“A melhor vacina contra a prática do mal é o exercício permanente
da autocrítica.” Philip Zimbardo (psicólogo americano)
Zimbardo queria saber porque as pessoas praticam o mal. Nos anos 70, na
Universidade Stanford, fez uma revolucionária pesquisa: isolou e dividiu um
grupo de jovens entre guardas e prisioneiros no ambiente imaginário de uma
prisão. Ele observou que os maus-tratos de uns e a submissão de outros
extrapolam todos os limites. Hoje, o psicólogo tem críticas ao próprio
experimento. “Foi antiético porque causou sofrimento aos participantes”.
Baseando em pesquisas, afirma que as circunstâncias influenciam
sobejamente a propagação do mal. "Submetida a forte pressão, muita pouca
gente é capaz de resistir e se manter no espectro do bem". Estudos mostram
que apenas 10% das pessoas conseguem permanecer imunes a situações que as
compelem a agir de forma má.
Sobre o julgamento de Nuremberg, que tratava da carnificina nazista, e
que os oficiais de Hitler alegavam estar apenas seguindo ordens, pois não
tinham como fazer diferente, diz: "a Justiça condenou a todos, enfatizando
uma ideia essencial: se você prejudicou o próximo, ceifou vidas, disseminou o
mal, as razões são absolutamente irrelevantes. Você é culpado da mesma
forma".
Estudos mostram que o mal vai subindo de nível numa progressão
gradativa. Se a pessoa comete um pequeno desvio, tende a considerar o seguinte:
só “um pouquinho pior”. Então, vai se abrindo uma fresta perigosa para que ela
traia, minta ou machuque os outros cada vez mais.
Pesquisas mostram que 70% dos detentos, ao ser soltos, acabam cometendo
outros atos criminosos e voltam para trás das grades. O sistema prisional
precisa ser repensado – trata-se de um fracasso multibilionário. Uma de suas
ideias é criar um sistema de prêmio para o carcereiro: a cada ano que um
ex-detento que estava sob sua responsabilidade ficasse longe do crime, ele
receberia um bônus.
Recado final: todos somos vulneráveis ao mal; por isso, a autocrítica.
Entrevista na Revista Veja, 21/08/2013, p. 15 a 19.
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