A filosofia clandestina é um movimento
filosófico-literário que surgiu entre os séculos XVI e XVIII. Tinha por
objetivo combater veladamente os desmandos da classe dominante, principalmente
aqueles propagados pela Igreja. Os ingleses dão a este período o título
sugestivo de The Dark Ages, ou seja, período das trevas, em que a
filosofia – enquanto saber – perdeu muito de sua potência crítica e
libertadora. Em seu lugar crescia o obscurantismo, acompanhado da superstição.
Os livres-pensadores dessa época expressavam ideias pouco ortodoxas e críticas com
relação à autoridade constituinte. Observe que nesse período a Igreja legitimava
o Estado e este a Igreja, tendo como pano de fundo a obediência a Deus. Tanto
os reis quanto os papas eram emanações da divindade. Com isso, eles
determinavam o que era bom ou ruim para o povo. Qualquer ideia contrária, que
ferisse a lógica por eles determinada, tinha que ser imediatamente banida. Para
isso, instituíram a Inquisição, ou seja, um tribunal para "questionar judicialmente aqueles que, de uma forma ou
de outra, se opõem aos preceitos da Igreja Católica".
As
ideias básicas acerca da filosofia clandestina giram em
torno da crítica bíblica, da contestação do caráter divino da Igreja, da
denúncia dos abusos da nobreza e do clero e da defesa de novas ideias e novas
concepções de mundo. Esses escritos trazem à luz os absurdos e as incoerências
das narrativas sagradas, desafiam a legitimidade do poder constituído,
principalmente pelo fato de todos serem determinados por Deus. Em outras
palavras, se Deus ordenou, o que nos cabe fazer é obedecer.
Este
movimento conseguiu unir livres-pensadores e filósofos numa empreitada pouco
amena, porque qualquer ideia nova era passível de fogueira, em que tanto o
livro quanto o seu autor poderiam ser queimados. Esse período embotou o
pensamento criativo da Idade Média. Mesmo assim, no processo histórico, ele
serviu de um marco vigoroso de reflexão, porque não podendo se manifestar ficou
em potência, esperando o momento oportuno, como aconteceu com a Renascença, em
que emergiu tudo o que estava encubado.
Essas
ideias foram divulgadas em forma de tratados, diálogos, novelas e poemas para
um público restrito, porque a ortodoxia religiosa e política tinha outro
interesse, ou seja, manter o povo submisso ao seu poder. Em se tratando dos
livros clandestinos escritores por autores franceses, eles tinham que ser
publicados em países estrangeiros e, muitas vezes, sob um nome falso ou
pseudônimo, para não acabarem nas fogueiras.
Por
mais que se queira combater a verdade, ela não cede, pois no momento que a
quisermos contestar seremos por ela contestado.
Fonte de Consulta
DU
MARSAIS, César Chesneau. Filosofia Clandestina:
Cinco Tratados Franceses do Século XVIII. Seleção, apresentação e tradução de
Regina Schöpke e Mauro Baladi. São Paulo: Martins, 2008. (Coleção Tópicos
Martins)
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