Metáfora é a mudança do sentido comum de uma palavra por outro
sentido possível que, a partir de uma comparação subentendida, tal palavra
possa sugerir. A palavra trilho pode sugerir-nos diversas ideias: de finito e
infinito, de destino do ser humano, do bem e do mal, da perfeição, de um ideal
a ser atingido, de um roteiro, dos desvios de rumo e da ansiedade.
Em
uma viagem trem, podemos observar os trilhos paralelos que servem para a nossa
volta. Ao redor deles, há pedras, dormentes, árvores e vegetação rasteira.
Sentados próximo à janela, estas imagens deslizam suavemente aos nossos olhos.
Se não tivermos nenhuma preocupação, o nosso pensamento pode acompanhar essas
imagens e delas extrair material para futuras reflexões. Façamos este pequeno
exercício.
Observando
os trilhos, percebemos que há, entre eles, uma distância finita, que é a medida
entre um trilho e outro. Esta medida é fixa e constante, pois serve de apoio
para as rodas do trem. Ao mesmo tempo, os dois trilhos paralelos parecem que
vão até o infinito, pois eles vão deslizando como se nunca chegasse ao fim.
Embora pareça que não tem fim, sabemos que a última estação é o término, o fim,
mas a impressão de infinito move a nossa mente, principalmente no sentido de
expandir o nosso pensamento, as nossas ideias, os nossos ideais. Temos a
impressão que caminhamos para o desconhecido, para o futuro, para aquilo que
Deus está nos reservando.
Tomemos,
por exemplo, a perfeição a ser atingida. Os dois trilhos podem significar os
limites para as nossas ações no bem. Caso os ultrapassemos, ou seja, saiamos
dos trilhos, sofreremos as consequências, pois praticamos o mal, e o mal não
faz parte do nosso caminho de evolução espiritual. Ir além dos limites,
trar-nos-á dor. Sofrendo-a com resignação, podemos voltar novamente ao caminho
do bem, ou seja, entrar novamente nos trilhos da perfeição. Caso nos
revoltemos, podemos continuar mais tempo fora dos trilhos da perfeição.
Podemos
pensar: se eu conseguisse viajar sempre dentro desses trilhos, economizaria
tempo e mais rapidamente chegaria ao porto do meu destino. A vida, contudo, não
transcorre nessa harmonia linear. Ela tem altos e baixos, desvios, mudança de
rota. Às vezes é preciso fazer uma pausa, parar, refletir, para melhor
caminhar, tal qual nos ensinava Sócrates com a sua maiêutica. Lembremo-nos
também de Paulo que, depois de aderir ao cristianismo, precisou ficar três anos
no deserto, trabalhando no tear, para poder adquirir maturidade espiritual e
desempenhar nobremente a sua nobre missão de levar a boa nova do Cristo aos
pagãos.