Muitos pensadores, principalmente aqueles ligados à religião, tentaram
fazer uma ponte entre a filosofia grega e o cristianismo. Nos capítulos 20 e 21
do livro VII das Confissões, Agostinho desenvolve o seu pensamento a respeito, realçando o mundo
abstrato e espiritual, contudo indicando os limites frente à revelação e à fé
cristã.
Após a leitura dos livros platônicos,
Santo Agostinho foi levado por eles a buscar a verdade incorpórea, e percebeu
que “as perfeições invisíveis são visíveis em suas obras” (Epístola de São
Paulo aos romanos, 1, 20). Sentiu que as trevas de sua alma impediam-no de
contemplar a verdade. Estava certo da existência de Deus, mas não compreendia a
sua infinitude. Contudo tinha certeza de que tudo é originado de Deus, mas
sentia-se fraco para gozar a presença do Criador.
“Tagarelava e enchia minha boca como
um sabichão, mas se não buscasse o caminho para Vós em Cristo Nosso Salvador,
seria apenas um perituro e não um perito*. Já então cheio de meu castigo
começava a desejar parecer um sábio; não chorava e, além disso, inflava-me com
a ciência. Onde se encontrava aquela caridade que se ergue sobre o alicerce de
humildade que é Jesus Cristo? Quando é que estes livros me ensinariam esta
caridade?
“Por isso lancei-me avidamente sobre
as veneráveis escrituras inspiradas por teu Espírito, sobretudo ao do apóstolo
Paulo. E desnaveceram em mim aquelas dificuldades nas quais julguei descobrir
contradições entre ele e seu texto, em desacordo com os testemunhos da Lei e
dos Profetas. Compreendi a unidade daqueles castos escritos, e aprendi a me
alegrar com tremor”
Descobre coisas que não estão
escritas nos livros platônicos: naquelas páginas não há um sentimento de piedade,
o sacrifício da alma abatida, um coração contrito e humilhado. Nos livros
platônicos não se encontram os apelos da salvação em Cristo. “Ninguém ali ouviu
o convite: Vinde a mim os que sofreis. Desdenham teus ensinamentos, porque és
manso e humilde de coração. Porque escondeste estas coisas dos sábios e doutos,
e as revelaste aos pequeninos”
*Trata-se de um jogo de palavras:
perito significa “sábio”, “especialista”, e perituro, “aquele que perecerá”.
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