30 setembro 2025

Atlas Básico de Filosofia (Livro)

Título: Atlas Básico de Filosofia

Autor: Hector Leguizamón

Tradução:  Ciro Mioranza

Editora: Escala Educacional, São Paulo, 2007

Conteúdo: Origens da Filosofia — Sócrates — Consciência — Percepção — Memória — Desejo — Paixões — Existência — Morte — Natureza — Cultura — Linguagem — Imaginação — Ilusão — Religião — Vida — Teoria e Experiência — Lógica e Matemática — Razão — Irracional — Sentido — Verdade — Ciência — Técnica — Biologia — História — Ciências Humanas — Trabalho — Economia — Sociedade — Estado — Poder — Violência — Direito — Justiça — Outro — Arte — Responsabilidade — Vontade — Liberdade — Felicidade — Pessoa —  Apêndice: Escolas Filosóficas e Pensadores.

28 setembro 2025

Poder

Quando pensamos no poder, quase sempre nos vem à mente a ideia de poder político ou econômico. É comum entendermos o poder como aquilo que controla a sociedade, algo semelhante ao controle ou à autoridade. No entanto, é mais adequado considerar que o poder está ligado ao que é possível realizar. Visto desse modo, todos nós possuímos algum poder.

O poder do ser humano se manifesta em sua capacidade de agir sobre o mundo. Ele não se limita apenas à ação sobre os outros, mas também sobre as coisas ao seu redor. Nos pequenos atos diários, sempre que temos liberdade de escolha, revelamos formas diversas de poder. Não é o mesmo o poder de um estudante, de uma mãe, de um cientista, de um atleta ou de um artista. Em todos os casos, há uma afirmação de si mesmo ou a expressão da vontade de um grupo.

A razão constitui outro tipo de poder fundamental. É ela que nos permite descobrir a ordem presente na natureza e, ao mesmo tempo, projetar o futuro. Graças à razão, o ser humano é capaz de tomar decisões que conduzem à realização de seus sonhos e que o libertam do simples instinto. Trata-se, portanto, de um poder que amplia nossas possibilidades e nos ajuda a controlar melhor a própria vida.

Entretanto, em uma sociedade organizada por regras, o poder também pode se manifestar como dominação. Nem sempre ele é exercido de maneira justa ou legítima. Muitas vezes, recorre-se à imposição, à violência ou ao abuso de autoridade para alcançar determinados objetivos. Exemplos disso são o chefe que ameaça os trabalhadores, o professor que abusa de sua posição ou o funcionário que nega atendimento por capricho. São formas de usar o poder de maneira arbitrária, reforçando desigualdades e injustiças.

Existe ainda o poder da resistência, chamado contrapoder. Esse não depende de nossa força física ou de nossa posição social, mas da capacidade de limitar ou questionar o poder dos outros. O contrapoder é a presença que não pode ser ignorada, a força que lembra que nem tudo é permitido. Por fim, há o poder legítimo, aquele que se exerce para o bem comum, que aceita ser limitado e que leva em conta os interesses da coletividade. Uma decisão só é justa quando considera os outros, pois o verdadeiro poder é aquele que promove equilíbrio, justiça e responsabilidade social.

Fonte de Consulta

Atlas Básico de Filosofia. Textos de Hector Leguizamón. Tradução de Ciro Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2007. 


  

27 setembro 2025

Lógica e Matemática

As matemáticas são um instrumento essencial para compreender a natureza. Sua relação com o mundo real e com a razão humana ainda é um mistério.

Muitos pensam que as matemáticas e a lógica têm basicamente a mesma origem. Porém, não são a mesma coisa. Na Grécia, Pitagóricos e Aristóteles criaram métodos dedutivos baseados em axiomas. A lógica passou a fundamentar a matemática. Serviu como instrumento para organizar raciocínios. Mostrou que o conhecimento podia ser demonstrado passo a passo. Assim, tornou-se possível fundamentar a matemática.

A palavra “matemática” vem do grego e significava “ciência do aprendizado”. Desenvolveu-se no Egito e na Babilônia e foi dividida em Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. Os árabes transmitiram esse saber à Europa. As figuras de geometria, os números e os cálculos foram os instrumentos fundamentais do desenvolvimento das matemáticas, até que surgiram as equações.

Os princípios matemáticos não são evidentes na natureza. Cada cultura elaborou sua própria matemática Todas, porém, buscaram princípios racionais que explicam os fenômenos. A matemática expressa tanto a razão quanto a realidade mental. Ou seja, esses princípios são o fundamento da razão e expressam uma realidade que está em nossa mente.

A geometria grega mostrou o rigor da dedução. Teoremas eram derivados de axiomas e definições. No entanto, pequenas mudanças neles levam a resultados diferentes, o que limita a dedução pura. Por isso, a matemática é sempre progressiva. Um exemplo: Euclides demonstrou que a soma dos ângulos internos de um triângulo equivale a dois ângulos retos. Mas um ponto central e ao mesmo tempo problemático é a escolha dos axiomas.

A lógica aristotélica era ligada à linguagem comum, ainda muito limitada. Depois evoluiu para uma linguagem simbólica. Isso permitiu uma formalização das demonstrações e uma melhor definição dos processos. Por fim, a lógica formal chegou a influenciar até mesmo a compreensão das proposições lógicas.

Fonte de Consulta

Atlas Básico de Filosofia. Textos de Hector Leguizamón. Tradução de Ciro Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2007. 


Escolas Filosóficas e Pensadores

Escola, movimento ou pensador: Pré-socráticos I / Os milesianos (séc. VII a.C.)
Representantes: Tales, Anaximandro, Anaxímenes
Ideologia ou pensamento: Originários de Mileto, na costa da Ásia Menor, confiavam em uma interpretação racional e materialista do universo. Buscavam os primeiros princípios que o constituíam. Só conservamos fragmentos das obras dos pré-socráticos.

Escola, movimento ou pensador: Pré-socráticos II (séc. V a.C.)
Representantes: Pitágoras, Parmênides, Heráclito
Ideologia ou pensamento: Refletiram sobre nossa forma de entender o mundo, a natureza e o que é o pensamento. Para Pitágoras, os números exprimem a harmonia do universo. Parmênides afirmava que “o ser é uno e é”. Heráclito afirmava que “a verdade é absoluta e mutável” e que “tudo flui” e nada permanece igual.

História da Filosofia: uma Síntese

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Considerações Iniciais. 3. Filosofia Antiga: 3.1. Pré-Socráticos; . 3.2. Período Clássico ou Grego Romano. 4. Filosofia Medieval. 5. Filosofia Moderna. 6. Filosofia Contemporânea. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é sintetizar a história da filosofia, salientando os aspectos relevantes em cada um de seus períodos: filosofia antiga, filosofia medieval, filosofia moderna e filosofia contemporânea.

2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A filosofia difere da ciência, porque necessita da história. Nenhum filósofo começa do zero, mas acrescenta ao que o filósofo precedente já descobriu. Pode-se dizer que a história da filosofia é a soma das contribuições que cada filósofo deu ao quebra-cabeça que é a experiência humana. Vem um filósofo e dá uma solução, e todos aclamam como a melhor; tempo mais tarde, vem outro e dá outra solução para o mesmo problema, e assim sucede no tempo.

23 setembro 2025

Imaginação

A imaginação é a faculdade mental capaz de formar imagens, ideias e conceitos que não estão presentes na realidade imediata. Ela possibilita representar objetos, acontecimentos e relações de modo criativo e construtivo. Embora muitas vezes criticada, é fundamental para o pensamento, pois nos permite inventar mundos possíveis e descobrir novos caminhos — tanto na ciência quanto na vida cotidiana.

Imaginação e pensamento. Desde o início, a imaginação está ligada ao mundo da percepção. Ela contribui para o pensamento ao oferecer imagens inspiradas no sensível. No entanto, esse modo de pensar é mais limitado que o pensamento abstrato, pois pode conter erros: aquilo que imagino nem sempre corresponde ao que percebo na realidade. Assim, o produto da imaginação nem sempre se traduz em um pensamento coerente.

Imaginação e ciência. Quando Nicolau Copérnico ousou imaginar o mundo de outra forma, abriu caminho para novas teorias. Na ciência, a imaginação tem papel essencial: permite formular hipóteses e também conceber experiências capazes de confirmá-las ou refutá-las.

Controle da imaginação. Podemos controlar nossa imaginação? Talvez em parte. No sonho, por exemplo, sentimos uma ausência quase total de controle, e as imagens surgem sem obedecer a nenhuma ordem. Surge, então, a dúvida: a imaginação segue uma lógica própria, incontrolável como nos sonhos, ou representa um espaço de liberdade, como parece ocorrer quando sonhamos acordados?

Utopia e ideal. A utopia — o sonho de um mundo melhor — foi capaz de questionar governos e estruturas sociais ao longo da história. Reduzir a imaginação apenas a uma via de acesso ao irreal é esquecer que ela também pode revelar um ideal e inspirar transformações.

Imaginação e mito. No pensamento mítico, a força da imaginação é evidente. Os mitos nos recordam que, antes de aprender a raciocinar, os seres humanos já sonhavam. E mesmo depois de aprender a pensar, continuamos a sonhar. As construções imaginárias fazem parte de toda cultura e ajudam a defini-la tanto quanto suas realizações concretas.

Fonte de Consulta

Atlas Básico de Filosofia. Textos de Hector Leguizamón. Tradução de Ciro Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2007. [Texto melhorado pelo ChatGPT] 

 

21 setembro 2025

Ortodoxia (Resumo de Livro)

O livro Ortodoxia, de Gilbert K. Chesterton, é uma espécie de “autobiografia intelectual”, uma reflexão pessoal. Sua proposta é explicar por que chegou à fé cristã — mais especificamente, ao cristianismo ortodoxo. Seus 9 capítulos são:   — Introdução em Defesa de Tudo o Mais — O Maníaco — O Suicídio do Pensamento — A Ética da Elfolândia — A Bandeira do Mundo — Paradoxos do Cristianismo — A Eterna Revolução — O Romance da Ortodoxia — A Autoridade e o Aventureiro.

Gilbert Keith Chesterton (1874-1936), nascido em Londres, foi escritor, poeta, crítico de arte, jornalista, teólogo... Sua vasta obra, em torno de 80 livros, abarca desde os clássicos de seu pensamento crítico e apologético como Ortodoxia e O Homem Eterno até ficções como O Homem que Foi Quinta-Feiraalém dos muitos livros de seu renomado detetive, Padre Brown.  Sua obra teve considerável influência sobre nomes que vão desde C. S. Lewis até Jorge Luís Borges.

Neste livro, ele: 

Critica tanto o ceticismo moderno quanto o racionalismo fechado. Valoriza a liberdade, e tenta explorar as perguntas fundamentais da vida.

Afirma que o cristianismo é cheio de aparentes contradições, tais como, humildade e ousadia, sofrimento e alegria. Não considera isso como um defeito, mas um sinal de vitalidade, pois evita os extremos destrutivos. 

Observa que a modernidade sofre de “doença mental”, pois perde contato com o senso comum. Acha que o niilismo e o relativismo são perigos que secam a alma.

Esclarece que a fé cristã é uma aventura intelectual e espiritual. É uma redescoberta das coisas sagradas da vida. 

Reconhece que os dogmas não aprisionam, mas permitem ao homem, com o seu livre-arbítrio, agir num espaço seguro, em vez de se perder no vazio.

Faz uma defesa da figura de Cristo, que une os contrários e dá sentido à experiência humana mais responsável. 

Em síntese, apresenta o cristianismo como a resposta mais satisfatória às inquietações humanas. 

 

 

17 setembro 2025

O Jeito Estoico de Viver (Resumo de Livro)

Título do livro: O Jeito Estoico de Viver: Regras Simples para o Cotidiano. William Mulligan. Tradução de Cássia Zanon. São Paulo: Latitude, 2025.

Capítulos do livro: — O que tem de errado com minha vida, afinal? — Aqui estão os princípios básicos — A alegria da felicidade — Literalmente não consigo fazer nada — Se não está quebrado, não se pode consertar — Pelo menos uma coisa é certa — Alguém me entende? — Polegar para cima, polegar para baixo — Você conhece aquela vozinha na sua cabeça — A verdade sobre suas coisas maravilhosas — Coloque seus olhos cor-de-rosa — Não pare de parar.

Sobre o autor: William Mulligan é o fundador do popular The Everyday Stoic. A sua missão é conduzir as pessoas através da vida moderna, seguindo as regras e a sabedoria do estoicismo, que acredita serem valiosas para todos — não apenas para alguns eleitos.

Tema central: O livro propõe trazer o estoicismo — filosofia da Grécia e Roma antigas — para ser aplicado no dia a dia moderno, de forma prática e acessível. Mulligan argumenta que não é necessário tornar-se um estudioso profundo, abandonar a sociedade, ou viver em reclusão para adotar uma vida estoica. Em vez disso, a mudança começa com pequenas práticas, hábitos, e com uma transformação na forma de pensar.

Principais regras expostas:

1) Distinguir o que está ou não sob nosso controle. Entender que não podemos controlar eventos externos, mas podemos controlar nossas reações, atitudes, pensamentos. Esse é um dos pilares do estoicismo.

2) Aceitação das limitações e imperfeições. Aceitar que as situações inevitáveis, nossos próprios limites e também de outras pessoas fazem parte da vida, e reagir de forma equilibrada a isso, sem resistência inútil.

3) Cultivo das virtudes estoicas [sabedoria, coragem, justiça e moderação]. Ou seja, agir bem eticamente, ter coragem (inclusive moral), praticar justiça em suas pequenas ações, e manter moderação nos desejos e reações.

4) Resiliência e calma interior. Regras voltadas a lidar com frustrações, adversidades, perdas, incertezas, de modo que possamos manter equilíbrio mental e emocional.

5) Simplicidade e gratidão. Valorizar o que é suficiente, reconhecer as pequenas coisas boas, evitar excessos que geram ansiedade ou comparações.

6) Reflexão sobre a morte e impermanência. Reconhecer que tudo é transitório ajuda a dar valor ao presente, a viver com mais intenção, e a não desperdiçar tempo e energia com o que realmente não importa.

7) Empatia perdão e compreensão das falhas dos outros. Não esperar perfeição nos outros; compreender limitações, cultivar tolerância.

Adotando essas regras, teremos: mais calma interior permanente, menos reações impulsivas; melhor equilíbrio emocional; relações interpessoais mais saudáveis; capacidade de ver adversidades como oportunidades de aprendizado ou crescimento; uma vida mais significativa, com foco no que de fato importa, e menos estresse com o incontrolável.

 

12 setembro 2025

Empirismo e Racionalismo

“Pensamentos sem conteúdo são vazios; intuições sem conceitos são cegas.” (Kant)

Desde tempos remotos, tanto o empírico quanto o racional sempre tiveram os seus defensores. A tradição filosófica nos mostra duas posições clássicas diante do conhecimento: a platônica ou socrático-platônica, que envolve a questão da reminiscência, das ideias inatas, e a sofistica ou empírica que se refere apenas aos nossos sentidos. Há entre esses dois campos numerosas escolas e subescolas. Este problema perdurou ao longo dos séculos.

Sobre a origem do conhecimento. Para o empirismo, o conhecimento nasce da experiência sensível (dos sentidos). A mente é uma “página em branco” que vai sendo preenchida. Para o racionalismo, o conhecimento verdadeiro tem origem na razão. A experiência pode enganar; a mente já traz princípios inatos ou lógicos que orientam o saber. John Locke, George Berkeley e David Hume são os defensores do empirismo; René Descartes, Baruch de Spinoza, Gottfried Leibniz, do racionalismo.

