09 abril 2014

O Nada e o Saber dos Antigos

O niilismo, o nada, aparece como uma doença no século XIX e se arrasta aos séculos seguintes.  Dentre os diversos pensadores a respeito deste tema, Nietzsche é quem se destaca, principalmente pela sua famosa indagação sobre o niilismo: falta o fim, falta resposta ao "por quê?"; o que significa niilismo?  - que os valores supremos se desvalorizam. (F. Nietzsche, Fragmentos póstumos)

Nietzsche aponta os dois culpados para o aparecimento do niilismo: o platonismo e o cristianismo. Em se tratando de Platão, acha que o seu grande erro foi o da criação do mundo das Ideias, ou seja, um mundo perfeito além deste. Em se tratando de Jesus, critica a diferença entre o Criador, Onipotente e Perfeito, e a criatura, limitada e imperfeita. Tanto um quanto o outro destacam o descaso para com a vida presente, para com a vida sensível, deixando tudo para depois. 

A gigantografia - mensagens violentas e exasperadas - tem relação com o niilismo. Orwell, em seu romance 1984, escrito em 1947 e publicado em 1948, em que inverteu os dois últimos algarismos, e Aldous Huxley, em seu Admirável mundo novo, retratam a perda da liberdade. Orwell enfatiza essa perda de liberdade devido à obediência cega ao Grande Irmão, que é o Estado totalitário. Huxley, por outro lado, destaca a influência perversa do progresso técnico-científico quanto à perda dos valores nobres da vida. 

Quanto ao afastamento dos antigos, duas frases devem ser lembradas: 1) "Na convicção de lhe dar tudo, essa sociedade reduz o homem a nada e o atira ao abismo do niilismo";  2) "Dê-me televisão e hambúrguer e não me venha com sermões sobre liberdade e responsabilidade".

A volta aos antigos significa que a liberdade, o culto da beleza e a contemplação artística devem predominar sobre os avanços da ciência e da tecnologia. Enquanto a ciência positiva é fragmentada, a ciência do espirito é abrangente, mais adequada à obtenção do conhecimento verdadeiro. A ciência do espírito é uma espécie de iluminação divina como bem salientou santo Agostinho em suas prédicas: "como saberíamos, não fosse a iluminação divina, o que é justo e o que é injusto? Se o sabemos é porque daquela verdade se "copia" toda lei justa". 

Voltar aos antigos é cultivar a liberdade e o uso do pensamento próprio. É exercitar-se na filosofia, na verdadeira filosofia, que é a contemplação do espírito em busca da verdade. A absorção das verdades espirituais tem a sua exigência: esvaziamento dos preconceitos adquiridos ao longo do tempo. Com a mente aberta ao novo, teremos mais condições de nos libertar do niilismo, do nada que a sociedade contemporânea nos impõe diuturnamente. 

Os seres humanos necessitam de uma compreensão mais acurada do transmundo, pois se não houver consciência dessa iluminação interior, cairemos nas garras do niilismo. A vida futura não deve ser entendida como uma fuga da vida presente, mas uma realidade, a qual não podemos ignorar, pois as verdades espirituais existem independentemente de crermos ou não crermos. 


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