1 — Conceito de Racionalismo. 2 — Representantes do
Racionalismo. 3 — Descartes. 4 — Spinoza. 5 — Leibniz. 6 — Pascal. 7 —
Bibliografia Consultada.
1 — Conceito de Racionalismo
Racionalismo. Doutrina que privilegia a razão dentre todas
as faculdades humanas, considerando-a como fundamento de todo conhecimento
possível.
Contrariamente ao empirismo (valorizando a experiência) e ao fideísmo (valorizando a revelação religiosa), o racionalismo designa doutrinas bastante variadas suscetíveis de submeter à razão todas as formas de conhecimento. Em seu sentido filosófico, ele tanto pode ser uma visão do mundo que afirma o perfeito acordo entre o racional e a realidade do universo quanto uma ética que afirma que as ações e as sociedades humanas são racionais em seu princípio, em sua conduta e em sua finalidade. (Japiassu, 2008)
2 — Representantes do Racionalismo
René Descartes (1596-1650)
Baruch Spinoza (1632-1677)
Leibniz, Gottfried Wilhelm (1646-1716)
Blaise Pascal (1623-1662)
3 — Descartes
“Penso, logo, existo."
Discurso do Método
No século XVII tem início com Descartes (1596-1650) o que se conhece
pelo nome de "racionalismo", e que será desenvolvido até as últimas
consequências por Spinoza e Leibniz. O racionalismo deve ser entendido de duas
maneiras: como oposição epistemológica, a partir da qual se afirma que a razão
é a única fonte de conhecimento: e como oposição metafísica, na qual se
sustenta que o real é racional. Dessa maneira, o racionalismo configura uma
orientação diferente da do empirismo, que põe ênfase no conhecimento a partir
da experiência. As duas orientações, a racionalista e a empirista, convergirão
mais tarde na filosofia de Kant. Partindo desses pressupostos, Descartes
elabora o primeiro grande sistema filosófico da Idade Moderna; um sistema para
o qual confluem sinteticamente as conquistas do humanismo renascentista e os
avanços produzidos na ciência moderna, para desembocar numa nova metafísica que
influenciará decisivamente a evolução posterior do pensamento
ocidental.
A filosofia cartesiana cria imediatamente uma escola no continente
europeu. Um de seus desenvolvimentos mais notáveis é constituído pelo
ocasionismo de Malebranche. (Temática Barsa, 2005
Dados pessoais
René Descartes (1596-1650) nasceu em La Haye,
França, pertencendo a uma família de prósperos burgueses. Estudou no colégio
jesuíta de La Fléche, na época um dos mais conceituados estabelecimentos de
ensino europeu. Foi soldado, esteve sob as ordens de Maurício de Nassau.
Participou de várias campanhas militares. As obras de Descartes são de
considerável extensão. As mais importantes são: Regras para a Direção
do Espírito (1628), O Discurso do Método (1637)
e Meditações Filosóficas (1641). (Jerphagnon, 1982)
Sonho premonitório
A dez de novembro de 1616, o jovem Descartes teve um sonho premonitório.
Sonhou que o Espírito da Verdade o visitara e, reverente, tal
como é natural à Entidade de sua estirpe, comunicou-lhe que lhe competia a
missão de edificar uma "Ciência Admirável", cujas
coordenadas lhe trouxe em outra visita onírica. Houve, ainda, uma terceira,
concluindo o esclarecimento devido. Ao acordar, preocupado com a
responsabilidade de tão grande missão, pediu a Deus que o amparasse a fim de
que pudesse fielmente cumprir a grande tarefa, tão acima de suas parcas forças.
(São Marcos, 1993, p. 76)
Cartesianismo
O cartesianismo – de Cartesius, nome latinizado de Descartes – encontrou
de imediato numerosos seguidores, a ponto de se impor na Europa continental
frente ao empirismo dos britânicos.
O cartesianismo – proveniente de Descartes – é
considerado, por muitos historiadores da filosofia, como a passagem da
filosofia do renascimento à moderna. Descartes, em seu Discurso do
Método, enfatiza as duas armas necessárias à concretização do seu programa
de conhecimento: liberdade do arbítrio e a disciplina
consciente a que deve livremente se submeter para conhecer segundo a razão. Ao
lado desses dois, acrescenta um terceiro: Deve haver uma razão em nós e no
mundo, sem o que não seria possível nem proveitoso dispor de nossa liberdade e
de nossa disciplina para conhecer.