O papel da percepção. Para o empirismo, a percepção é o ponto de partida de todo conhecimento. A mente — tabula rasa (Locke) —, começa absorvendo as ideias simples (cor, forma, som). Depois, essas ideias simples vão se tornando mais complexas (cadeira, amizade, justiça). Tudo começa com a experiência sensível. Para o racionalismo, a percepção pode enganar; só a razão garante certeza.

Sobre o Método. Para o empirismo, utilizamos o método indutivo, base da ciência experimental moderna (observação — hipótese — teste). Em se tratando do racionalismo, aplicamos o método dedutivo, como na matemática e na lógica (partir de princípios evidentes — deduzir consequências).

Interligação entre empirismo e racionalismo. Muitos filósofos posteriores (como Kant) perceberam que razão e experiência são inseparáveis: A experiência fornece o conteúdo.  A razão fornece a forma, a organização e os princípios. Exemplo: na ciência moderna, a observação empírica é indispensável, mas só ganha sentido quando analisada por hipóteses e raciocínios lógicos. São faces complementares da busca da verdade.

Em síntese, o método científico moderno equilibra percepção (empírica) e razão (racional) para construir um conhecimento mais confiável.

11 setembro 2025

Percepção

Às vezes nos cansamos de pensar ou de ouvir discursos excessivamente teóricos e acabamos preferindo confiar no que vemos e tocamos. Nessa escolha, afirmamos implicitamente que damos mais crédito aos sentidos do que ao raciocínio abstrato para conhecer a realidade. Pensamos, assim, estar evitando discussões intermináveis. Contudo, se buscamos certezas e não apenas aproximações, logo percebemos que a informação captada pelos sentidos nem sempre é segura.

Perceber é Julgar. Quando mergulhamos um sarrafo na água e ele nos parece quebrado, só ao retirá-lo percebemos que fomos enganados. Nesse caso, não foram os sentidos em si que falharam, mas o juízo que emitimos a partir da informação recebida. Situações como essa mostram que perceber não é um ato passivo: trata-se de uma interpretação, uma construção mental em que participamos ativamente.

A Percepção Inconsciente. Perceber significa selecionar, organizar e atribuir sentido ao que captamos. Porém, nem sempre temos consciência desse processo interpretativo. Isso acontece porque, muitas vezes, nossa percepção coincide com a dos outros ou se mostra compatível com outras experiências, e então não a questionamos. Por exemplo: ao passear em um dia quente, sinto calor; vejo pessoas usando roupas leves e, ao tirar o casaco, sinto alívio. Minha percepção só se tornaria duvidosa se os demais estivessem agasalhados ou se, ao retirar o casaco, o calor parecesse ainda maior.

Empirismo e Percepção. Nos séculos XVII e XVIII surgiu uma questão central: de onde vem nosso conhecimento do mundo? Seriam nossas ideias o resultado de uma soma de percepções, ou seriam as ideias prévias que nos permitem interpretar o que percebemos? O empirismo, corrente filosófica nascida no século XVII e representada por David Hume (1711–1776), defende que apenas a experiência sensível nos permite conhecer a realidade. Já para os racionalistas, como Descartes, inspirados em Platão, a razão tem primazia sobre os sentidos na busca da verdade.

Os Limites da Percepção. Para Kant, todo conhecimento verdadeiro nasce da união entre a percepção e a capacidade da mente de organizá-la. Isso significa que nunca conheceremos o mundo como ele é em si, mas apenas como se apresenta às nossas formas de percepção. A ciência moderna, apoiada em sofisticados instrumentos tecnológicos, amplia os limites do que podemos observar. Mesmo assim, continua válido o que Kant afirmou: “Nossos conhecimentos sempre terão de se adaptar à nossa forma de perceber o mundo, ainda que por meio de máquinas.”

A Percepção da Obra de Arte. A percepção, por si só, não é verdadeira nem falsa: ela propõe interpretações que nos ajudam a agir no mundo. O artista, no entanto, destaca-se por não se preocupar em reproduzir fielmente a realidade, mas em recriá-la a partir de sua própria visão. A arte nos recorda, desde sempre, que toda percepção não apenas revela o mundo, mas também o inventa.

