14 abril 2014

Pecado e Subjetividade

Os sete pecados capitais — Gula, Avareza, Luxúria, Ira, Inveja, Preguiça e Orgulho — foram instituídos pela Igreja para orientar os seus fiéis quanto ao comportamento religioso adequado. Por volta de 1500, havia uma objetividade desses pecados. Na Divina Comédia, por exemplo, a desobediência ao superior era o pior dos pecados. Da hierarquia clara da Idade Média, passamos para a mudança dos valores na época presente. 

Nesses quinhentos anos, tivemos três abalos: 1) no século XVI, a Terra não é mais o centro do Universo; 2) no século XIX, Darwin, com a sua Evolução das Espécies, mostra-nos que não fomos criados por Deus, mas resultado da evolução do macaco; 3) no século XX, Freud, com a sua interpretação dos sonhos, instrui-nos que não somos controlados por forças racionais, mas as que emanam do inconsciente. 

Em se tratando da criação, Deus deu ao homem total liberdade, menos a de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Pergunta-se: se não quisesse que o homem a provasse, por que a deixou no centro do Paraíso? Por que não a escondeu? Parece que Deus não conhece psicologia. É como se Deus falasse para a criança: "Não pegue o bolo que está dentro da geladeira". O problema é Deus e não Adão. Adão é um cientista que quer provar o fruto da natureza e tirar as suas próprias conclusões. 

O subjetivo absorveu o concreto nos seguintes aspectos: a Luxúria passou a significar a valorização do corpo; a ira, a maneira de não guardar raiva; a avareza, o planejamento do futuro; a inveja, o estabelecimento de metas; a preguiça, o relaxamento; a gula, a fuga da anorexia; a vaidade, o essencial para a felicidade (o maior pecado).

A subjetividade do pecado propiciou o aparecimento das seguintes teologias contemporâneas: 1.ª) Teologia da autoajuda: se você não se amar ninguém vai lhe amar; o que você pensa, acontece; 2.ª) Teologia da prosperidade: ninguém prega mais um Deus sofredor (só vencedor). Família feliz, saúde perfeita e bens materiais são obtidos através da fé; 3.ª) Teologia do empreendedorismo: vencedores x perdedores. Há internalização da censura: se eu fracasso (Inferno atual), a culpa é minha.  Só vão para o Céu os ganhadores, os empreendedores. 

O ser humano deve voltar ao tradicional, pois a verdade não vem com aparências externas, superficialmente.  

Fonte de Consulta

http://www.cpflcultura.com.br/wp/2012/09/21/os-velhos-e-os-novos-pecados-leandro-karnal/





Nenhum comentário: