02 novembro 2025

Racionalismo (Algumas Notas)

1 — Conceito de Racionalismo. 2 — Representantes do Racionalismo. 3 — Descartes. 4 — Spinoza. 5 — Leibniz. 6 — Pascal. 7 — Bibliografia Consultada.

1 — Conceito de Racionalismo

Racionalismo. Doutrina que privilegia a razão dentre todas as faculdades humanas, considerando-a como fundamento de todo conhecimento possível.

Contrariamente ao empirismo (valorizando a experiência) e ao fideísmo (valorizando a revelação religiosa), o racionalismo designa doutrinas bastante variadas suscetíveis de submeter à razão todas as formas de conhecimento. Em seu sentido filosófico, ele tanto pode ser uma visão do mundo que afirma o perfeito acordo entre o racional e a realidade do universo quanto uma ética que afirma que as ações e as sociedades humanas são racionais em seu princípio, em sua conduta e em sua finalidade. (Japiassu, 2008)

2 — Representantes do Racionalismo

René Descartes (1596-1650)

Baruch Spinoza (1632-1677)

Leibniz, Gottfried Wilhelm (1646-1716)

Blaise Pascal (1623-1662)

3 — Descartes

“Penso, logo, existo."

Discurso do Método

No século XVII tem início com Descartes (1596-1650) o que se conhece pelo nome de "racionalismo", e que será desenvolvido até as últimas consequências por Spinoza e Leibniz. O racionalismo deve ser entendido de duas maneiras: como oposição epistemológica, a partir da qual se afirma que a razão é a única fonte de conhecimento: e como oposição metafísica, na qual se sustenta que o real é racional. Dessa maneira, o racionalismo configura uma orientação diferente da do empirismo, que põe ênfase no conhecimento a partir da experiência. As duas orientações, a racionalista e a empirista, convergirão mais tarde na filosofia de Kant. Partindo desses pressupostos, Descartes elabora o primeiro grande sistema filosófico da Idade Moderna; um sistema para o qual confluem sinteticamente as conquistas do humanismo renascentista e os avanços produzidos na ciência moderna, para desembocar numa nova metafísica que influenciará decisivamente a evolução posterior do pensamento ocidental.

A filosofia cartesiana cria imediatamente uma escola no continente europeu. Um de seus desenvolvimentos mais notáveis é constituído pelo ocasionismo de Malebranche. (Temática Barsa, 2005

Dados pessoais

René Descartes (1596-1650) nasceu em La Haye, França, pertencendo a uma família de prósperos burgueses. Estudou no colégio jesuíta de La Fléche, na época um dos mais conceituados estabelecimentos de ensino europeu. Foi soldado, esteve sob as ordens de Maurício de Nassau. Participou de várias campanhas militares. As obras de Descartes são de considerável extensão. As mais importantes são: Regras para a Direção do Espírito (1628), O Discurso do Método (1637) e Meditações Filosóficas (1641). (Jerphagnon, 1982)

Sonho premonitório

A dez de novembro de 1616, o jovem Descartes teve um sonho premonitório. Sonhou que o Espírito da Verdade o visitara e, reverente, tal como é natural à Entidade de sua estirpe, comunicou-lhe que lhe competia a missão de edificar uma "Ciência Admirável", cujas coordenadas lhe trouxe em outra visita onírica. Houve, ainda, uma terceira, concluindo o esclarecimento devido. Ao acordar, preocupado com a responsabilidade de tão grande missão, pediu a Deus que o amparasse a fim de que pudesse fielmente cumprir a grande tarefa, tão acima de suas parcas forças. (São Marcos, 1993, p. 76)

Cartesianismo

O cartesianismo – de Cartesius, nome latinizado de Descartes – encontrou de imediato numerosos seguidores, a ponto de se impor na Europa continental frente ao empirismo dos britânicos.

cartesianismo – proveniente de Descartes – é considerado, por muitos historiadores da filosofia, como a passagem da filosofia do renascimento à moderna. Descartes, em seu Discurso do Método, enfatiza as duas armas necessárias à concretização do seu programa de conhecimento: liberdade do arbítrio e a disciplina consciente a que deve livremente se submeter para conhecer segundo a razão. Ao lado desses dois, acrescenta um terceiro: Deve haver uma razão em nós e no mundo, sem o que não seria possível nem proveitoso dispor de nossa liberdade e de nossa disciplina para conhecer.