Filosofia fora da
Universidade
A filosofia de Descartes foi desenvolvida fora da universidade. Por
isso, suas críticas ferrenhas aos postulados escolásticos, ligados à tradição.
Começou com correspondências, que enviava a vários pensadores da época. Somente
depois, transformou essas discussões num tratado. Além do mais, o Discurso do Método foi
escrito originariamente em francês, contrariando o hábito da época, que era o
de escrever textos filosóficos e científicos em latim.
As matemáticas como modelo
Descartes toma as matemáticas como modelo ou paradigma de suas
investigações filosóficas e do conhecimento em geral. É nas matemáticas
que a razão encontra um campo próprio, um terreno em que não se deve submeter a
nada além de sua própria lei, sua maneira própria e natural de proceder.
Em primeiro lugar, na ciência matemática a razão, com todo o direito, é
plenamente autossuficiente. As proposições matemáticas não dependem da
experiência, são "verdades da razão", e isto quer dizer que possuem
uma validade universal e absoluta. Um triângulo, por exemplo, sempre terá três
lados, e isto, em nenhum momento poderá ser desmentido pela experiência. Devido
a essa autossuficiência, a razão nas matemáticas só aceita como verdadeiro o
que se apresenta a ela com clareza. A clareza e a simplicidade das matemáticas
se convertem naquilo a que aspiram todas as outras ciências. Finalmente, as
matemáticas mostram que a razão procede dedutivamente, deriva novas ideias a
partir de primeiros princípios evidentes. (Temática Barsa, 2005)
A intuição e a dedução
Dois atos fundamentais nos conduzem à verdade: a intuição e
a dedução.
A intuição é o conceito, fácil e distinto, de um
espírito puro e atento, de que nenhuma dúvida poderá pesar sobre o que nós
compreendemos.
A dedução é apenas uma série de intuições - e, como se
pode sempre esquecer um momento da série, será necessário pela imaginação e
pela memória habituarmo-nos a repassar cada vez mais rapidamente no nosso espírito
os termos da dedução, até que leve a uma "quase intuição".
(Jerphagnon, 1982)
As regras do método
Descartes se propõe buscar a solução a partir do problema. Desejava
encontrar, por si mesmo, uma solução evidente que permitia reorganizar nossos
juízos e separar neles o falso do verdadeiro. Dizia: "Na menor dúvida tome
algo por falso"; "prefira errar dizendo que uma coisa é falsa a errar
dizendo que ela é verdadeira". Daí, as suas quatro célebres regras, cujo
objetivo era auxiliar a resolução de qualquer problema, porque as regras tinham
um caráter geral e não técnico.
1.ª) Só admitir como verdadeiro o que parece evidente, evitar a
precipitação assim como a prevenção;
2.ª) Dividir o problema em tantas partes quantas as possíveis (é o que
se chama regra de análise);
3.ª) Recompor a totalidade subindo como que por degraus (regra da
síntese);
4.ª) Rever o todo para se Ter a certeza de que não se esqueceu de nada e
que, portanto, não há erro. (Jerphagnon, 1982)
A dúvida metódica
Descartes analisa o conhecimento vigente e conclui que nada se lhe
oferece, de modo indubitável, sobre o que possa fundamentar o seu trabalho. Tem
que buscar alguma coisa fora da tradição, uma ideia, uma única que seja, mas
que resista a todas as dúvidas. Toma como paradigma a geometria que partindo de
algumas proposições certas em si mesmas, descobre outras verdades e esgota
todas as possibilidades; também a filosofia deve, de igual modo, descobrir e
demonstrar as suas verdades, dedutivamente, partindo de algumas proposições
certas, indubitáveis. O edifício filosófico que lhe compete estruturar a de
assentar, sobre uma verdade contra a qual nenhuma dúvida, a mínima que seja,
possa pairar. (São Marcos, 1993, p. 77)
Em suas regras, chama-nos a atenção sobre a precipitação e
a prevenção, dois graves erros que cometemos na busca do
conhecimento. A precipitação é a tendência de julgar mais rápido do que o
recomendável; a prevenção, a tendência a evitar a responsabilidade de um juízo,
seguindo uma opinião pré-fabricada. Toma, assim, a resolução de se desfazer de
todas as opiniões que recebera até então. Faz tábua rasa e
começa o seu labor para conhecer a verdade das coisas.
"Penso, logo,
existo"
Seu método inclui a dúvida metódica. Como se explica? Parte
do conhecimento centrado em si mesmo. Dizia: “Cogito ergo sum”, penso,
logo existo. Mas o cogito, ao evidenciar a existência de quem
pensa, permite estabelecer o seguinte raciocínio: se eu existo, sei que sou
finito. Porém, a ideia do finito implica ao mesmo tempo a do infinito. Para
Descartes, o infinito é Deus. Descobre Deus pela sua própria razão e não vindo
de fora como o Deus de Platão e dos escolásticos.
Minha existência como sujeito pensante não é somente a primeira verdade
e a primeira certeza: é também o protótipo de toda verdade e de toda certeza.
Tudo quanto eu perceber com a mesma evidência com que percebi que sou um
sujeito pensante será verdadeira e, portanto, poderei afirmá-lo com certeza
inquestionável.
As evidências
Em suas lucubrações filosóficas, diz que o pior precipitado não é aquele
que erra dizendo "isso é falso"; é o que erra dizendo "isso é
verdadeiro". Afirma que há apenas um instrumento para resgatar as verdades
que porventura tenham sido rejeitadas inicialmente: são as evidências.
Em seu modo de ver as coisas, achava que somos livres para aceitar o falso,
para errar. Podemos, ainda, impor os nossos erros aos outros, bastando termos
força ou engenho suficientes para isso.
4 — Spinoza
"Um homem livre é aquele que vive sob os ditames da razão, não se
conduz pelo medo; em vez disso, deseja seguir diretamente o bem."
Ética
O dualismo da mente e da matéria introduzido pela filosofa cartesiana
tem como uma de suas consequências a formulação de um panteísmo pelo qual se
postula uma única ordem racional, uma identificação entre o ser de Deus e o ser
do mundo. O autor dessa doutrina em que se concebe Deus imanente, todo razão, é
Baruch de Spinoza (1632-1677).
Os ecos de Giordano Bruno são bem patentes na filosofia desse pensador
judeu, e até se poderia dizer que nela tem continuidade a grande tradição
neoplatônica medieval e renascentista. Não se deve, entretanto, perder de vista
a linha que tem origem em Descartes, já que a filosofia de Spinoza é uma
derivação consequente da problemática introduzida pelo grande pensador francês.
(Temática Barsa, 2005)
Traços biográficos
Baruch Spinoza
(1632-1677). De família judia portuguesa, o filósofo Baruch Spinoza nasceu em
Amsterdã, Holanda. Estudou o hebreu, o Talmude e a Bíblia. Aprendeu espanhol,
português, holandês e francês. Logo rompeu com a ortodoxia judaica, mas sem se
aproximar do cristianismo. Acusado de judeu e de ateu, de ímpio e de fatalista,
tentou explicar o seu ponto de vista sobre a religião. (Japiassu, 2008)
Notas de sua filosofia
Spinoza é um caso complexo, porque depende de
Descartes. Esforça-se por apresentar uma solução diferente – para a relação
espírito matéria – daquela dada por Descartes. Quer dar uma solução diferente,
mas seguindo os passos de Descartes. Assim, a essência da filosofia de Spinoza
é o seu sistema totalizante, que tudo abarca. Tal sistema, concebido
matematicamente, entende Deus como Natureza (Deus sevi Nature). A partir
de suposições básicas (definições e axiomas) e uma série de demonstrações
geométricas constrói o universo que vem ser igualmente Deus.
Descartes ensinava que o universo é feito de duas
espécies de substância: o espírito e o corpo. Esse dualismo não satisfaz
Spinoza. Ele pergunta: como o espírito se relaciona com a matéria? Ensina que
há apenas uma substância que constitui todo o universo. A isso chamou Deus.
Vista de certo modo é corpo, vista de outro é espírito. A uma, Espinosa chamou
extensão; a outra, espírito. A substância é absolutamente independente de tudo,
pois representa tudo. É infinita, causada por si mesma e autônoma. Essa
concepção unificadora é conhecida como panteísmo. Muito apegado a essa teoria,
muitos a ele se têm referido como inebriado de Deus.
O corpo não afeta o espírito nem este àquele. Ambos,
porém, são manifestações de uma única e mesma realidade universal, Deus. A
árvore é um atributo de Deus; o pensamento que nos ocorre neste momento é um
atributo de Deus. Tudo o que acontece no corpo, acontece também no espírito. É
o que se chama paralelismo
psicológico, isto é, o corpo e o espírito são sempre paralelos, pois
constituem dois aspectos de uma só e mesma realidade. No homem o espírito
percebe os seus próprios atos, é consciente. Quer dizer, a substância do
espírito é mais complexa do que a substância do corpo, embora todas façam parte
de uma única substância.
O sistema filosófico de Spinoza é determinista. Tudo
no universo segue alguma coisa, mas numa cadeia causal definida, cujos elos se
acham necessariamente ligados ao antecedente e ao consequente. A alma não pode
ser imortal num sentido individualista; tem na realidade, imortalidade com um
modo de Deus que, da mesma maneira que Deus, não pode ser destruída.
O panteísmo spinoziano
Sendo a essência da substância o ser causa de si
mesmo, portanto, conceitos idênticos, a noção de substância equivale a Deus.
Assim, em última análise, só Deus – que, em Spinosa, é um Ser que consta de um número infinito de
atributos todos perfeitos – pode perfazer completamente o conceito de substância. Deus é a única e
verdadeira substância. Tudo existe em Deus, fora de Deus nada pode existir,
pois Ele esgota todas as possibilidades existenciais.
É aí que aparece o Panteísmo
Spinoziano, porém, Espinosa quebra a rigidez panteísta desmembrando em dois
momentos o conceito: Natura
Naturans ou Natura
Naturata, isto é, Natureza Criadora e Natureza Criada: "Deus sive
substância sive natura". Spinoza realiza a ideia embrionária existente no
espírito de Descartes: Um Deus
imanente na Criação, isto é, não uma individualidade dirigindo de fora o
universo, mas aquela entidade suprema que, imanente em todas as coisas,
nelas palpita e as mantém.
Este panteísmo de Espinosa constitui a forma mais
precisa de compreensão da existência de uma "Inteligência suprema, causa
primária de todas as coisas". Uma Inteligência ou Entidade que abrange a
totalidade de tudo quanto há e pode haver, e, como abrangente de tudo, não pode
estar de fora, pois, não há espaço em que não esteja; é um panteísmo que clareia
a intuição teológica de Deus no que tem de possível. (São Marcos, 1993, p. 82 e
83)
Correção do Intelecto
A palavra reforma é usada para nos referirmos à melhoria
do ser. Ela não é a mais adequada. Observe que Spinoza utilizou o termo emendatio em seu Tratado da Reforma da Inteligência,
uma obra inacabada. De acordo com Lívio Teixeira, tradutor da obra, emendatio significa não só melhoria, mas
retificação, ação de restabelecer a verdade. Correção seria a melhor tradução,
ou seja, “Tratado da Correção do Intelecto”.
Spinoza se coloca diante do mundo e daquilo que é
motivo de cobiça dos seres humanos, quais sejam as honras, as riquezas e os
prazeres. Em suas reflexões, acaba descobrindo que a procura desses bens é vão
e fútil, porém muitas vezes necessária. Apela para a sua inteligência, no
sentido de buscar o verdadeiro bem e a suprema felicidade. Quer criar um
método, um caminho, que ele chama de “Tratado da Reforma da Inteligência”.
O caminho consiste em analisar os tipos de percepção
que as pessoas têm. Segundo Spinoza, há quatro tipos, a saber: 1) percepção que
temos pelo ouvir ou por algum outro sinal que designa convencionalmente; 2)
percepção que se adquire pela experiência vaga; 3) percepção em que a essência
de uma coisa se conclui de outra, mas não adequadamente; 4) Finalmente há uma
percepção em que uma coisa é percebida só pela sua essência ou pelo
conhecimento da sua causa próxima.
Para Spinoza, o verdadeiro método é o caminho, e
conhecer exatamente a nossa natureza é o que nos leva à perfeição. Assim,
deveríamos nos basear no conhecimento reflexivo ou na ideia da ideia. Quer
dizer, deveríamos fazer um esforço para separar a ideia verdadeira das outras
percepções e impedir a mente de confundir com as verdadeiras as que são falsas,
fictícias ou duvidosas. Com isso, entende-se, também, que quanto mais
conhecimento o sujeito absorve mais se lhe apura a sua visão de mundo, e
facilita a captação de percepções mais refinadas.
Ninguém poderá chegar à mais alta sabedoria sem uma
correção do intelecto. A emendatio é
uma correção da inteligência. Na verdade, é fruto da nossa própria
inteligência. Quanto mais conhecimento tivermos, mais se nos apresentará a
ideia do ser perfeito. O nosso esforço deve se basear na obtenção de ideias
claras e distintas, ideias que não sejam produzidas pelos movimentos fortuitos
do corpo, mas que se produzem no pensamento. Ele disse: “A nossa felicidade ou
infelicidade depende de que espécie de coisas damos o nosso amor; somente o
amor das coisas eternas e infinitas nutre a alma (animus) de puro
gozo". (Espinosa, 2004)
5 — Leibniz
“Nada acontece sem que haja uma razão suficiente para ser assim e não de
outro modo.”
Carta a Samuel Clark
Com Leibniz, o pensamento alemão passa a ocupar o primeiro plano na
filosofia europeia, e o faz por meio de esquemas formulados por Descartes. Como
este e como Spinoza, Leibniz vê Deus como a pedra angular que unifica o
pensamento e a realidade exterior. O pensador alemão, no entanto, é um crítico
do mecanicismo e do dualismo cartesianos, e está longe de se adaptar às
formulações panteístas de Spinoza. A substância não tem extensão. é formada
por mônadas, que se estendem como unidades indivisíveis por todas
as ordens da criação. Não há dualismo da mente e da matéria, mas antes uma
escala (quase evolutiva) entre os seres da natureza, coroada por Deus, mônada
das mônadas, no padrão de uma harmonia preestabelecida.
Vivemos assim no melhor dos mundos possíveis. As coisas têm uma razão de
ser, ainda que não compreendamos isso, e o mal se deve à nossa imperfeição.
Deus está plenamente justificado (teodiceia). (Temática Barsa, 2005)
Traços biográficos
Leibniz, Gottfried Wilhelm (1646-1716). Nasceu em
Leipzig e estudou Direito, Filosofia e Matemática em Iena. Recebeu o grau de
doutor em Direito com a idade de 20 anos. Serviu como conselheiro bibliotecário
da corte, em Hanover, até ao dia de sua morte.
Sonhou com a fundação de uma confederação dos Estados europeus.
Descobriu, em 1676, ao mesmo tempo que Newton, o cálculo infinitesimal.
Trabalhou para a reunião das Igrejas católica e protestante. Suas obras mais
importantes: Ensaio Filosófico sobre o
Entendimento Humano (1690), Novos
Ensaios sobre o Entendimento Humano (1704), A Teodiceia (1710) e A
Monodologia (1714). Sua filosofia é influenciada pelo mecanicismo cartesiano e pelas causas
finais de Aristóteles. (Japiassu, 2008)
Notas de sua filosofia
Em Teodiceia (1710), um de seus poucos livros, Leibniz
discute como conciliar a existência de um Deus todo-poderoso, benevolente, com
o fato de haver situações desagradáveis no mundo. Ele evoca o princípio da
razão suficiente, segundo o qual tudo tem uma razão de existir, e para existir
da maneira como existe. Portanto, no caso em que Deus teve de decidir que tipo
de mundo criar, ele deve ter tido razão suficiente para criar este mundo em que
vivemos. E como Deus é moralmente perfeito, sua escolha só pode ter sido
determinada pelo valor do nosso mundo, o que por sua vez significa que o nosso
mundo é o melhor dos mundos possíveis. Foi essa questão de "melhor dos
mundos possíveis" que Voltaire ridicularizou sem dó nem piedade em seu
romance Cândido, à medida que um desastre após outro se abatia
sobre os protagonistas.
