Os nossos
sentidos são a base da abstração: eles captam apenas uma parte da realidade: a
vista apreende a forma dos objetos; o ouvido, os sons; o olfato, os odores. A
razão, por seu turno, não só elabora os conceitos; ela os compara, encaixa-os
uns nos outros, dá-lhes uma hierarquia quantitativa, os reduz a conteúdo e
continente, classificando-os.
A razão ordena
os objetos singulares nas espécies, estas nos gêneros mais vastos, até atingir
o gênero supremo, o abstrato mais abstrato de todos os abstratos, que é o
conceito lógico do ser. Na classificação, há ordem, clareza, simplicidade e
unidade. Daí, a afirmação de que toda classificação é uma redução à unidade.
Nota: o conceito lógico do ser não deve ser confundido com o conceito ontológico. Se o primeiro é uma abstração, o segundo tem outra
realidade, a máxima realidade.
Em se tratando
dos conceitos, os mais vastos contêm os mais singulares. À proporção que
subimos dos singulares às espécies, e destas aos gêneros, aumentamos a
compreensão, mas diminuímos os conteúdos. Em outros termos, a compreensão é o
conjunto de caracteres de um objeto; a extensão, o maior ou menor número de
objeto a que o conceito pode ser aplicado. Daí o princípio: quanto maior a
compreensão, menor é a extensão, e inversamente. Exemplificando: a compreensão
do cão (animal domesticado) deve estar relacionada com a extensão do simples
animal.
Razão e visão
têm as suas semelhanças: tentando ver mais coisas, perdemos delas os
pormenores; do mesmo modo a razão: tentando abranger mais conceitos deixa os
pormenores em segundo plano. Estabelecida a hierarquia pela classificação,
segue a razão um caminho inverso: do mais geral ao menos geral, e deste ao
singular. Temos, então, a definição. (1)
Toda realidade pode ser caracterizada em termos de gêneros e de espécies em virtude de várias diferenças específicas. Eis uma parcela da clássica divisão da realidade, mais conhecida como a Árvore de Porfírio a partir do filósofo neoplatônico Porfírio:
Cada palavra ou
expressão em maiúsculas designa um gênero ou espécie. Cada item imediatamente
abaixo de outro é uma espécie em relação ao item imediatamente acima de si; e
cada item que tem itens imediatamente abaixo de si é um gênero com relação a
esses itens. O ser é o mais elevado gênero que existe; ele não é uma
espécie de coisa alguma. Os seres humanos [no ramo da extrema esquerda] são uma
espécie das mais inferiores; não são gênero de coisa alguma. Logo, os termos gênero e espécie são relativos. Um gênero é sempre uma categoria
mais geral com relação às espécies. (2)
(1) SANTOS, M. F. dos. Convite
à Filosofia e à História da Filosofia. 6. Ed., São Paulo: Logos., item
"Gênero e Espécie".
(2) MARTINICH, A. P. Ensaio Filosófico: o que é, como se faz. Tradução de Adail U.
Sobral. São Paulo: Loyola, 2002.
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