21 dezembro 2025

Saber-Fazer Filosofia: O Pensamento Moderno (Notas de Livro)

Título: Saber-Fazer Filosofia: O Pensamento Moderno

Autor: Giovanni Semeraro (Coordenador)

Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2011 (Coleção Saber-Fazer, 2)

Apresentação

Desde que nascemos, com o incessante pensar sobre nossas atividades e o mundo em que vivemos, de qualquer modo, cada um de nós vai se tornando um “filósofo”. Hegel já nos dizia que “O que é notório, justamente porque é notório, não é conhecido. No processo do conhecimento, a maneira mais comum para enganar a nós mesmos e aos outros é pressupor algo já definido e aceitá-lo como tal”. O título dessa coleção, portanto, remete-nos para uma ligação inseparável entre “saber” e “fazer”. Há que se ter uma relação constante entre pensar e agir.

Kant havia já sinalizado que é necessário não apenas “conhecer a filosofia, mas principalmente aprender a filosofar”, a ter “a audácia de se servir da própria inteligência” com liberdade e autonomia. A filosofia não é uma divagação abstrata e individual da mente, mas principalmente uma elaboração teórica crítica e apurada do que vivenciamos como os outros, uma reflexão que amadurece em nosso agir como seres ativos organizados no complexo mundo político, econômico e cultural do qual fazemos parte.

Desde os primórdios, grande filósofos deixaram claro que em sua construção não existem atalhos nem serve “envernizar-se de fórmulas, como as pessoas que se bronzeiam, porque a filosofa comporta dificuldades e fadigas” (Platão). “Saber-Fazer” filosofia, de fato, não é reproduzir ideias e ensinar fórmulas, mas abrir caminhos que levem a pensar e a agir de forma livre, conjunta, criativa e transformadora.

Giovanni Semeraro

Coordenador da coleção “Saber-Fazer Filosofia”

Introdução — um mundo que se revoluciona

Por que moderno?

O grande sistema unificado e controlado por longos séculos pelo Império Romano e pela Igreja Católica desaba. Dos seus escombros emerge uma multiplicidade de centros de poder em cidades autônomas e efervescentes que configuram a vida de um novo ser humano.

O desenvolvimento das ciências e de novas tecnologias, que ocorre nesse período, impulsiona enormemente a produção, a navegação e a expansão do comércio para novas terras, promovendo um acúmulo extraordinário de riquezas.

Em contraste com as épocas anteriores, em que tudo é subordinado à ordem natural e aos preceitos da religião, os modernos descobrem progressivamente que o próprio homem é o autor de si mesmo e o protagonista de sua história. 

A nova configuração da Terra e do Universo

Não é por acaso que se convencionou estabelecer o início da modernidade com a descoberta da América, realizada em 1492 pela navegação de Cristóvão Colombo.

Partindo dos avanços de Copérnico, Kepler e outros cientistas, Galileu fez experiências mais metódicas e exaustivas não apenas na astronomia como também em muitos fenômenos físicos.

Diversamente do conhecimento tradicional fundado sobre princípios metafísicos racionalmente estabelecidos, sobre verdades deduzidas logicamente e sobre o argumento de autoridade, a ciência moderna partia dos fenômenos, da observação, da experimentação, da verificação e do debate público.  

 O Renascimento

Renascimento é o grande movimento político e artístico-cultural que surge no século XV na Itália e se alastra pela Europa. Os negócios, as atividades econômicas, as corporações de ofício, e o clima de liberdade atraem artistas e intelectuais que se dedicam a resgatar a cultura greco-romana, abandonada e desqualificada durante a Idade Média. Os clássicos são lidos e se travam intensos debates filosóficos e políticos. Trata-se de uma explosão de vida e liberdade frente à mortificação e à expressão do homem medieval.

Quando Erasmo de Roterdã, com sua fina ironia, escreve O Elogio da Loucura (1511), deixa evidente a crítica à razão fria e estéril da tradição aristotélica e ao saber da escolástica fundada sobre silogismos e demonstrações áridas que haviam servido prevalentemente à manutenção da ordem e à defesa dos dogmas.  

Precursor e figura mais emblemática do Renascimento é Leonardo da Vinci (1452-1519), o moderno homem polivalente que se expressa ao mesmo tempo como pintor, desenhista, arquiteto, naturalista, inventor, escritor, filósofo. Lutando contra a separação das coisas e as falsas demonstrações, Leonardo integra matemática e arte, experiência e intuição, razão e paixão.

A Reforma da Igreja

Foi durante uma viagem feita a Roma, em 1510, que o monge agostiniano Martinho Lutero, chocado diante de uma Igreja mergulhada na dissolução, no comércio sagrado e na construção de obras faraônicas em meio à pobreza do povo, começa a reivindicar uma reforma. Em 1517, afixa nos portões da Igreja de Todos os Santos em Wittenberg, na Alemanha, as 95 teses contra os teólogos católicos e contra o papa Leão X.

A Reforma desempenha papel fundamental no desenvolvimento da economia, da cultura e na formulação de uma nova filosofia. Além de influenciar diretamente diversos filósofos, a Reforma é responsável em grande parte por fundamentar um comportamento de liberdade individual que alimentará o liberalismo, cuja importância vai ter grande peso no desenvolvimento de países da Europa do Norte, principalmente na Inglaterra.

O surgimento da burguesia e a questão do poder


 

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