21 novembro 2008

Giordano Bruno e a Heresia

Giordano Bruno (1548-1600), filósofo, astrônomo e matemático italiano, ao contrário do que se pensa, não foi queimado na fogueira por defender o heliocentrismo de Copérnico. A cosmologia, segundo a qual o universo seria infinito, povoado por milhares de sistemas solares, e interligado por outros planetas e contendo vida inteligente, foi a heresia apontada pela Inquisição. Bebendo da fonte de Nicolau de Cusa, prenunciou o avanço da ciência com suas teorias do universo infinito e da multiplicidade dos mundos. Rejeitou a astronomia geocêntrica tradicional e foi além da teoria heliocêntrica de Copérnico, que ainda admitia a existência de um universo finito.

A Idade Média, regida pela influência religiosa sobre a filosofia, produziu, sob o tribunal da Inquisição, muitas vítimas da heresia. Além de Giordano Bruno, um dos casos mais conhecidos foi do astrônomo italiano Galileu Galilei, que escapou por pouco da fogueira por afirmar que o planeta Terra girava ao redor do Sol (heliocentrismo). Muitos cientistas também foram perseguidos, censurados e até condenados por defenderem ideias contrárias à doutrina cristã. As mulheres também sofreram nesta época e foram alvos constantes. Os inquisidores consideravam bruxaria todas as práticas que envolviam a cura através de chás ou remédios feitos de ervas ou outras substâncias. As "bruxas medievais" que nada mais eram do que conhecedoras do poder de cura das plantas também receberam um tratamento violento e cruel.

A filosofia clandestina da Idade Média realça que a Igreja legitimava o Estado e este a Igreja. Faltava à sociedade um espírito crítico, capaz de elaborar pensamentos próprios, com liberdade de expressão. Diziam esses filósofos que, quando nos faltam esses elementos, o progresso fica mais difícil e de duração mais longa. Foi somente depois que a ciência se tornou teórico-experimental que pudemos avançar nas descobertas. Da luneta de Galileu atingimos o telescópio de Hubble.

A heresia atribuída a Giordano Bruno chama-nos a atenção para um ponto fundamental: razão e experiência devem andar de mãos dadas. Até então, a razão tinha prevalecido sobre a experiência. A lei de dilatação dos corpos - no caso o metal - ilustra bem este raciocínio. De acordo com esta lei, conforme a temperatura aumenta, o metal deve se dilatar. Se não testarmos essa teoria, podemos chegar à conclusão que o metal sempre se dilatará. Submetido à experiência, verificamos que a partir de um certo grau de temperatura, o metal não se dilata, mas funde-se.

A Igreja, na Idade Média, adotou a teoria de Aristóteles. Aristóteles, por sua vez, desenvolveu racionalmente as suas ideias. Não havia necessidade de experimentar as suas teorias, além do que não tinha os recursos que possuímos hoje, como é o caso dos programas de computador. Aristóteles fundamentou toda a física sobre a lógica e sobre o cálculo racional e nunca sobre a experiência.

Uma reflexão sobre a história sempre nos traz subsídios para uma melhor compreensão da ascendência cultural da sociedade. Um estudo sobre a obra e vida de Giordano Bruno muito contribuirá com isso.

 

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