Apologia é um discurso ou escrito laudatório que tem
por fim justificar ou defender alguém ou alguma coisa. A Apologia de
Sócrates é a obra escrita por Platão depois da morte de seu mestre
(399 a.C.). Platão imagina Sócrates defendendo-se diante dos juízes que o
condenaram à morte por corromper a juventude e introduzir divindades
estrangeiras.
Platão estrutura a defesa de Sócrates
em quatro partes: 1.ª o acusado dirige-se ao júri referindo-se às pessoas de
seus acusadores e às acusações feitas: sedução da juventude e impiedade; 2.ª o
acusado dirige-se ao principal acusador, ou seja, Meleto; 3.ª o acusado, já
ciente de que foi julgado culpado e condenado à morte, dirige-se outra vez ao
júri; 4.ª condenado à morte, entrega os seus juízes ao julgamento da
posteridade.
O conteúdo da Apologia é atípico.
Na época os sofistas, que cobravam pela disseminação de seu saber, preparavam
os seus alunos, não para disseminar a verdade, mas para ganhar a discussão.
Baseavam-se no seguinte raciocínio: tornar o argumento fraco o mais forte
possível. Sócrates, em sua defesa, fez o contrário, ou seja, usou de
simplicidade, coerência e sem floreios.
Eis um trecho do livro: “... se
sentirdes que me defendo com os mesmos raciocínios com os quais costumo falar
nas feiras, ou nos lugares onde muitos de vós me tendes ouvido, não vos
espanteis por isso, nem provoqueis clamor, porquanto, é esta a primeira vez que
me apresento diante de um tribunal, e com mais de setenta anos de idade! Por
isso, sou quase estranho ao modo de falar daqui. Se eu fosse realmente um
estrangeiro, sem dúvida, me perdoaríeis, se eu falasse na língua e da maneira
pelas quais tivesse sido educado; assim também agora vos peço uma coisa que me
parece justa: permiti-me, em primeiro lugar, o meu modo de falar – e poderá ser
pior, ou mesmo melhor – depois, considerai o seguinte e só prestai atenção a
isto: se o que eu digo é justo ou não. Essa, de fato, é a virtude do juiz, do
orador: dizer a verdade.”
Para explicar a sua ocupação de filósofo,
parte da afirmação do oráculo, que o considerava o mais sábio dos homens. Se o
oráculo diz isso, deve ser verdadeiro, pensava. Em seguida, começou a
questionar os que sabiam algo e chegava à conclusão de que não sabiam o que
pensavam saber. Este método denominou-se “maiêutica” que, à semelhança de sua
mãe (parteira), daria luz às novas ideias.
Para se defender da acusação de
que corrompia os jovens, alegou que os jovens o seguiam de livre e
espontânea vontade. E o seguiam porque Sócrates os ensinava a pensar com a
própria cabeça. Para se defender da acusação da impiedade, disse
que obedecia ao daimon. O seu daimon começou desde
a infância: “Uma voz que só se produz para me afastar do que vou fazer, mas não
me impele nunca a agir”. Trata-se, pois, de uma voz que só transmite proibições
divinas.
O julgamento à morte foi essencialmente
de natureza política. Os jovens que conviviam com Sócrates seriam políticos em
Atenas, como Crítias e Alcibíades. Não dizia respeito apenas aos indivíduos,
mas tinha projeção sobre a democracia em Atenas. Possivelmente, os detentores
do poder temiam que esses jovens se insurgissem contra o status quo
vigente.
Uma vez julgado e condenado, preferiu
morrer a fugir da prisão. Justificou esta atitude por amor à justiça e à
coerência de suas ideias. Dizia que por mais injustas que sejam as leis devemos
obedecê-las, para não incitar outros a desobedecê-las. Nos últimos instantes de
sua vida disse: “Mas é chegada a hora de partir: eu para a morte e vós para a
vida. Quem de nós se encontra para o melhor destino, todos nós ignoramos,
exceto o deus”. Somente Deus conhece a verdade.
Fonte de Consulta
Platão. Apologia de Sócrates. Tradução de Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2011. (Edipro bolso)
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