Fonte de Consulta

Atlas Básico de Filosofia. Textos de Hector Leguizamón. Tradução de Ciro Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2007. [Texto melhorado pelo ChatGPT] 

 

A Utilidade do Inútil: Um Manifesto (Resumo)

O livro A Utilidade do Inútil: Um Manifesto está dividido em três partes. Primeira Parte — "A Útil Inutilidade da Literatura" (26 tópicos). Segunda Parte — "A Universidade-Empresa e os Estudantes-Clientes" (17 tópicos). Terceira Parte — "Possuir Mata: Dignitas Hominis, Amor, Verdade" (4 tópicos). Há, também, um Apêndice — "A Utilidade do Conhecimento Inútil", por Abraham Flexner.

Nuccio Ordine, professor e filósofo italiano, enfatiza, neste livro, que aquilo que muitas vezes é considerado “inútil” — como a arte, a literatura, a filosofia, a música, a poesia, o saber desinteressado — é, na verdade, fundamental para a construção de sociedades mais justas e livres. É um manifesto que se contrapõe ao modelo dominante de sociedade utilitarista e mercantil, em que tudo é avaliado pelo lucro imediato.

Ordine usa trechos de pensadores e escritores (Platão, Montaigne, Shakespeare, García Lorca, entre outros) para mostrar como, ao longo da história, a cultura foi sempre vista como pilar da civilização.

Eis algumas ideias principais:

1) O “inútil” como essencial. Artes, literatura e filosofia não produzem riqueza material, mas enriquecem o espírito e ampliam a liberdade do pensamento. São inúteis do ponto de vista mercantil, mas essenciais para a dignidade humana.

2) Crítica ao utilitarismo e ao mercado. A lógica do mercado transforma tudo em mercadoria, inclusive o conhecimento. A educação, por exemplo, passa a ser vista apenas como instrumento para o trabalho, e não como formação integral do ser humano.

3) Educação e cultura. O autor defende uma escola e universidade voltadas para o saber gratuito e universal, não apenas para o ensino de competências técnicas. A leitura de clássicos e o contato com as humanidades são formas de resistência contra a desumanização.

4) A utilidade daquilo que não tem preço. Amor, amizade, solidariedade, justiça e beleza não podem ser comprados ou vendidos, mas sustentam a vida social. O valor desses bens é inestimável justamente porque não é monetário.

Resumindo: O “inútil” é o que nos torna humanos. O lucro não é a medida de todas as coisas. A cultura, o pensamento e a beleza são a verdadeira riqueza.

ORDINE, Nuccio. A Utilidade do Inútil: Um Manifesto. Seguido de um ensaio de Abraham Flexner. Tradução de Luiz Carlos Bombassaro. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.



09 setembro 2025

Ilusão: Entre Aparência e Realidade

A ilusão é algo mais que um simples erro. O erro, uma vez identificado, pode ser corrigido e desaparecer. Já a ilusão persiste mesmo quando foi desmascarada. Continuamos a percebê-la e a senti-la, ainda que saibamos intelectualmente que se trata de uma falsidade. Exemplo clássico: embora tenhamos conhecimento astronômico de que a Terra gira em torno do Sol, a experiência sensível cotidiana insiste em nos mostrar o contrário.

Essa permanência da ilusão revela sua força: ela não se limita a enganar os sentidos, mas envolve nossa forma de pensar, sentir e agir no mundo. Diversos filósofos, em épocas diferentes, dedicaram-se a investigar esse fenômeno que atravessa a história da humanidade.

A Alegoria da Caverna: A Força Trágica da Ilusão

Platão, em sua célebre Alegoria da Caverna, mostra como os homens, desde a infância, podem estar prisioneiros de aparências que confundem com a realidade. Presos e de frente para a parede, veem apenas sombras e acreditam que estas são a verdade. O simples gesto de virar a cabeça, que poderia libertá-los, mostra-se quase impossível: a ilusão oferece conforto e segurança, enquanto a verdade exige coragem, risco e ruptura.

