05 agosto 2009

Educar Através de Perguntas

Sócrates, na antiguidade, exercitava-se na maiêutica, método que consiste em gerar ideias complexas a partir de perguntas simples e articuladas dentro de um assunto. É possível até que tenha feito falsas perguntas, mas esse método permanece vivo até hoje, principalmente nos estudos de dinâmica de grupo. A paidéia grega do conhece-te a ti mesmo foi fundamental na apreensão da cultura grega e, ainda hoje, é aplicado para a formação do homem moderno.

O educador deveria se pautar na pergunta e no ensinar a perguntar. Geralmente, o aluno que sabe a resposta, tirou-a de algum livro ou de algum estudo anterior. O perguntar, pelo contrário, depende de um interesse pessoal, de uma aptidão intrínseca da alma. É por esta razão que os mais velhos ficam desorientados ante os questionamentos dos jovens, pois estes fazem as suas indagações espontâneas, sem se preocuparem com a tradição ou com um passado preconceituoso.

A ciência é o resultado das hipóteses, enunciados e corolários levantados ao longo do tempo. Por trás, porém, de cada corolário, de cada hipótese e de cada enunciado há uma pergunta. Por isso, diz-se que “o máximo da pergunta científica são os postulados, axiomas e teorias que são formulados por um pensamento prévio interrogador”. A filosofia também é construída por meio de perguntas. E, quanto mais se pergunta, mais se tem o que perguntar, pois o “sei que nada sei” socrático pode se dirigir ao infinito.

A pergunta formulada nas ciências difere da pergunta feita na filosofia. Nas ciências, a pergunta busca uma resposta positiva, geralmente expressa em números. Nesse caso, faz-se um corte na realidade e estuda-se um detalhe, aquilo que interessa ao pesquisador científico. Na filosofia, a pergunta busca a totalidade da realidade, a sua radicalidade. A radicalidade – que vem de radical, e, este, de raiz – é a reflexão profunda da experiência humana. Para aprofundar, precisamos cavar muita terra, pois há raízes que a penetram a distâncias intermináveis. .

A filosofia tem pressupostos, mas não preconceitos. Esta afirmação é sumamente importante, pois deixa o inquiridor completamente à vontade para qualquer tipo de questionamento. Ele pode obter informações de filósofos consagrados, mas não precisa fiar em seus sistemas. A sua meta é a verdade dos fatos, que é a perfeita correspondência entre o pensamento e a realidade, entre o ser e o objeto. Nesse sentido, a filosofia não é acúmulo de conhecimentos, mas um assunto pessoal, um modo de ser, uma forma de vida, como dizia Sócrates.

Na educação, a pergunta é imprescindível. Assim, quer estejamos estudando textos científicos, filosóficos ou religiosos, não nos esqueçamos de fazer as perguntas relevantes para a devida compreensão do tema proposto.

 

Um comentário:

Fellipe disse...

Texto pertinente e sagaz. Escreva mais para nós, seus leitores, Sérgio. Parabéns!