Às vezes
nos cansamos de pensar ou de ouvir discursos excessivamente teóricos e acabamos
preferindo confiar no que vemos e tocamos. Nessa escolha, afirmamos
implicitamente que damos mais crédito aos sentidos do que ao raciocínio
abstrato para conhecer a realidade. Pensamos, assim, estar evitando discussões
intermináveis. Contudo, se buscamos certezas e não apenas aproximações, logo
percebemos que a informação captada pelos sentidos nem sempre é segura.
Perceber é Julgar. Quando mergulhamos um sarrafo na água e ele nos parece quebrado, só ao retirá-lo percebemos que fomos enganados. Nesse caso, não foram os sentidos em si que falharam, mas o juízo que emitimos a partir da informação recebida. Situações como essa mostram que perceber não é um ato passivo: trata-se de uma interpretação, uma construção mental em que participamos ativamente.
A Percepção Inconsciente. Perceber significa selecionar, organizar e atribuir sentido ao que captamos. Porém, nem sempre temos consciência desse processo interpretativo. Isso acontece porque, muitas vezes, nossa percepção coincide com a dos outros ou se mostra compatível com outras experiências, e então não a questionamos. Por exemplo: ao passear em um dia quente, sinto calor; vejo pessoas usando roupas leves e, ao tirar o casaco, sinto alívio. Minha percepção só se tornaria duvidosa se os demais estivessem agasalhados ou se, ao retirar o casaco, o calor parecesse ainda maior.
Empirismo e Percepção. Nos séculos XVII e XVIII surgiu uma questão central: de onde vem nosso conhecimento do mundo? Seriam nossas ideias o resultado de uma soma de percepções, ou seriam as ideias prévias que nos permitem interpretar o que percebemos? O empirismo, corrente filosófica nascida no século XVII e representada por David Hume (1711–1776), defende que apenas a experiência sensível nos permite conhecer a realidade. Já para os racionalistas, como Descartes, inspirados em Platão, a razão tem primazia sobre os sentidos na busca da verdade.
Os Limites da Percepção. Para Kant, todo conhecimento verdadeiro nasce da união entre a percepção e a capacidade da mente de organizá-la. Isso significa que nunca conheceremos o mundo como ele é em si, mas apenas como se apresenta às nossas formas de percepção. A ciência moderna, apoiada em sofisticados instrumentos tecnológicos, amplia os limites do que podemos observar. Mesmo assim, continua válido o que Kant afirmou: “Nossos conhecimentos sempre terão de se adaptar à nossa forma de perceber o mundo, ainda que por meio de máquinas.”
A Percepção da Obra de Arte. A percepção, por si só, não é verdadeira nem falsa: ela propõe interpretações que nos ajudam a agir no mundo. O artista, no entanto, destaca-se por não se preocupar em reproduzir fielmente a realidade, mas em recriá-la a partir de sua própria visão. A arte nos recorda, desde sempre, que toda percepção não apenas revela o mundo, mas também o inventa.
Fonte de Consulta
Atlas Básico de Filosofia. Textos de Hector Leguizamón. Tradução de Ciro Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2007. [Texto melhorado pelo ChatGPT]
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