Filosofia fora da Universidade

A filosofia de Descartes foi desenvolvida fora da universidade. Por isso, suas críticas ferrenhas aos postulados escolásticos, ligados à tradição. Começou com correspondências, que enviava a vários pensadores da época. Somente depois, transformou essas discussões num tratado. Além do mais, o Discurso do Método foi escrito originariamente em francês, contrariando o hábito da época, que era o de escrever textos filosóficos e científicos em latim.

As matemáticas como modelo

Descartes toma as matemáticas como modelo ou paradigma de suas investigações filosóficas e do conhecimento em geral. É nas matemáticas que a razão encontra um campo próprio, um terreno em que não se deve submeter a nada além de sua própria lei, sua maneira própria e natural de proceder.

Em primeiro lugar, na ciência matemática a razão, com todo o direito, é plenamente autossuficiente. As proposições matemáticas não dependem da experiência, são "verdades da razão", e isto quer dizer que possuem uma validade universal e absoluta. Um triângulo, por exemplo, sempre terá três lados, e isto, em nenhum momento poderá ser desmentido pela experiência. Devido a essa autossuficiência, a razão nas matemáticas só aceita como verdadeiro o que se apresenta a ela com clareza. A clareza e a simplicidade das matemáticas se convertem naquilo a que aspiram todas as outras ciências. Finalmente, as matemáticas mostram que a razão procede dedutivamente, deriva novas ideias a partir de primeiros princípios evidentes. (Temática Barsa, 2005)

A intuição e a dedução

Dois atos fundamentais nos conduzem à verdade: a intuição e a dedução.

intuição é o conceito, fácil e distinto, de um espírito puro e atento, de que nenhuma dúvida poderá pesar sobre o que nós compreendemos.

dedução é apenas uma série de intuições - e, como se pode sempre esquecer um momento da série, será necessário pela imaginação e pela memória habituarmo-nos a repassar cada vez mais rapidamente no nosso espírito os termos da dedução, até que leve a uma "quase intuição". (Jerphagnon, 1982)

As regras do método

Descartes se propõe buscar a solução a partir do problema. Desejava encontrar, por si mesmo, uma solução evidente que permitia reorganizar nossos juízos e separar neles o falso do verdadeiro. Dizia: "Na menor dúvida tome algo por falso"; "prefira errar dizendo que uma coisa é falsa a errar dizendo que ela é verdadeira". Daí, as suas quatro célebres regras, cujo objetivo era auxiliar a resolução de qualquer problema, porque as regras tinham um caráter geral e não técnico. 

1.ª) Só admitir como verdadeiro o que parece evidente, evitar a precipitação assim como a prevenção; 

2.ª) Dividir o problema em tantas partes quantas as possíveis (é o que se chama regra de análise); 

3.ª) Recompor a totalidade subindo como que por degraus (regra da síntese); 

4.ª) Rever o todo para se Ter a certeza de que não se esqueceu de nada e que, portanto, não há erro. (Jerphagnon, 1982)

A dúvida metódica 

Descartes analisa o conhecimento vigente e conclui que nada se lhe oferece, de modo indubitável, sobre o que possa fundamentar o seu trabalho. Tem que buscar alguma coisa fora da tradição, uma ideia, uma única que seja, mas que resista a todas as dúvidas. Toma como paradigma a geometria que partindo de algumas proposições certas em si mesmas, descobre outras verdades e esgota todas as possibilidades; também a filosofia deve, de igual modo, descobrir e demonstrar as suas verdades, dedutivamente, partindo de algumas proposições certas, indubitáveis. O edifício filosófico que lhe compete estruturar a de assentar, sobre uma verdade contra a qual nenhuma dúvida, a mínima que seja, possa pairar. (São Marcos, 1993, p. 77)

Em suas regras, chama-nos a atenção sobre a precipitação e a prevenção, dois graves erros que cometemos na busca do conhecimento. A precipitação é a tendência de julgar mais rápido do que o recomendável; a prevenção, a tendência a evitar a responsabilidade de um juízo, seguindo uma opinião pré-fabricada. Toma, assim, a resolução de se desfazer de todas as opiniões que recebera até então. Faz tábua rasa e começa o seu labor para conhecer a verdade das coisas.

"Penso, logo, existo"

Seu método inclui a dúvida metódica. Como se explica? Parte do conhecimento centrado em si mesmo. Dizia: “Cogito ergo sum”, penso, logo existo. Mas o cogito, ao evidenciar a existência de quem pensa, permite estabelecer o seguinte raciocínio: se eu existo, sei que sou finito. Porém, a ideia do finito implica ao mesmo tempo a do infinito. Para Descartes, o infinito é Deus. Descobre Deus pela sua própria razão e não vindo de fora como o Deus de Platão e dos escolásticos.

Minha existência como sujeito pensante não é somente a primeira verdade e a primeira certeza: é também o protótipo de toda verdade e de toda certeza. Tudo quanto eu perceber com a mesma evidência com que percebi que sou um sujeito pensante será verdadeira e, portanto, poderei afirmá-lo com certeza inquestionável. 

As evidências

Em suas lucubrações filosóficas, diz que o pior precipitado não é aquele que erra dizendo "isso é falso"; é o que erra dizendo "isso é verdadeiro". Afirma que há apenas um instrumento para resgatar as verdades que porventura tenham sido rejeitadas inicialmente: são as evidências. Em seu modo de ver as coisas, achava que somos livres para aceitar o falso, para errar. Podemos, ainda, impor os nossos erros aos outros, bastando termos força ou engenho suficientes para isso.

4 — Spinoza

"Um homem livre é aquele que vive sob os ditames da razão, não se conduz pelo medo; em vez disso, deseja seguir diretamente o bem."

Ética

O dualismo da mente e da matéria introduzido pela filosofa cartesiana tem como uma de suas consequências a formulação de um panteísmo pelo qual se postula uma única ordem racional, uma identificação entre o ser de Deus e o ser do mundo. O autor dessa doutrina em que se concebe Deus imanente, todo razão, é Baruch de Spinoza (1632-1677).

Os ecos de Giordano Bruno são bem patentes na filosofia desse pensador judeu, e até se poderia dizer que nela tem continuidade a grande tradição neoplatônica medieval e renascentista. Não se deve, entretanto, perder de vista a linha que tem origem em Descartes, já que a filosofia de Spinoza é uma derivação consequente da problemática introduzida pelo grande pensador francês. (Temática Barsa, 2005)

Traços biográficos

Baruch Spinoza (1632-1677). De família judia portuguesa, o filósofo Baruch Spinoza nasceu em Amsterdã, Holanda. Estudou o hebreu, o Talmude e a Bíblia. Aprendeu espanhol, português, holandês e francês. Logo rompeu com a ortodoxia judaica, mas sem se aproximar do cristianismo. Acusado de judeu e de ateu, de ímpio e de fatalista, tentou explicar o seu ponto de vista sobre a religião. (Japiassu, 2008)

Notas de sua filosofia

Spinoza é um caso complexo, porque depende de Descartes. Esforça-se por apresentar uma solução diferente – para a relação espírito matéria – daquela dada por Descartes. Quer dar uma solução diferente, mas seguindo os passos de Descartes. Assim, a essência da filosofia de Spinoza é o seu sistema totalizante, que tudo abarca. Tal sistema, concebido matematicamente, entende Deus como Natureza (Deus sevi Nature). A partir de suposições básicas (definições e axiomas) e uma série de demonstrações geométricas constrói o universo que vem ser igualmente Deus.

