480
a.C.)
Alguém que confia
em Deus numa percepção cristã poderia descrever o universo dentro dessa visão
divina? Deus conhece todo o mal de seus súditos humanos, conhece a injustiça e
a feiura de suas ações; o que significaria então que aos seus olhos tudo seja
belo, bem e justo?
Platão (c.427-347 a.C.)
Podemos viver
racionalmente, acreditando que no mundo não há nada a não ser diversos objetos
e que, de modo particular, não existe algo como o invisível, porém acessível à razão,
reino dos seres matemáticos.
Aristóteles (384-322 a.C.)
Seria possível, à
moda de Aristóteles, definir a “felicidade” através do comportamento e das disposições
morais ativas, _____-se as chamadas circunstâncias subjetivas.
Sobre o caminho do
meio-termo. Ocorre de fato, assim, que aqueles que se entregam aos extremos são
sempre merecedores de repreensão, além de serem infelizes? Se alguém tem o
prazer de ser pródigo, será ele digno de reprovação? Será que provoca a sua própria
infelicidade? Alguém, por exemplo, que aprecia e pratica esportes perigosos e
com isso põe em risco a própria vida merece forçosamente o nossa reprovação se
isso lhe enriquece a vida?
Epicteto de Hierapolis (55 d.C.-135 d.C.)
As emoções ordinárias,
inclusive a compaixão, a ternura, a tristeza e a alegria, não seriam, pois, o testamento
da nossa vida na multiplicidade do verdadeiro mundo, mas antes simplesmente a
prova de nossa imaturidade e de nossa ignorância? E por que aceitar que essa
vida estoica esteja de acordo com a natureza, já que a natureza nos fez de
forma totalmente contrária e que o perfeito estoico se nos afigura uma
raridade, na realidade, um ser estranho?
Sexto Empírico (século II d.C.)
É válido o
argumento de que não existe um critério da verdade, pois, para defini-lo,
precisamos de outro critério da verdade, e assim infinitamente.
Haveria a física
moderna com todas as suas aplicações práticas se não tivesse sido antecedida pela
física especulativa, a qual Sexto acusava de ser estéril, fantasiosa e
infundada?
Será que o cético
frauda suas convicções quando proclama a doutrina do ceticismo? Não deveria ele
antes silenciar, se pretende ser consequente?
Santo Agostinho (354-430)
Partindo do princípio de que tudo o que fizermos,
tendo por origem a nossa vontade é mau, e o bem que fazemos o fazemos devido à
irresistível graça divina, poderemos sustentar, sem cair em contradição, a
ideia do livre-arbítrio? Aquele que acredita Deus não é apenas o soberano
absoluto da existência, mas que, além disso, escolhe entre seus súditos humanos
aqueles que irão para o céu, deixando os outros à mercê de sua própria
corrupção, e que essa escolha não tem nada a ver com os méritos dos escolhidos,
como pode, pois, aquele que nisso acredita também acreditar, sem que haja
contradição, que existe justiça divina?
Aquilo que é e deve ser existe; aquilo que é, mas
não deve ser, não possui existência assim parece ser, afirma Agostinho falando da
negatividade do mal. Existem, portanto, o bem e a coisa boa; existe também a
coisa corrompida, porém a corrupção em si não tem existência.
Santo Anselmo (1033-1109)
Deus é misericordioso e tem pena dos pecadores.
Todavia Deus é imutável e não se emociona, como podemos então imaginá-lo
misericordioso? De modo semelhante, Deus é justo; como pode, então, poupar
alguns pecadores e punir outros, aqueles com base em sua misericórdia, estes segundo a justiça, se o mal de uns e de outros é
semelhante?
E, por fim, a pergunta mais geral, que Anselmo não formula
dessa maneira, mas que, inexoravelmente, resulta de seus escritos. Essa
pergunta é sugerida por sua famosa afirmação: "Não quero entender para
crer, mas creio para entender." Trata-se do seguinte: embora Anselmo
tivesse investido tanto esforço para racionalizar a fé cristã, ele não a subordinou
à validade de seu raciocínio, mas afirma de forma categórica que a fé a tudo
precede. É-nos permitido perguntar então: seria insensato acreditar em Deus,
sabendo que não há provas válidas de sua presença, provas que passariam num
teste científico? E o que, nesse caso, significaria “insensato"?
Mestre Eckhart (1260-1328)
Tentaremos anotar algumas das questões que Eckhart
nos coloca, levando em conta, todavia, elas devem ser feitas a partir de uma
perspectiva cristã, do contrário tais perguntas poderiam parecer
incompreensíveis. Partindo do pressuposto de que Deus é o criador de tudo, ou seja, tudo
que existe está presente, eterna e sempiternamente, no pensamento divino,
inclusive o tempo, como podemos conceber que o universo teve seu início no
tempo? E, de forma mais geral, seria válido afirmar que o que existe no pensamento
divino é menos real do que aquilo que conhecemos no nosso universo?
A
segunda pergunta é a seguinte: tendo em vista que em tudo o que fazemos, bom ou
mau, na virtude ou no pecado, brilha e transparece a glória de Deus, e a nossa
vocação consiste em contribuirmos e em nos esforçarmos para essa glória de
Deus, por que então deveríamos fazer o bem e não o mal, por que deveríamos
evitar o pecado?
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