28 agosto 2009

Linguagem e Interpretação

É o “eu” que pensa ou o “eu” que recebe o pensamento? Em se tratando de filosofia, o pronome eu deveria ficar em segundo plano. Fernando Santoro, em Patologia do Pensamento, diz: "É uma presunção moderna acharmos que somos os sujeitos do nosso pensamento. Eu não penso, sou acometido pelo pensamento". Pergunta: o que significa um “eu” para o pensamento? Em sua explicação, escreve: “Somos sujeitos ao pensamento, nunca nosso, mas infestado pela própria linguagem. A linguagem, ela sim, tem sua vida própria e espontânea e leva o pensar para onde bem entende. Inclusive, e principalmente, para nossos vícios de entendimento”.

Alguns são traídos pela linguagem; outros, não. Descartes, por exemplo, foi traído pela língua francesa, a qual não admite a ausência do sujeito na frase, nem que este seja apenas um pronome de referência, como é o caso de “il pleut” — “chove”. Nesse caso, quando ele fundamentou o seu cogito ergo sum, ele estava escrevendo em latim. Ao passar para a língua francesa, fica subentendido um pronome, o pronome eu. Os franceses diriam: “Eu penso, logo eu existo”.

Sócrates, de quem a Pítia disse não haver ninguém mais sábio, não se deixou enganar. Para ele, as palavras que a Pítia pronunciava em transe no Oráculo de Delfos eram enigmáticas. O discípulo de Sócrates, que foi a Delfos perguntar ao Oráculo se havia alguém mais sábio do que seu mestre, não imaginava que a resposta da Pítia (“Não há ninguém mais sábio”), tinha que ser interpretada diligentemente, como bem suspeitou Sócrates. Para Sócrates, a frase significava: “A Pítia disse isso, porque ela sabe que eu nada sei”.

A palavra pode ser interpretada de diversas formas: depende exclusivamente da nossa experiência de vida e do que conhecemos acerca de um determinado assunto. As pessoas que vivem plenamente as suas vidas não creem em qualquer novidade, mesmo que esta venha pintada com as cores mais atraentes do mundo.

Fonte de Consulta

SANTORO, Fernando. Patologia do Pensamento. In: MEES, Leonardo e PIZZOLANTE, Romulo (orgs.). O Presente do Filósofo: Homenagem a Gilvan Fogel. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.

 

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