Descartes ensinava que o universo é feito de duas espécies de substância: o espírito e o corpo. Esse dualismo não satisfaz Spinoza. Ele pergunta: como o espírito se relaciona com a matéria? Ensina que há apenas uma substância que constitui todo o universo. A isso chamou Deus. Vista de certo modo é corpo, vista de outro é espírito. A uma, Espinosa chamou extensão; a outra, espírito. A substância é absolutamente independente de tudo, pois representa tudo. É infinita, causada por si mesma e autônoma. Essa concepção unificadora é conhecida como panteísmo. Muito apegado a essa teoria, muitos a ele se têm referido como inebriado de Deus.

O corpo não afeta o espírito nem este àquele. Ambos, porém, são manifestações de uma única e mesma realidade universal, Deus. A árvore é um atributo de Deus; o pensamento que nos ocorre neste momento é um atributo de Deus. Tudo o que acontece no corpo, acontece também no espírito. É o que se chama paralelismo psicológico, isto é, o corpo e o espírito são sempre paralelos, pois constituem dois aspectos de uma só e mesma realidade. No homem o espírito percebe os seus próprios atos, é consciente. Quer dizer, a substância do espírito é mais complexa do que a substância do corpo, embora todas façam parte de uma única substância.

O sistema filosófico de Spinoza é determinista. Tudo no universo segue alguma coisa, mas numa cadeia causal definida, cujos elos se acham necessariamente ligados ao antecedente e ao consequente. A alma não pode ser imortal num sentido individualista; tem na realidade, imortalidade com um modo de Deus que, da mesma maneira que Deus, não pode ser destruída.

O panteísmo spinoziano

Sendo a essência da substância o ser causa de si mesmo, portanto, conceitos idênticos, a noção de substância equivale a Deus. Assim, em última análise, só Deus – que, em Spinosa, é um Ser que consta de um número infinito de atributos todos perfeitos – pode perfazer completamente o conceito de substância. Deus é a única e verdadeira substância. Tudo existe em Deus, fora de Deus nada pode existir, pois Ele esgota todas as possibilidades existenciais.

É aí que aparece o Panteísmo Spinoziano, porém, Espinosa quebra a rigidez panteísta desmembrando em dois momentos o conceito: Natura Naturans ou Natura Naturata, isto é, Natureza Criadora e Natureza Criada: "Deus sive substância sive natura". Spinoza realiza a ideia embrionária existente no espírito de Descartes: Um Deus imanente na Criação, isto é, não uma individualidade dirigindo de fora o universo, mas aquela entidade suprema que, imanente em todas as coisas, nelas palpita e as mantém.

Este panteísmo de Espinosa constitui a forma mais precisa de compreensão da existência de uma "Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Uma Inteligência ou Entidade que abrange a totalidade de tudo quanto há e pode haver, e, como abrangente de tudo, não pode estar de fora, pois, não há espaço em que não esteja; é um panteísmo que clareia a intuição teológica de Deus no que tem de possível. (São Marcos, 1993, p. 82 e 83)

Correção do Intelecto

A palavra reforma é usada para nos referirmos à melhoria do ser. Ela não é a mais adequada. Observe que Spinoza utilizou o termo emendatio em seu Tratado da Reforma da Inteligência, uma obra inacabada. De acordo com Lívio Teixeira, tradutor da obra, emendatio significa não só melhoria, mas retificação, ação de restabelecer a verdade. Correção seria a melhor tradução, ou seja, “Tratado da Correção do Intelecto”.

Spinoza se coloca diante do mundo e daquilo que é motivo de cobiça dos seres humanos, quais sejam as honras, as riquezas e os prazeres. Em suas reflexões, acaba descobrindo que a procura desses bens é vão e fútil, porém muitas vezes necessária. Apela para a sua inteligência, no sentido de buscar o verdadeiro bem e a suprema felicidade. Quer criar um método, um caminho, que ele chama de “Tratado da Reforma da Inteligência”.

O caminho consiste em analisar os tipos de percepção que as pessoas têm. Segundo Spinoza, há quatro tipos, a saber: 1) percepção que temos pelo ouvir ou por algum outro sinal que designa convencionalmente; 2) percepção que se adquire pela experiência vaga; 3) percepção em que a essência de uma coisa se conclui de outra, mas não adequadamente; 4) Finalmente há uma percepção em que uma coisa é percebida só pela sua essência ou pelo conhecimento da sua causa próxima.

