11 setembro 2023

Fragmentação e suas Consequências

"Os que creem na verdade afirmam que as coisas de valor mais elevado não são afetadas pela passagem do tempo."

O grande problema do ser humano é a fragmentação em que a sociedade o colocou. E a própria ciência tem contribuído para isso, principalmente ao formar seres cada vez mais especializados, aqueles que conhecem "quase tudo do quase nada". O que se espera de um homem de ação que, nos seus quarenta anos de exercício de uma profissão, ficou sempre repetindo os mesmos atos? Não resta dúvida que se tornou mais eficaz em sua especialidade. Mas, como se relaciona com o todo da vida? Como irá enfrentar, por exemplo, o problema da morte?

A fragmentação pode ser entendida de várias formas, conforme o contexto em que for colocada. Refere-se à quebra de algo em partes menores. Em se tratando da filosofia, há os valores universais e os valores particulares. Quando damos muita ênfase ao particular, relegamos o geral, que deveria ser o mais importante para nós, porque dizem respeito aos princípios. 

Platão, em sua época, descortinou-nos o mundo das ideias, dando ênfase ao transcendental, ao centro. Com o passar do tempo, fomos nos afastando desse centro em direção à sua periferia. Foi a partir da Idade Média que este movimento em direção ao particular começou a tomar força, pois o surgimento da ciência enveredou-nos para a especialização. Platão, porém, nos lembra que em qualquer fase de uma pesquisa é importante saber se estamos nos aproximando ou nos distanciando dos princípios.

De acordo com Weaver, em seu livro As Ideias têm Consequências, o ponto de reverso dessa atitude filosófica foi a aparecimento do nominalismo de Guilherme de Ockham, que nega a existência real dos universais. Nesse sentido, o cientista, o técnico e o acadêmico, que trocaram o Um pelo Muito são tipos cheios de vaidade. Ainda: a obsessão pelos meios pode deixar alguém cego para a realidade.

Com a fragmentação, começamos a dar valor ao superficial, ao entendimento sem o mínimo de esforço, tal como nos adestram as mídias jornalísticas e televisivas. Em geral, oferecem-nos ideias estereotipadas, cujas respostas exigem apenas um sim e um não. O homem moderno não tem mais tempo de se aprofundar no conhecimento, não busca o seu anelo com o transcendental, visto que o apelo material oblitera todas as suas pretensões.

O espírito em evolução necessita de fazer esforços hercúleos para vencer as atrações do mundo, pois tudo gira em torno do egoísmo, da vaidade, da posse, do "tornar-se". Contudo, os objetivos reais de nossa existência é "ser". 

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A Faculdade de Teologia em Sorbonne podia ser consultada em assuntos relativos a operações financeiras, algo que em nossa época de fragmentação seria considerado competência exclusiva do banqueiro. (Capítulo 3 — "Fragmentação e Obsessão" de As Ideias têm Consequências, de Richard M. Weaver)


 

 

 

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