Paidéia –
do grego paidos (criança) significava inicialmente “criação de
meninos”. É por isso que Werner Jaeger, grande estudioso da cultura grega,
diz-nos: "Não se pode utilizar a história da palavra paideia como
fio condutor para estudar a origem da educação grega, porque esta palavra só
aparece no século V". Dessa forma, a palavra paidéia tomou outro rumo, ou
seja, formação geral que tem por tarefa construir o homem como homem e como
cidadão.
A paidéia grega ou a humanitas latina dizem respeito à formação da pessoa
humana individual, a qual se fundamentava nas “boas artes”, ou seja, na poesia,
na eloquência, na filosofia etc. A República de Platão é a expressão máxima da estreita
ligação que os gregos estabeleciam entre a formação dos indivíduos e a vida da
comunidade. A afirmação de Aristóteles de que o homem é um animal político,
devendo viver em sociedade, tem o mesmo significado.
A filosofia socrática do gnôthi se autón, “conhece-te a ti mesmo”, vai ser o elo propulsor
da paidéia. Para os gregos, que davam muita
importância à educação, o que interessava era a introspecção e a contemplação,
características essenciais do filosofar. O filosofar levava-nos à aristocracia,
governo dos melhores, e no caso, os melhores eram os filósofos. Aristóteles,
com a sua dinâmica social, em que as pessoas deviam viver na pólis, complementa esse pensamento. Daí, o termo
aristocracia social.
A Idade Média, dominada pelas verdades reveladas
pela religião, modificou a função original da filosofia. Na Antiguidade, a
filosofia era a busca do conhecimento, tanto externo quanto interno. Na Idade
Média, a filosofia servia mais para os religiosos se defenderem da heresia e
das crenças alheias. O caráter aristocrático e contemplativo, típico do ideal
clássico, ainda permaneceu na Idade Média, mas com objetivos completamente
diferentes e até antagônicos.
A filosofia moderna fundamenta-se no bildung (formação). Utiliza os mesmos quadros
conceituais da paideia antiga, ou seja, conhecimento de
si mesmo, introspecção e contemplação, mas caminha em outra direção, toma outro
rumo. Não é o encontro com o eu, mas um afastamento dele, pois procura
desconstruir a tradição, o clássico. Observe a filosofia de Descartes: começa
como se fosse uma tabula rasa,
no sentido de passar uma borracha no passado, na tradição.
Observemos os fatos e extraímos deles a nossa
própria interpretação. Como já se disse, “o que é clássico tem o condão de
nunca se tornar obsoleto”. O mundo está cheio de novidades. Selecionemos
aquelas que nos são úteis e descartamos as demais.
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