"A felicidade tem muito mais a
ver com a vida interior do que com os bens exteriores."
A sociedade moderna, presa ao
consumismo exacerbado, preocupa-se muito mais com o saber-fazer do
que o saber-ser. Ser vencedor é a sua marca registrada. Se o
fracasso nos bate à porta, deixamo-nos corroer pelo drama e ficamos cabisbaixos
diante da vida. O que vale é o útil, o meio, a produção. O inútil, o pensar e o
filosofar ficam sempre para o segundo plano. Em meio a tudo isso, podemos nos
voltar para os grandes pensadores do passado e, junto com eles, construir uma
vida interior significativa.
Sócrates, Platão, Aristóteles,
Confúcio, Buda, Epicuro, Montaigne, entre outros, legaram-nos ideias e
pensamentos que são extremamente importantes para a nutrição de nossa vida
interior. Vejamos alguns deles: conhecimento de si mesmo, o caminho do meio, a
justa medida, aceitar a vida como ela é, a busca do silêncio, reviver como foi
o dia, meditação, amizade, virtude e contemplação.
Esses grandes pensadores não paravam de
dizer que devíamos combater a ignorância, pois esta é a causa de todos os
males. O primeiro passo para essa grande empreitada é saber discernir. Para
discernir, há que se empenhar na busca do conhecimento. Hegel, por exemplo,
achava que a busca do conhecimento é a busca da liberdade. Sócrates, na
sua maiêutica, eternizou o "Só sei que nada sei". A inscrição
completa dessa máxima era: "Conhece-te
a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses."
Aristóteles, em Ètica a Nicômaco,
ensinou-nos que a virtude é a "justa medida" entre extremos nocivos.
Buda transformou-a no caminho do meio. Pitágoras, em sua escola, ensinava que
as qualidades constitutivas do ser humano seriam: austeridade, coragem,
moderação e autocontrole. Aristóteles preferiu usar os termos
"prudência", "temperança", "coragem" e
"justiça", as quatro virtudes cardeais. Às quatro virtudes cardeais,
a moral cristão acrescentou as três virtudes teologais, ou seja, a fé, a
esperança e a caridade.
Sobre o amar a si mesmo, Pitágoras,
um dos primeiros filósofos da Grécia antiga, tinha como lema esta regra de
ouro: "Acima de tudo, respeita a ti mesmo." Aristóteles, em Ética
a Nicômaco, afirma: "O homem virtuoso tem o dever de amar a si
mesmo." Há, também, a exigência bíblica: "Amarás o teu próximo como a
ti mesmo". Jesus retoma essa máxima nos mesmos termos. A psicologia
moderna, por seu turno, ensina-nos que se a relação consigo mesmo é distorcida,
haveremos de projetar no outro os problemas que nos pertencem e que não estão
resolvidos.
A regra de ouro "Não faça aos
outros o que não quer que lhe seja feito" é uma espécie de lei natural que
antecede a todas as formulações filosóficas. Esta pode, também, ser enunciada
positivamente: "Faça aos outros o que gostaria que lhe fosse feito."
Fonte de Consulta
LENOIR, Frédéric. Pequeno Tratado
de Vida Interior. Tradução Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
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