Para Spinoza, o verdadeiro método é o caminho, e conhecer exatamente a nossa natureza é o que nos leva à perfeição. Assim, deveríamos nos basear no conhecimento reflexivo ou na ideia da ideia. Quer dizer, deveríamos fazer um esforço para separar a ideia verdadeira das outras percepções e impedir a mente de confundir com as verdadeiras as que são falsas, fictícias ou duvidosas. Com isso, entende-se, também, que quanto mais conhecimento o sujeito absorve mais se lhe apura a sua visão de mundo, e facilita a captação de percepções mais refinadas.

Ninguém poderá chegar à mais alta sabedoria sem uma correção do intelecto. A emendatio é uma correção da inteligência. Na verdade, é fruto da nossa própria inteligência. Quanto mais conhecimento tivermos, mais se nos apresentará a ideia do ser perfeito. O nosso esforço deve se basear na obtenção de ideias claras e distintas, ideias que não sejam produzidas pelos movimentos fortuitos do corpo, mas que se produzem no pensamento. Ele disse: “A nossa felicidade ou infelicidade depende de que espécie de coisas damos o nosso amor; somente o amor das coisas eternas e infinitas nutre a alma (animus) de puro gozo". (Espinosa, 2004)

5 — Leibniz

“Nada acontece sem que haja uma razão suficiente para ser assim e não de outro modo.”

 Carta a Samuel Clark

Com Leibniz, o pensamento alemão passa a ocupar o primeiro plano na filosofia europeia, e o faz por meio de esquemas formulados por Descartes. Como este e como Spinoza, Leibniz vê Deus como a pedra angular que unifica o pensamento e a realidade exterior. O pensador alemão, no entanto, é um crítico do mecanicismo e do dualismo cartesianos, e está longe de se adaptar às formulações panteístas de Spinoza. A substância não tem extensão. é formada por mônadas, que se estendem como unidades indivisíveis por todas as ordens da criação. Não há dualismo da mente e da matéria, mas antes uma escala (quase evolutiva) entre os seres da natureza, coroada por Deus, mônada das mônadas, no padrão de uma harmonia preestabelecida.

Vivemos assim no melhor dos mundos possíveis. As coisas têm uma razão de ser, ainda que não compreendamos isso, e o mal se deve à nossa imperfeição. Deus está plenamente justificado (teodiceia). (Temática Barsa, 2005)

Traços biográficos

Leibniz, Gottfried Wilhelm (1646-1716). Nasceu em Leipzig e estudou Direito, Filosofia e Matemática em Iena. Recebeu o grau de doutor em Direito com a idade de 20 anos. Serviu como conselheiro bibliotecário da corte, em Hanover, até ao dia de sua morte.

Sonhou com a fundação de uma confederação dos Estados europeus. Descobriu, em 1676, ao mesmo tempo que Newton, o cálculo infinitesimal. Trabalhou para a reunião das Igrejas católica e protestante. Suas obras mais importantes: Ensaio Filosófico sobre o Entendimento Humano (1690), Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano (1704), A Teodiceia (1710) e A Monodologia (1714). Sua filosofia é influenciada pelo mecanicismo cartesiano e pelas causas finais de Aristóteles. (Japiassu, 2008)

Notas de sua filosofia

Em Teodiceia (1710), um de seus poucos livros, Leibniz discute como conciliar a existência de um Deus todo-poderoso, benevolente, com o fato de haver situações desagradáveis no mundo. Ele evoca o princípio da razão suficiente, segundo o qual tudo tem uma razão de existir, e para existir da maneira como existe. Portanto, no caso em que Deus teve de decidir que tipo de mundo criar, ele deve ter tido razão suficiente para criar este mundo em que vivemos. E como Deus é moralmente perfeito, sua escolha só pode ter sido determinada pelo valor do nosso mundo, o que por sua vez significa que o nosso mundo é o melhor dos mundos possíveis. Foi essa questão de "melhor dos mundos possíveis" que Voltaire ridicularizou sem dó nem piedade em seu romance Cândido, à medida que um desastre após outro se abatia sobre os protagonistas.

