NOTAS EXTRAÍDAS DO CD "Filosofia
para Iniciantes", em que Sílvia Sibalde entrevista
Wesley Dourado, professor e coordenador do Curso de Filosofia da
Universidade Metodista de São Paulo.
O ato de filosofar é debruçar-se sobre
a realidade no intuito de procurar aquilo que não está imediatamente dado à
nossa percepção. É ir além daquilo que aparece à superfície.
A filosofia não busca a verdade, mas
verdades. Seria como descobrir as verdades de uma dada comunidade.
O ser humano é questionador por natureza.
Observe as crianças: estão sempre fazendo perguntas que podem deixar os mais
velhos sem respostas. A realidade que nos cerca faz-nos questionar a todo o
momento: política, religião, relacionamentos. Não convivemos muito bem com o
mistério.
As questões são sempre as mesmas ou
mudam ao longo do tempo? Algumas questões permanecem, tais como a ética, a
existência, o ser. As perguntas são as mesmas, mas as circunstâncias em que as
respondemos são outras.
A função da filosofia é preparar a
pessoa para viver bem em sociedade. É o espaço para a crítica e criatividade,
onde os indivíduos pensam o seu lugar no mundo.
A filosofia se torna muitas vezes
incompreensível porque deixa de lado o momento presente e preocupa-se com sua
história, com os escritos de filósofos famosos. Hoje, há uma
tendência de olhar a filosofia como uma tarefa do pensar e não propriamente uma
volta ao passado. São os problemas do nosso momento, do nosso lugar que
provocam o diálogo.
A filosofia contribui para a felicidade
quando mostra que a pobreza, a velhice, a exploração infantil são problemas e
que precisamos debruçar sobre eles.
A princípio não há incompatibilidade
entre fé e filosofia. Tanto Santo Agostinho quanto São Tomás já haviam
demonstrado. Há, contudo, uma incompatibilidade com a fé televisiva, aquela que
se vende como produto de supermercado.
O filosofar deve começar pelo próprio
indivíduo, verificando quais são as suas dúvidas, as suas questões, tanto como
indivíduo como alguém que se reconhece parte de uma sociedade. Depois, procurar
na filosofia alguém que possa conversar sobre isso. Há textos na Internet que
podem ajudar nesse trabalho.
A filosofia surgiu no século VI a.C.
Entre as diversas explicações sobre a origem da filosofia, cita três razões: 1)
gosto pela associação; b) gosto pela opinião; c) sentido de pertença. Para
tanto, faz referência ao Banquete de Platão. Antes disso, havia o mito. O mito
explica a realidade como sendo consequência das forças e dos poderes divinos.
Os pré-socráticos, chamados de sábios,
estão num processo transição entre o mito e a nova forma de fazer filosofia. A
pergunta é a mesma da mitologia, ou seja, queriam saber a origem das coisas. Só
que buscam a resposta não nos deuses, mas no uso da razão.
Diz-se que a profissionalização da
filosofia surgiu com os sofistas, que cobravam por seus ensinamentos. Não é
verdade. A profissionalização é dos nossos dias. Na época, os sofistas
ensinavam retórica, que é a arte do convencimento, aos jovens e, para tanto, recebiam
em troca dinheiro. Sócrates ensinava, mas não cobrava.
Só sei que nada sei" é uma
frase-chave no pensamento filosófico. O aparecimento de Sócrates implica o
rompimento com os sofistas, com os políticos que tinham um pensamento muito
raso e com os naturalistas, que estavam preocupados com a origem das coisas.
Esta frase mostra que só Deus sabe e o sábio é aquele que reconhece que não
sabe. A grande contribuição de Sócrates foi mudar a pergunta sobre a origem das
coisas para o que é o ser humano. Ao se debruçar sobre essa questão vai se
enverando pela politica, pela ética que são elementos da convivência
humana.
Na obra de Sócrates, há o termo
"espanto", não apenas com relação à filosofia, mas as coisas de um
modo geral. O ensino da filosofia se dá quando há o espanto, a admiração, que
se poderia chamar de provocação. O aprendizado e o ensino da filosofia é
provocar o espanto; depois, tentar decifrá-lo.
A importância de Aristóteles nos dias
atuais está na permanência dos problemas que ele enfrentou, porém em outra
dimensão: ética, política, formas de governo etc.
São Tomás Aquino retoma o pensamento de
Aristóteles, mas precisamente na ética. A ética de Aristóteles fundamenta-se na
felicidade, que é o bem maior. Não é qualquer felicidade, mas aquela que se
alcança com a atividade racional, que ele chama de eudemonismo, cuja raiz está
na justa medida. São Tomás também se baseia nesse eudemonismo. Só que a
felicidade deve estar em consonância com o divino e, no caso, o Deus cristão.
Maquiavel, em O Príncipe, diz
que sua obra é um pensar, um cogitar sobre o modo de governar. Primeiramente,
rompe com o pensamento da Igreja, esclarecendo que o poder não é divino.
Observando os príncipes, anota alguns parâmetros para que os príncipes consigam
governar com êxito. Em certo momento, diz que não é possível o exercício do
poder sem alguma violência. Não que ele defenda a violência.
Pouco valorizado em vida, o tempo para
a obra filosófica de Friedrich Nietzsche estava ainda por chegar. O
motivo é simples: a Igreja e a racionalidade filosófica tinham grande
influência na época. Para ele, viver a vida é dar espaço para os instintos, os
desejos, a subjetividade.
O existir em Descartes não é o mesmo
que o existir em Jean-Paul Sartre. Para René Descartes, o existir estava
atrelado ao pensar: Cogito ergo sum. Para Sartre, primeiro nós
existimos; depois nos definimos. A existência é uma construção humana que não
está restrita ao pensar. Estamos condenados à liberdade. Escolhemos o rumo do
nosso existir.