Giordano Bruno (1548-1600), filósofo, astrônomo e matemático
italiano, ao contrário do que se pensa, não foi queimado na fogueira por
defender o heliocentrismo de Copérnico. A cosmologia, segundo a qual o universo
seria infinito, povoado por milhares de sistemas solares, e interligado por
outros planetas e contendo vida inteligente, foi a heresia apontada pela
Inquisição. Bebendo da fonte de Nicolau de Cusa, prenunciou o avanço da ciência
com suas teorias do universo infinito e da multiplicidade dos mundos. Rejeitou
a astronomia geocêntrica tradicional e foi além da teoria heliocêntrica de
Copérnico, que ainda admitia a existência de um universo finito.
A
Idade Média, regida pela influência religiosa sobre a filosofia, produziu, sob
o tribunal da Inquisição, muitas vítimas da heresia. Além de Giordano Bruno, um
dos casos mais conhecidos foi do astrônomo italiano Galileu Galilei, que
escapou por pouco da fogueira por afirmar que o planeta Terra girava ao redor
do Sol (heliocentrismo). Muitos cientistas também foram perseguidos, censurados
e até condenados por defenderem ideias contrárias à doutrina cristã. As
mulheres também sofreram nesta época e foram alvos constantes. Os inquisidores
consideravam bruxaria todas as práticas que envolviam a cura através de chás ou
remédios feitos de ervas ou outras substâncias. As "bruxas medievais"
que nada mais eram do que conhecedoras do poder de cura das plantas também receberam
um tratamento violento e cruel.
A
filosofia clandestina da Idade Média realça que a Igreja legitimava o Estado e
este a Igreja. Faltava à sociedade um espírito crítico, capaz de elaborar
pensamentos próprios, com liberdade de expressão. Diziam esses filósofos que,
quando nos faltam esses elementos, o progresso fica mais difícil e de duração
mais longa. Foi somente depois que a ciência se tornou teórico-experimental que
pudemos avançar nas descobertas. Da luneta de Galileu atingimos o telescópio de
Hubble.
A
heresia atribuída a Giordano Bruno chama-nos a atenção para um ponto
fundamental: razão e experiência devem andar de mãos dadas. Até então, a razão
tinha prevalecido sobre a experiência. A lei de dilatação dos corpos - no caso
o metal - ilustra bem este raciocínio. De acordo com esta lei, conforme a
temperatura aumenta, o metal deve se dilatar. Se não testarmos essa teoria,
podemos chegar à conclusão que o metal sempre se dilatará. Submetido à
experiência, verificamos que a partir de um certo grau de temperatura, o metal
não se dilata, mas funde-se.
A
Igreja, na Idade Média, adotou a teoria de Aristóteles. Aristóteles, por sua
vez, desenvolveu racionalmente as suas ideias. Não havia necessidade de
experimentar as suas teorias, além do que não tinha os recursos que possuímos
hoje, como é o caso dos programas de computador. Aristóteles fundamentou toda a
física sobre a lógica e sobre o cálculo racional e nunca sobre a experiência.
Uma
reflexão sobre a história sempre nos traz subsídios para uma melhor compreensão
da ascendência cultural da sociedade. Um estudo sobre a obra e vida de Giordano
Bruno muito contribuirá com isso.
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