A obra posterior, Monadologia (1714), traz as conclusões de Leibniz sobre a composição do universo, que, de acordo com ele, é constituído de substâncias elementares chamadas mônadas (do grego monos, "sozinho"), sendo cada uma delas eterna e incorruptível. Apesar de as aparências indicarem o contrário, essas mônada não interagem umas com as outras de forma causal - causas e efeitos são ilusões, assim como espaço e tempo. Em vez disso, cada mônada se ocupar em seguir instruções pré-programadas e se comporta de determinada forma simplesmente porque isso faz parte de sua identidade: uma mônada está "grávida" de futuro e "carregada" de passado, assim como uma semente. O Deus benevolente determinou sua harmonia preestabelecida, e cada uma delas representa um reflexo minúsculo do universo. (Levene, 2013)

6 — Pascal

“O coração tem razões que a razão desconhece.” Pascal

No século XVI, o racionalismo cartesiano convive na França com as tendências religiosas jansenistas, movimento espiritual e místico de origem agostiniana que tinha se infiltrado, sobretudo, na abadia de Port-Royal. Desse clima surge Pascal, eminente físico e matemático, mas também um espírito profundo e um homem apaixonadamente religioso.

Pascal contesta as pretensões da razão filosófica e científica de alcançar uma certeza total, resumindo a sua atitude com a seguinte frase: "Dois excessos: excluir a razão, não admitir mais do que a razão". Assim como santo Agostinho e tantas outras correntes místicas que confirmam a tradição do cristianismo ocidental (e que na época são impulsionadas pela espiritualidade protestante), Pascal responde que o anseio de uma certeza total só procede da fé, de "um deus sensível ao coração, não à razão". Dessa maneira, o pensamento pascalino se situa no extremo oposto do racionalismo, em uma direção surpreendentemente contrária ao espírito da época, e será preciso esperar até o século XIX, e mesmo até o nosso tempo, para que a obra de Pascal, isolada pelo Iluminismo, seja revalorizada. (Temática Barsa, 2005)

Dados pessoais 

Blaise Pascal (1623-1662) foi matemático, cristão e filósofo, nascido em Clermont-Ferrand, na França. Viveu apenas 39 anos. Escreveu várias obras científicas, tais como, o Ensaio sobre as Cônicas e o Tratado sobre o Vácuo (1651). Os Pensamentos, porém, é seu trabalho mais conhecido. Nesta obra, segue a mesma linha de raciocínio dos aforismos de Heráclito, ou seja, condensa as suas ideias em fórmulas curtas e fortes, deixando, ao leitor, a incumbência de desdobrá-las mais tarde. 

As limitações da razão

Pascal, que era também cientista, sabe da importância da razão científica. Acontece que ele tem pouco apreço pelos argumentos filosóficos que procuram atestar a existência de Deus. “O homem não pode entender o que é a corporeidade e menos ainda o que é espírito e, de maneira alguma, como um corpo pode estar unido a um espírito”.  

Distingue dois tipos de razão, a do silogismo e a do coração. Por isso, ele diz: “O coração tem razões que a própria razão desconhece.”  

As razões do coração 

Embora seja homem de ciência, trabalha com as razões do coração. Com o coração “conhecemos os primeiros princípios e é em vão que o raciocínio, que não participa deles, tenta combatê-los”. Com o coração se alcança a certeza de uma forma “totalmente interior e imediata”. Entende que o coração é uma faculdade como a própria razão o é. 

O homem: um ser dual 

A vida do ser humano é miséria e morte, mas também dimensão pensante. Pode ser destruído por um sopro de vento, mas também é dotado de consciência. “... mesmo que o universo o destruísse, o homem ainda seria mais nobre do que aquilo que o mata. Porque sabe que morre, e o que o Universo tem de vantagem sobre ele, e o Universo não sabe nada disso”. 

