Título: Saber-Fazer Filosofia: O Pensamento Moderno
Autor: Giovanni Semeraro (Coordenador)
Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2011 (Coleção
Saber-Fazer, 2)
Apresentação
Desde que nascemos, com o incessante pensar sobre nossas
atividades e o mundo em que vivemos, de qualquer modo, cada um de nós vai se
tornando um “filósofo”. Hegel já nos dizia que “O que é notório, justamente
porque é notório, não é conhecido. No processo do conhecimento,
a maneira mais comum para enganar a nós mesmos e aos outros é pressupor algo já
definido e aceitá-lo como tal”. O título dessa coleção, portanto, remete-nos
para uma ligação inseparável entre “saber” e “fazer”. Há que se ter uma relação
constante entre pensar e agir.
Kant havia já sinalizado que é necessário não apenas “conhecer a filosofia, mas principalmente aprender a filosofar”, a ter “a audácia de se servir da própria inteligência” com liberdade e autonomia. A filosofia não é uma divagação abstrata e individual da mente, mas principalmente uma elaboração teórica crítica e apurada do que vivenciamos como os outros, uma reflexão que amadurece em nosso agir como seres ativos organizados no complexo mundo político, econômico e cultural do qual fazemos parte.
Desde os primórdios, grande filósofos deixaram claro que em
sua construção não existem atalhos nem serve “envernizar-se de fórmulas, como
as pessoas que se bronzeiam, porque a filosofa comporta dificuldades e fadigas”
(Platão). “Saber-Fazer” filosofia, de fato, não é reproduzir ideias e ensinar
fórmulas, mas abrir caminhos que levem a pensar e a agir de forma livre,
conjunta, criativa e transformadora.
Giovanni Semeraro
Coordenador da coleção “Saber-Fazer Filosofia”
Introdução — um mundo que se revoluciona
Por que moderno?
O grande sistema unificado e controlado por longos séculos
pelo Império Romano e pela Igreja Católica desaba. Dos seus escombros emerge
uma multiplicidade de centros de poder em cidades autônomas e efervescentes que
configuram a vida de um novo ser humano.
O desenvolvimento das ciências e de novas tecnologias, que
ocorre nesse período, impulsiona enormemente a produção, a navegação e a
expansão do comércio para novas terras, promovendo um acúmulo extraordinário de
riquezas.
Em contraste com as épocas anteriores, em que tudo é
subordinado à ordem natural e aos preceitos da religião, os modernos descobrem
progressivamente que o próprio homem é o autor de si mesmo e o protagonista de
sua história.
A nova configuração da Terra e do Universo
Não é por acaso que se convencionou estabelecer o início da
modernidade com a descoberta da América, realizada em 1492 pela navegação de
Cristóvão Colombo.
Partindo dos avanços de Copérnico, Kepler e outros
cientistas, Galileu fez experiências mais metódicas e exaustivas não apenas na
astronomia como também em muitos fenômenos físicos.
Diversamente do conhecimento tradicional fundado sobre
princípios metafísicos racionalmente estabelecidos, sobre verdades deduzidas
logicamente e sobre o argumento de autoridade, a ciência moderna partia dos
fenômenos, da observação, da experimentação, da verificação e do debate
público.
O Renascimento
Renascimento é o grande movimento político e artístico-cultural
que surge no século XV na Itália e se alastra pela Europa. Os negócios, as
atividades econômicas, as corporações de ofício, e o clima de liberdade atraem
artistas e intelectuais que se dedicam a resgatar a cultura greco-romana,
abandonada e desqualificada durante a Idade Média. Os clássicos são lidos e se
travam intensos debates filosóficos e políticos. Trata-se de uma explosão de
vida e liberdade frente à mortificação e à expressão do homem medieval.
Quando Erasmo de Roterdã, com sua fina ironia, escreve O Elogio da Loucura (1511), deixa
evidente a crítica à razão fria e estéril da tradição aristotélica e ao saber
da escolástica fundada sobre silogismos e demonstrações áridas que haviam
servido prevalentemente à manutenção da ordem e à defesa dos dogmas.
Precursor e figura mais emblemática do Renascimento é
Leonardo da Vinci (1452-1519), o moderno homem polivalente que se expressa ao
mesmo tempo como pintor, desenhista, arquiteto, naturalista, inventor,
escritor, filósofo. Lutando contra a separação das coisas e as falsas demonstrações,
Leonardo integra matemática e arte, experiência e intuição, razão e paixão.
A Reforma da Igreja
Foi durante uma viagem feita a Roma, em 1510, que o monge
agostiniano Martinho Lutero, chocado diante de uma Igreja mergulhada na dissolução,
no comércio sagrado e na construção de obras faraônicas em meio à pobreza do
povo, começa a reivindicar uma reforma. Em 1517, afixa nos portões da Igreja de
Todos os Santos em Wittenberg, na Alemanha, as 95 teses contra os teólogos católicos
e contra o papa Leão X.
A Reforma desempenha papel fundamental no desenvolvimento
da economia, da cultura e na formulação de uma nova filosofia. Além de
influenciar diretamente diversos filósofos, a Reforma é responsável em grande
parte por fundamentar um comportamento de liberdade individual que alimentará o
liberalismo, cuja importância vai ter grande peso no desenvolvimento de países da
Europa do Norte, principalmente na Inglaterra.
O surgimento da burguesia e a questão do poder

Nenhum comentário:
Postar um comentário