A obra posterior, Monadologia (1714), traz as
conclusões de Leibniz sobre a composição do universo, que, de acordo com ele, é
constituído de substâncias elementares chamadas mônadas (do grego monos,
"sozinho"), sendo cada uma delas eterna e incorruptível. Apesar de as
aparências indicarem o contrário, essas mônada não interagem umas com as outras
de forma causal - causas e efeitos são ilusões, assim como espaço e tempo. Em
vez disso, cada mônada se ocupar em seguir instruções pré-programadas e se
comporta de determinada forma simplesmente porque isso faz parte de sua
identidade: uma mônada está "grávida" de futuro e
"carregada" de passado, assim como uma semente. O Deus benevolente
determinou sua harmonia preestabelecida, e cada uma delas representa um reflexo
minúsculo do universo. (Levene, 2013)
6 — Pascal
“O coração tem razões que a razão desconhece.” Pascal
No século XVI, o racionalismo cartesiano convive na França com as
tendências religiosas jansenistas, movimento espiritual e místico de origem
agostiniana que tinha se infiltrado, sobretudo, na abadia de Port-Royal. Desse
clima surge Pascal, eminente físico e matemático, mas também um espírito
profundo e um homem apaixonadamente religioso.
Pascal contesta as pretensões da razão filosófica e científica de
alcançar uma certeza total, resumindo a sua atitude com a seguinte frase:
"Dois excessos: excluir a razão, não admitir mais do que a razão".
Assim como santo Agostinho e tantas outras correntes místicas que confirmam a
tradição do cristianismo ocidental (e que na época são impulsionadas pela
espiritualidade protestante), Pascal responde que o anseio de uma certeza total
só procede da fé, de "um deus sensível ao coração, não à razão".
Dessa maneira, o pensamento pascalino se situa no extremo oposto do
racionalismo, em uma direção surpreendentemente contrária ao espírito da época,
e será preciso esperar até o século XIX, e mesmo até o nosso tempo, para que a
obra de Pascal, isolada pelo Iluminismo, seja revalorizada. (Temática Barsa,
2005)
Dados pessoais
Blaise Pascal (1623-1662) foi matemático,
cristão e filósofo, nascido em Clermont-Ferrand, na França. Viveu apenas 39
anos. Escreveu várias obras científicas, tais como, o Ensaio sobre as
Cônicas e o Tratado sobre o Vácuo (1651). Os Pensamentos,
porém, é seu trabalho mais conhecido. Nesta obra, segue a mesma linha de
raciocínio dos aforismos de Heráclito, ou seja, condensa as suas ideias em
fórmulas curtas e fortes, deixando, ao leitor, a incumbência de desdobrá-las
mais tarde.
As limitações da razão
Pascal, que era também cientista, sabe da
importância da razão científica. Acontece que ele tem pouco apreço pelos
argumentos filosóficos que procuram atestar a existência de Deus. “O homem não
pode entender o que é a corporeidade e menos ainda o que é espírito e, de
maneira alguma, como um corpo pode estar unido a um espírito”.
Distingue dois tipos de razão, a do silogismo
e a do coração. Por isso, ele diz: “O coração tem razões que a própria razão
desconhece.”
As razões do coração
Embora seja homem de ciência, trabalha com as
razões do coração. Com o coração “conhecemos os primeiros princípios e é em vão
que o raciocínio, que não participa deles, tenta combatê-los”. Com o coração se
alcança a certeza de uma forma “totalmente interior e imediata”. Entende que o
coração é uma faculdade como a própria razão o é.
O homem: um ser dual
A vida do ser humano é miséria e morte, mas
também dimensão pensante. Pode ser destruído por um sopro de vento, mas também
é dotado de consciência. “... mesmo que o universo o destruísse, o homem ainda
seria mais nobre do que aquilo que o mata. Porque sabe que morre, e o que o
Universo tem de vantagem sobre ele, e o Universo não sabe nada disso”.
