16 junho 2010

O Uno, o Múltiplo e as Religiões

Ao longo do tempo, os filósofos e os diversos pensadores da humanidade têm feito reiterados esforços para conciliar o uno com o múltiplo. Nesse sentido, pregam que uma abordagem racional da vida exige que o ser humano preste atenção no pluralismo baseado no princípio da contradição. O problema surge quando o Deus de uma religião resiste à aceitação do Deus de outra religião. Quantas não foram as guerras de fundo religioso?

Contrapondo-se às guerras, há os esforços para paz. A segunda Assembleia Mundial de Religiões, realizada em Chicago em 1993, declarou que não pode haver paz entre as nações se não houver paz entre as religiões. Em 24 de janeiro de 2002, ao terminar o Dia de Oração pela Paz no Mundo, os chefes religiosos presentes em Assis, a convite de João Paulo II, proclamaram um compromisso, denominado “Decálogo de Assis para a Paz”, em que se refuta a violência e se enfatiza a concórdia.

O pluralismo religioso é um fato. Não o podemos negar. Observe as religiões mundiais: todas elas são moderadamente fundamentalistas, pois cada uma delas se acha na posse da verdade. Somente por ela, o indivíduo terá condições de se salvar, de ir para o céu. Imaginemos um cristão: quer tenha consciência ou não, o adepto de outra religião também poderá ser salvo, mas somente por meio de Cristo ou através de uma ligação com a Igreja de Cristo.

Michael Amaladoss, em seu livro Promover Harmonia, reporta-se a três exemplos de conflitos das religiões: 1) lenço de cabeça islâmico nas escolas francesas; 2) crucifixo numa sala de aula da Baviera; 3) Uma islamita divorciada abandonada na índia. Todos esses casos geraram discussões sobre os limites da fé religiosa, obrigando o Estado a arbitrar sobre o que é uma questão laica e uma questão religiosa.

O apego à própria religião deve ser combatido. Cada um de nós deveria olhar além do próprio umbigo. O cristão poderia raciocinar da seguinte forma: quantos são os cristãos no mundo? Pelas estatísticas, aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas. Se somente Cristo salva, o que acontecerá com os outros 4 bilhões? Irão para o fogo do inferno? Não é uma incoerência?

Somente Deus é absoluto. A revelação divina pode nos ajudar a encontrar Deus, mas não é garantia para a verdade absoluta, pois a verdade não é monopólio de ninguém, mas patrimônio comum das inteligências.

Fonte de Consulta

AMALADOSS, Michael S. J. Promover Harmonia: Vivendo num Mundo Pluralista. Tradução de Nélio Schneider. Rio Grande do Sul, Unisinos, 2006.

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