A ilusão
é algo mais que um simples erro. O erro, uma vez identificado, pode ser
corrigido e desaparecer. Já a ilusão persiste mesmo quando foi desmascarada.
Continuamos a percebê-la e a senti-la, ainda que saibamos intelectualmente que
se trata de uma falsidade. Exemplo clássico: embora tenhamos conhecimento
astronômico de que a Terra gira em torno do Sol, a experiência sensível
cotidiana insiste em nos mostrar o contrário.
Essa permanência da ilusão revela sua força: ela
não se limita a enganar os sentidos, mas envolve nossa forma de pensar, sentir
e agir no mundo. Diversos filósofos, em épocas diferentes, dedicaram-se a
investigar esse fenômeno que atravessa a história da humanidade.
A Alegoria da Caverna: A Força Trágica da Ilusão
Platão,
em sua célebre Alegoria da Caverna, mostra como os homens, desde a infância,
podem estar prisioneiros de aparências que confundem com a realidade. Presos e
de frente para a parede, veem apenas sombras e acreditam que estas são a
verdade. O simples gesto de virar a cabeça, que poderia libertá-los, mostra-se
quase impossível: a ilusão oferece conforto e segurança, enquanto a verdade
exige coragem, risco e ruptura.
As Ilusões da Razão
Séculos
depois, Immanuel Kant chama atenção para outro aspecto: nem sempre a ilusão
nasce dos sentidos. A própria razão, ao ultrapassar seus limites, cria ilusões
inevitáveis. As ideias de Deus, da alma imortal ou da bondade natural do ser
humano são produtos da razão que não podem ser provados nem refutados.
Funcionam como horizontes de sentido, que orientam a vida, mas não como
verdades demonstráveis.
Ilusão e Ideologia
Karl
Marx, no século XIX, interpreta a ilusão em termos sociais e históricos. Para
ele, as ideias que circulam em uma sociedade — aquilo que se chama ideologia —
não são neutras. Elas expressam, na verdade, interesses ocultos, frequentemente
vinculados à manutenção de relações de poder. As pessoas acreditam estar
buscando a verdade, quando, de fato, estão sustentando crenças que servem a
propósitos muitas vezes inconscientes ou coletivos.
A Ilusão da Diversão
Blaise
Pascal, no século XVII, descreve a condição humana como frágil e trágica: somos
seres insignificantes, condenados à ignorância e à morte. Para escapar dessa
miséria, recorremos à “diversão”, isto é, a qualquer atividade que nos afaste
da reflexão sobre nós mesmos: jogos, trabalho, até mesmo a guerra. A diversão,
nesse sentido, não é simples lazer, mas um mecanismo de ilusão que nos protege
da angústia existencial.
A Ilusão Vital
Para
Nietzsche, entretanto, a vida não comporta refúgios definitivos. Se tudo é
aparência, ilusão e máscara, resta-nos aprender a conviver com isso sem
recorrer a consolos metafísicos. O erro está em acreditar que a vida precisa
nos oferecer segurança ou sentido. Pelo contrário: viver é assumir a
fragilidade e a instabilidade do real. A ilusão, nesse caso, não é um obstáculo
a ser superado, mas uma condição vital que exige coragem para ser sustentada.
Conclusão: Viver entre Aparências
Da
caverna de Platão ao perspectivismo de Nietzsche, a filosofia mostra que a
ilusão é parte constitutiva da experiência humana. Ela pode escravizar ou
libertar, esconder ou revelar, confortar ou desafiar. O importante talvez não
seja eliminá-la — tarefa impossível —, mas aprender a lidar com ela de modo
crítico e criativo. Viver num mundo de aparências exige um valor especial: a
capacidade de reconhecer a ilusão sem deixar de afirmar a vida.
Fonte de Consulta
Atlas Básico de Filosofia. Textos de Hector Leguizamón. Tradução de Ciro Mioranza. São Paulo:
Escala Educacional, 2007. [Texto melhorado pelo ChatGPT]
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