25 fevereiro 2016

O Advento do Cristianismo

"Dai-me castidade e continência, mas não agora." Confissões

O pensamento grego e o cristianismo são fundamentais na formação da civilização ocidental. Sem o cristianismo, não teríamos condições de compreender os aspectos relevantes da cultura europeia. A relação do cristianismo com a cultura grega inclui uma oposição, ou seja, a verdade revelada perante a verdade racional, e um esforço de sintetizar razão e fé, que são duas opostas de se propor a compreensão do mundo.

A cultura grega é uma cultura politeísta, adora muitos deuses; a cultura cristã é monoteísta, adora um único Deus. A imagem de Deus no cristianismo é a de um único Deus, criador do mundo, onipotente, infinitamente bom e justo, transcendente (está fora do mundo). Por ser infinitamente superior, a divindade forma uma realidade totalmente distinta da criatura, que lhe é inferior. Os antropomórficos deuses gregos não estão fora do mundo, nem encarnam o absoluto e o infinito. 

Desde o começo da era cristão, o pensamento filosófico tenta solucionar o problema do Bem e do Mal, cuja unidade grega entre o cosmos e Deus se rompeu, e que se polariza na antítese Deus e Mundo. O Mal se identifica com a matéria do mundo provém da experiência da dor, da doença e da morte. A gnose, daí gnosticismo, é o tipo de conhecimento que pode levar à compreensão da união desses dois extremos separados pela matéria. 

Um dos fatos marcantes ocorridos no início da história do pensamento ocidental é o uso que o cristianismo faz da filosofia grega. O resultado é o aparecimento da patrística, ou seja, o esforço dos padres da igreja para elaborar uma doutrina que estabelecesse a continuidade com o mundo antigo pela via da razão e com o mundo cristão pela via da revelação. 

O grande representante da patrística é, sem dúvida, santo Agostinho (354-430) que, em Confissões, diz: "Dai-me castidade e continência, mas não agora". Para ele, como as verdades não podem nascer na alma, que é mutável, só podem se explicar por iluminação divina. Como saberíamos, não fosse a iluminação divina, o que é justo e o que é injusto? Se o sabemos é porque daquela verdade se "copia" toda lei justa. As duas principais obras deixadas por santo Agostinho são: Confissões e Cidade de Deus.

Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução – o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.

Bibliografia Consultada

TEMÁTICA BARSA — Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005. 

 



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