As Ilusões da Razão

Séculos depois, Immanuel Kant chama atenção para outro aspecto: nem sempre a ilusão nasce dos sentidos. A própria razão, ao ultrapassar seus limites, cria ilusões inevitáveis. As ideias de Deus, da alma imortal ou da bondade natural do ser humano são produtos da razão que não podem ser provados nem refutados. Funcionam como horizontes de sentido, que orientam a vida, mas não como verdades demonstráveis.

Ilusão e Ideologia

Karl Marx, no século XIX, interpreta a ilusão em termos sociais e históricos. Para ele, as ideias que circulam em uma sociedade — aquilo que se chama ideologia — não são neutras. Elas expressam, na verdade, interesses ocultos, frequentemente vinculados à manutenção de relações de poder. As pessoas acreditam estar buscando a verdade, quando, de fato, estão sustentando crenças que servem a propósitos muitas vezes inconscientes ou coletivos.

A Ilusão da Diversão

Blaise Pascal, no século XVII, descreve a condição humana como frágil e trágica: somos seres insignificantes, condenados à ignorância e à morte. Para escapar dessa miséria, recorremos à “diversão”, isto é, a qualquer atividade que nos afaste da reflexão sobre nós mesmos: jogos, trabalho, até mesmo a guerra. A diversão, nesse sentido, não é simples lazer, mas um mecanismo de ilusão que nos protege da angústia existencial.

A Ilusão Vital

Para Nietzsche, entretanto, a vida não comporta refúgios definitivos. Se tudo é aparência, ilusão e máscara, resta-nos aprender a conviver com isso sem recorrer a consolos metafísicos. O erro está em acreditar que a vida precisa nos oferecer segurança ou sentido. Pelo contrário: viver é assumir a fragilidade e a instabilidade do real. A ilusão, nesse caso, não é um obstáculo a ser superado, mas uma condição vital que exige coragem para ser sustentada.

Conclusão: Viver entre Aparências

Da caverna de Platão ao perspectivismo de Nietzsche, a filosofia mostra que a ilusão é parte constitutiva da experiência humana. Ela pode escravizar ou libertar, esconder ou revelar, confortar ou desafiar. O importante talvez não seja eliminá-la — tarefa impossível —, mas aprender a lidar com ela de modo crítico e criativo. Viver num mundo de aparências exige um valor especial: a capacidade de reconhecer a ilusão sem deixar de afirmar a vida.

Fonte de Consulta

Atlas Básico de Filosofia. Textos de Hector Leguizamón. Tradução de Ciro Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2007. [Texto melhorado pelo ChatGPT] 

 

04 setembro 2025

Adversidade

Adversidade — Refere-se a uma situação, condição ou evento que representa um obstáculo, dificuldade, ou desafio na vida de uma pessoa. São circunstâncias desfavoráveis que podem gerar sofrimento, estresse, frustração e até mesmo perdas. Martin Heidegger expressou, em sua filosofia, que de alguma forma somos lançados no mundo e não conseguimos nunca encontrar um ponto de apoio firme.

Tenhamos em mente que a adversidade é inevitável. Cabe-nos, em razão disso, tirar proveito das diversas situações em que nos encontrarmos. Observe que a mente humana é intolerante a limitações e restrições: ela reflete sobre o passado e lança planos para o futuro. Esse trabalho de imaginação gera desconforto, tensão, pois a capacidade de enxergar quantas coisas poderiam ser diferentes das do que são enfatiza a insaciabilidade inerente à alma.

Cada um de nós é fonte de muitas sensações positivas e negativas, “um moinho de desejos”, em que tudo se esvai rapidamente. Platão, por exemplo, via os seres humanos como baldes furados: despeje agua neles e, em vez de permanecer no lugar, ela vaza toda pelo fundo. Possuímos desejos, mas ao mesmo tempo estamos presos a eles. A própria atividade humana é uma forma de distração, uma tentativa de nos livrarmos da sensação do vazio.

