Sócrates, na antiguidade, exercitava-se
na maiêutica, método que consiste em gerar ideias complexas a partir de
perguntas simples e articuladas dentro de um assunto. É possível até que
tenha feito falsas perguntas, mas esse método permanece vivo até hoje,
principalmente nos estudos de dinâmica de grupo. A paidéia grega
do conhece-te a ti mesmo foi fundamental na apreensão da cultura grega e, ainda
hoje, é aplicado para a formação do homem moderno.
O educador deveria se pautar na
pergunta e no ensinar a perguntar.
Geralmente, o aluno que sabe a resposta, tirou-a de algum livro ou de algum
estudo anterior. O perguntar, pelo contrário, depende de um interesse pessoal,
de uma aptidão intrínseca da alma. É por esta razão que os mais velhos ficam
desorientados ante os questionamentos dos jovens, pois estes fazem as suas
indagações espontâneas, sem se preocuparem com a tradição ou com um passado preconceituoso.
A ciência é o resultado das hipóteses,
enunciados e corolários levantados ao longo do tempo. Por trás, porém, de cada
corolário, de cada hipótese e de cada enunciado há uma pergunta. Por isso,
diz-se que “o máximo da pergunta científica são os postulados, axiomas e
teorias que são formulados por um pensamento prévio interrogador”. A filosofia
também é construída por meio de perguntas. E, quanto mais se pergunta, mais se
tem o que perguntar, pois o “sei que nada sei” socrático pode se dirigir ao
infinito.
A pergunta formulada nas ciências
difere da pergunta feita na filosofia.
Nas ciências, a pergunta busca uma resposta positiva, geralmente
expressa em números. Nesse caso, faz-se um corte na realidade e
estuda-se um detalhe, aquilo que interessa ao pesquisador científico. Na
filosofia, a pergunta busca a totalidade da realidade, a sua radicalidade.
A radicalidade – que vem de radical, e, este, de raiz – é a
reflexão profunda da experiência humana. Para aprofundar, precisamos cavar
muita terra, pois há raízes que a penetram a distâncias intermináveis. .
A filosofia tem pressupostos, mas não
preconceitos. Esta afirmação é sumamente
importante, pois deixa o inquiridor completamente à vontade para qualquer tipo
de questionamento. Ele pode obter informações de filósofos consagrados, mas não
precisa fiar em seus sistemas. A sua meta é a verdade dos fatos, que é a
perfeita correspondência entre o pensamento e a realidade, entre o ser e o
objeto. Nesse sentido, a filosofia não é acúmulo de conhecimentos, mas um
assunto pessoal, um modo de ser, uma forma de vida, como dizia Sócrates.
Na educação, a pergunta é
imprescindível. Assim, quer estejamos estudando textos científicos, filosóficos
ou religiosos, não nos esqueçamos de fazer as perguntas relevantes para a
devida compreensão do tema proposto.
Um comentário:
Texto pertinente e sagaz. Escreva mais para nós, seus leitores, Sérgio. Parabéns!
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