24 fevereiro 2010

Acesso ao Conhecimento: do Mito ao Logos

Desde tempos remotos, o ser humano quis ter acesso ao conhecimento da realidade. Inicialmente, através do mito; depois, pela razão, pela explicação racional das coisas. Os primeiros filósofos da Grécia antiga começaram a questionar sobre o “mundo”, como ele foi formado, qual a substância primeira (physis), não de forma mítica, imaginária, mas pela razão, pela experiência, onde as coisas pudessem falar por si mesmas.

O mito é uma história, uma narrativa, geralmente acerca da criação. Há, assim, diversas cosmogonias, elaboradas pelos diversos povos da antiguidade. A mitologia grega – Homero e Hesíodo – é muito difundida. Homero tenta representar o Universo governado por deuses, alternando forças luminosas e obscuras. Hesíodo, por outro lado, narra a origem do mundo nos seguintes termos: “No começo era o Caos”. O caos é pura extensão, sem consistência orgânica; um vazio sobre o qual se assenta a Gaia, a Terra, “base segura de tudo que é”.

O nascimento do pensamento racional está ligado ao aparecimento da pólis. Na polis grega, os pensadores dispensaram a influência de agentes e forças sobrenaturais, ficando apenas com a razão e a experiência. Em seus debates sobre a ordem necessária, as formas de governo e o modo de agir deram também origem à filosofia, que é antes de tudo o amor ao saber, e mais precisamente conhecer a verdade, não pela fantasia, pela narrativa, mas pelo uso da razão, no sentido de o ser humano construir o seu próprio destino.

O logos filosófico não deve imaginar como o mundo deveria ser, mas limitar-se a explicá-lo. a tarefa da filosofia é meramente interpretativa: o problema é entender aquilo que é, fazer emergir da realidade o conteúdo racional. No mito, o ser humano fica perturbado diante do desconhecido, gerando ansiedade. Ele quer transformar esta ansiedade em harmonia, por isso inventa uma história, principalmente acerca da origem do Universo e do Homem.

Devemos ter em mente que a consciência racional é uma extensão da consciência mítica. A filosofia surgiu como um despertar do logos, mas não deixou imediatamente o mito. Procurou dar ao mito uma explicação racional. Daí, a consciência racional. No mito, há um conhecimento sagrado; no logos, o sagrado pode ser explicado pela razão humana.

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