No tema da miséria e da grandeza do homem, ele exalta a sua crença no Deus católico. É a metáfora do homem decaído (o que está na miséria): o que se afastou de Deus. Nele vai imperar a fuga para o divertimento. Nesse caso, qualquer coisa o atrai, qualquer coisa, por mais insignificante que seja, o diverte. Isto acontece porque o ser humano não soube penetrar no âmago da religião. Uma vez compenetrado da sua importância perante o Criador do universo, todo o eixo de sua vida se modificará.

A aposta de Pascal 

Ao homem coloca-se uma dupla alternativa: Deus existe ou não existe, e é preciso apostar em uma delas, como num jogo. As vantagens a favor da primeira alternativa (Deus existe) são indiscutíveis: no caso de ganhar, o homem ganha uma existência infinita; e, no caso de perder, não perde nada. (Temática Barsa, 2005)

Pascal e sua obra Os Pensamentos

Os Pensamentos, redigido após a sua morte por parentes e amigos, tem uma tese central, que é a proeminência da religião sobre a filosofia e a ciência. A intenção de Pascal era a de sensibilizar os incrédulos. Pascal tem que usar a razão e a argumentação, únicos instrumentos que seu interlocutor reconhece. Vislumbra o tema miséria e grandeza do homem e pensa essa contradição. A obra pode ser considerada, também, uma crítica ao racionalismo de Descartes. Nesse sentido, usando o solo da razão e da experiência para investigar a condição humana, diz: "O coração tem suas razões que a razão não conhece".

No tema da miséria e da grandeza do homem, ele exalta a sua crença no Deus católico. É a metáfora do homem decaído (o que está na miséria): o que se afastou de Deus. Nele vai imperar a fuga para o divertimento. Nesse caso, qualquer coisa o atrai, qualquer coisa, por mais insignificante que seja, o diverte. Isto acontece porque o ser humano não soube penetrar no âmago da religião. Uma vez compenetrado da sua importância perante o Criador do universo, todo o eixo de sua vida se modificará.

Deduz-se de os Pensamentos que há dois tipos de opiniões: a dos homens e a dos filósofos. A opinião "dos homens" (pessoas comuns): acreditam poder alcançar a felicidade conquistando algo (uma propriedade, uma vitória na guerra, um tipo conhecimento). A opinião dos filósofos: criticam as pessoas comuns, incapazes de ver que a felicidade não está nas coisas conquistadas, mas no interior do homem, no conhecimento que este tem de si mesmo. Para Pascal, tanto uns quantos os outros carecem de um conhecimento superior, isto é, aquele fornecido pela religião.

Para explicar que nem os homens comuns, nem os filósofos alcançam a felicidade, ele lança mão da "razão dos efeitos", extraída de seus estudos físicos e matemáticos. A ideia é simples: colocam-se objetos ou figuras dentro de um cone. Olhando-os horizontalmente, tem-se uma visão parcial (os objetos adquirem vários contornos); olhando-os de cima para baixo, tem-se uma visão mais acurada. Comparativamente, se olharmos a vida sob a inspiração divina, teremos uma visão mais ampla, do que simplesmente olhando-a do ponto de vista do homem comum ou mesmo do filósofo.

A crença religiosa de Pascal era tão firme, que o fez dizer que as suas descobertas geométricas nada significavam, porque elas não o ajudavam a salvar a sua alma. (Birchal, 2007)

7 — Bibliografia Consultada

BIRCHAL, Telma de Souza. Pascal e a Condição Humana. In: FIGUEIREDO, Vinicius (org.). Filósofos na Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007, vol. 2.

ESPINOSA, Baruch. Tratado da Reforma da Inteligência. Tradução de Lívio Teixeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia - Lições Preliminares. 4. ed., São Paulo, Mestre Jou, 1970.

JERPHAGNON, L. Dicionário das Grandes Filosofias. Lisboa, Edições 70, 1982.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. 

LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. 

SÃO MARCOS, M. P. Noções de História da Filosofia. São Paulo, FEESP, 1993.

Temática Barsa - Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.

São Paulo, março de 2016.

 

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