Garcia Morente, no capítulo terceiro do livro “Fundamentos
da Filosofia”, faz um estudo detalhado sobre a intuição como método da
filosofia. Eis um pequeno resumo.
A intuição é um
meio de se chegar ao conhecimento de algo, e se contrapõe ao conhecimento
discursivo. Num único ato do espírito, lança-se sobre o objeto, apreende-o,
fixa-o, determina-o. Quanto ao método discursivo, podemos dizer que discorrer e
discurso dão a ideia de uma série de atos, de uma série de esforços sucessivos
para captar a essência ou realidade do objeto.
Esclarece-nos que não há apenas uma intuição, mas intuições,
as quais denomina de intuição sensível, espiritual, intuição real, intuição
intelectual, intuição emotiva, intuição volitiva. Posteriormente, enumera os filósofos
defensores de cada uma dessas intuições. Estudemos cada uma dessas intuições.
Intuição sensível
é a intuição que todos praticamos a cada momento. Quando com um só olhar
percebemos um objeto, um copo, uma árvore, uma mesa. Esta intuição sensível não
é a mesma de que fala os filósofos. As razões: 1) O filósofo precisa de tomar
como termo do seu esforço objetos não sensíveis; 2) Os dados sensíveis não
oferecem conhecimento. Precisa de um dado universal.
Situemos a intuição
espiritual. Suponhamos a seguinte afirmação: “Uma coisa não pode ser e não ser
ao mesmo tempo.” O princípio de contradição, como o chamam os
lógicos, é, pois, intuído por uma visão direta do espírito, é uma intuição.
Útil se nos torna diferenciar intuição formal da intuição
real. A intuição formal descreve o objeto. A intuição real penetra no fundo
da coisa, que chega a captar sua essência, sua existência, sua
consistência.
Continuando nosso estudo. A intuição intelectual é um esforço para captar diretamente, mediante
um ato direto do espírito, a essência, ou seja, aquilo que o objeto é. A intuição emotiva mostra-nos não a
essência do objeto, mas o valor do objeto, aquilo que o objeto vale. Intuição volitiva. Não se refere nem à
essência, como a intuição intelectual, nem ao valor, como a intuição emotiva.
Refere-se à existência, à realidade existencial do objeto.
Os representantes dessas intuições. A intuição intelectual pura encontramo-la na Antiguidade, em Platão;
na época moderna, em Descartes e nos filósofos idealistas alemães, sobretudo em
Schelling e Schopenhauer. A intuição
emotiva encontramo-la em Plotino, Santo Agostinho, São Tomadas de Aquino,
Spinoza (Sentimus experimur que nos esse aeternos.” Que quer dizer: “Nós sentimos e experimentamos
que somos eternos.”). A intuição volitiva está em Fichte que faz depender a
realidade do universo e a própria realidade do eu de uma afirmação voluntária
do eu. O eu voluntariamente se afirma a si mesmo; cria-se, por assim dizer, a
si mesmo
É preciso considerar que estas três classes de intuição que
repartem em grandes linhas o campo metódico filosófico contemporâneo têm, cada
uma delas, sua justificação num lugar do conjunto do ser. O erro consiste em
querer aplicar uniformemente uma só delas a todos os planos e a todas as
camadas do ser.
Fonte de Consulta
GARCIA MORENTE, M. Fundamentos
de Filosofia - Lições Preliminares. 4. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
[Lição III — A intuição como método da filosofia]
Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/intui%C3%A7%C3%A3o
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Intuição e Inteligência Artificial
A inteligência artificial pode ser entendida como um enorme
banco de dados que, por meio de associações e análises combinatórias, oferece
informações sobre os dados que possui. Não é uma inteligência propriamente
dita, pois a raiz da palavra inteligência pressupõe uma escolha do indivíduo. A
inteligência artificial não tem essa capacidade de escolha, limita-se a
oferecer o que já tem guardado em sua memória virtual.
A intuição, tanto quanto a imaginação e outras representações
simbólicas, pressupõe uma relação vertical com o mundo das ideias, como nos
ensinou Platão no Mito da Caverna, com um plano espiritual, um plano mental. No
caso da inteligência artificial, a relação é horizontal. Mostra apenas o que
tem, não cria algo. Observe a diferença entre o símbolo e o logotipo. No símbolo, há um relação vertical, que une dois planos: o material e o espiritual. No logotipo, há somente o plano material, que é a relação da empresa com os seus consumidores.
A ciência valoriza muito a razão, mas utiliza sobremaneira a intuição.
Fonte: "Visão Simbólica X Inteligência Artificial" — Professora Lúcia Helena Galvão [Nova Acrópole].
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=HW0xqoTDEw8&t=2364s
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