Algumas notas: 1) apesar da utilidade das redes sociais, elas tendem muito mais para distrações; 2) vício em drogas, álcool, o jogo e a obesidade servem exclusivamente para preencher o espaço vazio que nos assombra; 3) fugir ao tédio [sensação de vazio existencial] é buscar algo novo, no sentido de contornar a confusão interior; 4) o budismo elaborou técnicas mentais para aceitar o vazio dentro de nós.

Administrando a adversidade: 1) a primeira coisa é aceitar que a vida nunca estará inteiramente livre da adversidade; 2) praticar o olhar cético, entendendo que as coisas que não sabemos são muito maiores das que sabemos acerca da condição humana; 3) a vida é misteriosa e nossas ações obscuras; 4) não permitir que nossa opinião enalteça a convicção de que sabemos; 5) aqueles que acham ter as respostas ficam geralmente muito ácidos para impô-las aos outros.

A maneira como as pessoas reagem à adversidade é o que a torna um conceito tão importante. Lidar com a adversidade pode ajudar a desenvolver resiliência, força interior e capacidade de adaptação. É um catalisador para o crescimento pessoal, pois nos força a confrontar nossas limitações e a encontrar novas soluções e perspectivas.

Para reflexão

"Suportar a nossa sina é vencê-la." (Thomas Campbell) / "Na adversidade a maior consolação é a consciência das boas ações." (Cícero) / "Um homem habituado à adversidade, dificilmente se abate." (Samuel Johnson) / "À beira de um precipício só há uma maneira de andar para a frente: é dar um passo atrás". (M. de Montaigne) / "A adversidade é nossa mãe, a prosperidade é apenas a nossa madrasta." (Montesquieu) / "Quem não sabe suportar contrariedades nunca terá acesso às coisas grandiosas." (Provérbio Chinês) / "O pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas." (William George Ward).


02 setembro 2025

Lógica e Argumentação

“Uma das razões mais importantes para estudar filosofia é aprender a formar e defender pontos de vista próprios.” — MARK SAINSBURY

lógica é o estudo dos princípios que orientam o raciocínio correto. É uma disciplina que estuda a validade dos raciocínios, ou seja, se as conclusões realmente decorrem das premissas. A argumentação é o uso desses princípios com a finalidade de defender uma ideia, refutar uma objeção ou construir um discurso convincente. São as razões apresentadas para sustentar uma conclusão, tendo como objetivo convencer, persuadir, explicar.

lógica permite-nos fazer o seguinte: 1) distinguir os argumentos corretos dos incorretos; 2) compreender por que razão uns são corretos e outros não; e 3) aprender a argumentar corretamente. Divide-se: 1) lógica formal: trabalha com estruturas abstratas (ex.: “Se todos os homens são mortais e Sócrates é homem, então Sócrates é mortal”); 2) lógica informal: aplicada ao cotidiano, analisa falácias, coerência e clareza dos argumentos.

Os elementos da argumentação são: 1) Tese (ideia principal a defender); 2) Argumentos (razões que sustentam a tese); 3) Exemplos/provas (dados, estatísticas, analogias, autoridades). Em relação à estrutura do raciocínio, temos: 1) Premissa maior: regra geral; 2) Premissa menor: caso particular; 3) Conclusão: consequência lógica. Exemplo: Todos os políticos são cidadãos. / João é político. / Logo, João é cidadão.

No estudo de lógica e argumentação, não podemos nos esquecer das falácias. Entre as falácias mais comuns, temos: ad hominem: atacar a pessoa em vez do argumento; apelo à autoridade: usar autoridade sem relação com o tema; falsa causa: assumir que uma coisa causa a outra sem prova; generalização apressada: tirar regra geral de poucos casos. Muitas vezes, distingue-se falácias de sofismas, havendo no segundo caso a intenção de enganar.

As boas práticas de argumentação podem ser resumidas: clareza: evitar ambiguidades; coerência: premissas devem se conectar; evidência: usar dados, exemplos, lógica; Refutação: prever e responder objeções.

Falácia: Raciocínio falso ou um argumento logicamente incorreto que aparenta ser válido, mas que falha em sustentar a conclusão de forma coerente.