No tema da miséria e da grandeza do homem, ele exalta a sua crença no
Deus católico. É a metáfora do homem decaído (o que está na miséria): o que se
afastou de Deus. Nele vai imperar a fuga para o divertimento. Nesse caso,
qualquer coisa o atrai, qualquer coisa, por mais insignificante que seja, o
diverte. Isto acontece porque o ser humano não soube penetrar no âmago da
religião. Uma vez compenetrado da sua importância perante o Criador do universo,
todo o eixo de sua vida se modificará.
A aposta de Pascal
Ao homem coloca-se uma dupla alternativa: Deus existe ou não existe, e é
preciso apostar em uma delas, como num jogo. As vantagens a favor da primeira
alternativa (Deus existe) são indiscutíveis: no caso de ganhar, o homem ganha
uma existência infinita; e, no caso de perder, não perde nada. (Temática Barsa,
2005)
Pascal e sua obra Os
Pensamentos
Os Pensamentos, redigido após a sua morte por parentes e
amigos, tem uma tese central, que é a proeminência da religião sobre a
filosofia e a ciência. A intenção de Pascal era a de sensibilizar os
incrédulos. Pascal tem que usar a razão e a argumentação, únicos instrumentos
que seu interlocutor reconhece. Vislumbra o tema miséria e grandeza do homem e
pensa essa contradição. A obra pode ser considerada, também, uma crítica ao
racionalismo de Descartes. Nesse sentido, usando o solo da razão e da
experiência para investigar a condição humana, diz: "O coração tem suas
razões que a razão não conhece".
No tema da miséria e da grandeza do homem, ele exalta a sua crença no
Deus católico. É a metáfora do homem decaído (o que está na miséria): o que se
afastou de Deus. Nele vai imperar a fuga para o divertimento. Nesse caso,
qualquer coisa o atrai, qualquer coisa, por mais insignificante que seja, o
diverte. Isto acontece porque o ser humano não soube penetrar no âmago da
religião. Uma vez compenetrado da sua importância perante o Criador do
universo, todo o eixo de sua vida se modificará.
Deduz-se de os Pensamentos que há dois tipos de
opiniões: a dos homens e a dos filósofos. A opinião "dos homens"
(pessoas comuns): acreditam poder alcançar a felicidade conquistando algo (uma
propriedade, uma vitória na guerra, um tipo conhecimento). A opinião dos filósofos:
criticam as pessoas comuns, incapazes de ver que a felicidade não está nas
coisas conquistadas, mas no interior do homem, no conhecimento que este tem de
si mesmo. Para Pascal, tanto uns quantos os outros carecem de um conhecimento
superior, isto é, aquele fornecido pela religião.
Para explicar que nem os homens comuns, nem os filósofos alcançam a
felicidade, ele lança mão da "razão dos efeitos", extraída de seus
estudos físicos e matemáticos. A ideia é simples: colocam-se objetos ou figuras
dentro de um cone. Olhando-os horizontalmente, tem-se uma visão parcial (os
objetos adquirem vários contornos); olhando-os de cima para baixo, tem-se uma
visão mais acurada. Comparativamente, se olharmos a vida sob a inspiração
divina, teremos uma visão mais ampla, do que simplesmente olhando-a do ponto de
vista do homem comum ou mesmo do filósofo.
A crença religiosa de Pascal era tão firme, que o fez dizer que as suas
descobertas geométricas nada significavam, porque elas não o ajudavam a salvar
a sua alma. (Birchal, 2007)
7 — Bibliografia Consultada
BIRCHAL, Telma de Souza. Pascal e a Condição Humana. In:
FIGUEIREDO, Vinicius (org.). Filósofos na Sala de Aula. São Paulo:
Berlendis & Vertecchia, 2007, vol. 2.
ESPINOSA, Baruch. Tratado
da Reforma da Inteligência. Tradução de Lívio Teixeira. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
GARCIA MORENTE, M. Fundamentos
de Filosofia - Lições Preliminares. 4.
ed., São Paulo, Mestre Jou, 1970.
JERPHAGNON,
L. Dicionário das Grandes Filosofias. Lisboa, Edições 70,
1982.
JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de
Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa
Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da
Palavra, 2013.
SÃO MARCOS, M. P. Noções de História da Filosofia. São
Paulo, FEESP, 1993.
Temática Barsa - Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.
São Paulo, março de 2016.
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