06 fevereiro 2025

Apetite e Beatitude

Apetite. Em termos fisiológicos, apetite é o desejo por comida. Na concepção filosófica, o “apetite”, do gr. peto, pedir, solicitar, partir para algo (daí — ím - peto) indica a propensão para algo desejado, conveniente e adequado ao apetecente. É uma espécie de impulso veemente que nos leva a satisfazer desejos e necessidades. Na Escolástica, é o desejo implicado numa tendência.

Como o desejo está entrelaçado ao apetite? Pode-se dizer que o desejo tem uma característica mais violenta e apaixonada como se vê na expressão latina cupidus gloriae (ansioso pela glória). Há, porém, uma diferença sutil entre desejo e apetite. O apetite apresenta um aspecto mais “técnico” e ao mesmo tempo mais geral. Assim sendo, o desejo pode ser descrito como uma forma de apetite; por outro lado, o apetite nunca poderá ser descrito como uma forma de desejo.

Qual a relação entre apetite e vontade? Pode-se dizer que a vontade é um apetite intelectual e difere sensivelmente do apetite sensitivo.  Como um ser só aspira ao que é adequado à sua natureza, a sua tendência à busca das coisas imateriais, reforça a ideia de que a sua natureza não pode ser apenas material, ou seja, aspirar somente aos bens materiais.

Beatitude vem de beare, apetecer. O ser humano tende para o bem e apetece-lhe a felicidade perfeita — beatitude. O apetite é uma tendência para uma coisa conveniente, adequada ao ente. Há, assim, o tender da coisa para o seu próprio bem. Essa apreensão pode ser perfeita ou imperfeita. Daí, podemos dizer que o apetite elícito — legal, aceitável e lícito — que se segue à apreensão imperfeita do fim é o apetite sensitivo; e o elícito, cuja apreensão é perfeita, é o apetite racional, é a vontade.

Na Ética a Nicômaco de Aristóteles, a beatitude é o estado de satisfação em que não há mais carências, ausências. É o estado ideal do sábio, porque a sabedoria liberta o homem das carências e das ausências, e só ela lhe pode dar a plenitude da tranquilidade, que é o momento que se eterniza, em que a alma humana perdura, satisfeita por nada mais carecer.

Nas religiões, o estado de beatitude é alcançado por aqueles que, cumprindo os ritos e as normas religiosas, conseguem libertar-se de tudo quanto amesquinha e corrompe, e penetram assim na visão frontal da divindade, que é o estado beatífico.

Fonte de Consulta

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

 

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