A verdade é comumente definida como uma relação entre o Sujeito e o Objeto. O Sujeito capta o Objeto e retorna ao mesmo como uma crítica conceituada. Se a imagem que teve do Objeto coincidir com a do próprio Objeto, diz-se que está de posse da verdade; se não coincidir, que está em erro.
Há, porém, muitas dificuldades quando
queremos aprofundar essa relação. Precisamos incluir os condicionamentos do
Sujeito, a sua familiaridade, os seus desejos, os seus interesses, as suas
crenças, o seu sistema de valores. Ainda mais: há necessidade de verificar se
suas percepções estão em perfeito estado, isto é, que não haja deficiências,
como é o caso de enxergar sem luz, de sentir o cheiro de alguma coisa, estando
resfriado.
As religiões e seus dogmas têm grande
influência nos valores que o indivíduo forma para si e para os seus. Em tese,
todas professam a verdade, verdade que leva o seu adepto à salvação. Se a sua
crença religiosa leva à salvação, as outras estão em erro.
Esta pessoa não é capaz de pensar que o outro também pode estar com a
verdade. É por isso que a pluralidade das crenças leva aos conflitos e às
diversas guerras que tivemos ao longo da história da humanidade.
O problema do status social.
Tomemos, por exemplo, um acidente de trânsito, em que um motoqueiro é
atropelado por um automóvel. Haverá tantas versões quantas forem as pessoas
indagadas. Se perguntarmos a um outro motorista de automóvel, ele dirá que o
motoqueiro é imprudente, que atrapalha o trânsito, que fura a fila etc. Se
perguntarmos a um outro motoqueiro, ele dirá que o motorista do automóvel tem
raiva deles, que os trata com desprezo.
Os aspectos denotativos e conotativos.
Suponha a palavra “vaca”. Ela denota um animal, cujo conceito (imagem mental) é
a mesma em toda a parte do mundo. Entretanto, conota muitos outros
significados. Na Índia, é considerado um animal sagrado. Este símbolo tem forte
poder no relacionamento entre as pessoas. Nesse caso, quando quisermos ofender
uma pessoa, basta tratarmos mal a sua vaca, que repercutirá sobre o seu possuidor.
Não faz muito tempo, houve uma celeuma sobre a quebra de uma imagem de Nossa
Senhora da Aparecida.
Além das dificuldades conotativas,
religiosas, de condicionamento e de status social, deparamo-nos com a mentira.
A mentira é uma espécie de imposição para nos fazer crer que algo é diferente
do que realmente é. Os discursos políticos, por exemplo, precisam ser estudados
e analisados nos seus mínimos detalhes, pois muitos deles trazem um viés dos
dados e da análise da conjuntura nacional e mundial.
Lembremo-nos de que quanto mais nos
desvencilharmos dos nossos condicionamentos e dos nossos preconceitos, mais
aptos estaremos para nos aproximarmos da verdade. Dizer “é possível que
estejamos em erro” é muito útil, pois obriga-nos a revisar aquilo que tínhamos
por verdade inconteste.
Fonte de Consulta: Capítulo IV (A Verdade Pode Ser Plural?),
de Promover Harmonia: Vivendo em um Mundo Pluralista, de Michael
Amaladoss, S. J. Rio Grande do Sul: Unisinos, 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário