O problema central: Se a vida não nos pertence, se não
escolhemos o momento de nascer, o que nos autorizaria então a deixá-la quando
assim deliberássemos?
O que é o suicídio? Por que algumas
pessoas são levadas a este ato extremo? Como surgiu esta palavra? O que a
filosofia tem a dizer? E a filosofia espírita? Com estas simples questões,
iniciamos a nossa reflexão sobre este assunto que, na acepção de Albert Camus é
o único problema filosófico verdadeiramente sério.
O termo suicidium surgiu
no século XVII. Esta palavra leva-nos a fazer uma associação entre matar a si
mesmo e o homicídio. Agostinho, por exemplo, analisa esta palavra em termos do
sexto mandamento: "não matarás". Nas lucubrações genealógicas,
procura-se distinguir o matar a si do sacrifício (ou martírio). Os
primeiros cristãos buscavam o martírio. Seria um caso de suicídio ou de
martírio? E a morte de Sócrates, guiada por seu daimon?
Na Antiguidade havia argumentos pró e
contra a morte de si. Sócrates dizia que viver é aprender a morrer. Os jovens
podem supor que isso é um convite a evadir-se da vida. Aristóteles atrela a
morte de si à cidade. Quem assim procedesse, não deveria ter enterro digno,
e os corpos ficariam insepultos. A posição hedonista de Epicuro sobre a morte
voluntária está assentada na sua doutrina da indiferença: o sábio não deve nem
rejeitar a vida nem temer a morte.
Na Idade Média, marcada pelo
predomínio da escolástica e dos dogmas religiosos, assiste-se a uma grande
interdição da morte. As ideias do fogo do inferno para quem desobedecesse a
normas da Igreja pesavam muito nas atitudes e comportamentos dos fiéis. Como
dissemos acima, Agostinho referia-se ao sexto mandamento: "não
matarás". Tomás de Aquino, por seu turno, reúne argumentos gregos (Platão
e Aristóteles) e cristãos (Agostinho) para refutar enfaticamente a morte de si
mesmo.
Passada a fase obscura da Idade
Média, novas ideias surgem, principalmente aquelas estimuladas pelo Iluminismo,
ou a Idade da Razão, cujo objetivo é combater as ideias centralizadoras da
Igreja. Nietzsche, no discurso de Zaratustra sobre a morte livre, diz: Muitos
morrem demasiadamente tarde e outros demasiadamente cedo. Ainda soa estranha a
doutrina:'morra no tempo certo!'. Morra no tempo certo: assim ensinava
Zaratustra."
Qual a posição espírita ante o
suicídio? De acordo com a Lei Natural, Deus nos concedeu a vida e não podemos
tirá-la por nós mesmos. De qualquer modo, temos o livre-arbítrio, o que pode
nos levar a cometer o suicídio. Mesmo contrariando a Lei de Deus, no suicídio
há que se considerar os atenuantes e os agravantes, ou seja, o ato de tirar a
própria vida tem várias dimensões: há que se considerar o motivo, as
influências dos amigos, os revezes que poderiam ser evitados, entre
outros.
Em síntese, os argumentos a favor e
contra a morte de si devem ser analisados à luz da nossa consciência. No
Espiritismo, a certeza da vida futura nos dá condições de saber que seremos
menos ou mais feliz de acordo com a resignação que tivermos suportado os
sofrimentos aqui na Terra.
Fonte de Consulta
PUENTE, Fernando Rey (Org.). Os
Filósofos e o Suicídio. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
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