16 novembro 2019
Mito da Caverna
14 setembro 2019
Utopia de Thomas More
Thomas More
(1478-1535), nascido na Inglaterra, desempenhou muitas funções, entre as quais,
homem de estado, diplomata, advogado, Chanceler do Reino e escritor. Em nove de
maio de 1935 foi canonizado como santo pela Igreja Católica. Dado o seu tempo
exíguo, pois tinha que cuidar das coisas do Estado e da família, escrevia
roubando tempo do sono e de suas refeições.
Thomas
More estudou em Oxford, onde conheceu e se correspondeu com Erasmo de
Roterdã, autor de “Elogio da loucura”. Eram leitores dos filósofos
clássicos e, em virtude das ideias do estoicismo e do epicurismo, passaram
a contestar a tradição escolástica. O pano de fundo era incentivar as
pessoas a terem liberdade do pensamento.
A Utopia de Thomas More descreve uma ilha imaginária
permeada de justiça, liberdade e igualdade. Lugar totalmente oposto ao que
vivia na Inglaterra, governada pelo rei Henrique VIII. Como essa sociedade era
organizada de modo racional, seus habitantes não seriam enviados para guerra, a
não ser em caso extremo. A palavra "utopia" carrega
significados ambíguos: como lugar inexistente ou, ainda, como lugar de
felicidade.
Ronaldo de
Oliveira Batista, doutor em linguística, no seu prefácio, resume o objetivo do
livro:
"Fim da propriedade individual e permanente, implicando com isso a troca periódica das residências, que são sorteadas. Aquisição do necessário para a subsistência, sem exigência de pagamento para o que for consumido. Eleições para cargos de autoridade, inclusive para o príncipe. Senado e assembleias populares discutem leis, posteriormente votadas. Liberdade religiosa, com respeito às diferentes crenças. Cursos para aprimoramento intelectual dos habitantes, que assim também evitavam a ociosidade. Ausência do sentimento de posse, uma vez que há compartilhamento entre os indivíduos e famílias".
More defendia a
crença na imortalidade da alma, numa vida após a morte do corpo físico, e nas
recompensas futuras.
MORE, Thomas. A Utopia. Tradução de Alda Porto. São Paulo: Martin Claret, 2013. (Coleção a obra-prima de cada autor)
13 agosto 2019
Mentira
Há duas acepções sobre a verdade: 1) acepção epistemológica, pela qual a
verdade é a adequação entre a inteligência e a coisa observada, e se opõe ao
erro; 2) acepção moral, pela qual a verdade é a adequação entre a
inteligência e a sua expressão manifestativa e, nesse sentido, se opõe à
mentira. Daí, verificamos que a verdade moral é a adequação entre aquilo que se
percebe da coisa, do fato em si, e aquilo que a respeito dele, se manifesta por
qualquer sinal expressivo: o gesto, a palavra escrita ou oral.
Mentira. Ato pelo qual um emissor altera aquilo que ele
reconhece como verdadeiro. Na distinção entre erro e mentira, verificamos que o
erro é um engano, um julgamento em desacordo com a realidade observada. Em se
tratando da mentira, supõe a intenção de dizer o falso. A mentira pressupõe
sempre uma verdade, ou a ideia de verdade, pois caso contrário não seria
mentira. Ainda: o paradoxo do mentiroso consiste em afirmar que se está
mentindo; nesse caso, quando se diz a verdade, mente-se, e quando se mente, diz
a verdade.
Mentir é condenado, mas muito
praticado. Alguns acham que mentir é sempre condenado, independentemente dos
benefícios que a mentira possa oferecer. Acontece que, em algumas
circunstâncias, os efeitos prejudiciais podem ser compensados pelo benefícios
que a mentira promove. Suponha que uma pessoa esteja muito doente. Mentir-lhe
sobre sua expectativa de vida pode ser útil, pois ele poderia viver melhor e
distante de uma depressão, que debilitaria ainda mais a sua resistência
orgânica.
A mentira retarda o desenvolvimento
do espírito? (Questão 192 de O Consolador, pelo Espírito Emmanuel).
Resposta: "A mentira é a ação capciosa que visa o proveito imediato de si
mesmo, em detrimento dos interesses alheios em sua feição legítima e sagrada; e
essa atitude mental da criatura é das que mais humilham a personalidade humana,
retardando, por todos os modos, a evolução divina do Espírito".
Jesus coloca-nos uma
frase emblemática: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".
Pergunta-se: Como nos libertarmos da mentira e do erro da ideologia vigente, do
pragmatismo e da ascendência da ciência sobre a metafísica? Refletindo sobre a
totalidade do ser e o sentido da vida do ser humano sobre a Terra. Cada um de
nós tem uma percepção particular da lei natural, uma espécie de sexto sentido
que nos faz desviar do mal. Só se chafurdam no erro e na mentira, aqueles que
se descuidam do "vigiar e orar".
F. B. Ávila, em sua Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo, enfatiza o esforço do ser humano pela descoberta da verdade. Ele diz: "Na dispersão das atividades que absorvem o nosso dinamismo vital, um dia o homem percebe que o tempo passa, e que ele está embarcado num movimento irreversível que o aproxima irremediavelmente de um fim. Neste momento, ele se interroga sobre o sentido fundamental da vida. Se ele não descobre esse sentido, será cada vez mais abatido pelo tédio ou amargurado pelas decepções. Descobrir a verdade é entender esse sentido, pelo qual ele adquire a certeza inabalável de que a vida vale a pena de ser vivida, e a segurança de que poderá enfrentar o fim com serenidade".
Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/mentira
20 junho 2019
Vida Interior
"A felicidade tem muito mais a
ver com a vida interior do que com os bens exteriores."
A sociedade moderna, presa ao
consumismo exacerbado, preocupa-se muito mais com o saber-fazer do
que o saber-ser. Ser vencedor é a sua marca registrada. Se o
fracasso nos bate à porta, deixamo-nos corroer pelo drama e ficamos cabisbaixos
diante da vida. O que vale é o útil, o meio, a produção. O inútil, o pensar e o
filosofar ficam sempre para o segundo plano. Em meio a tudo isso, podemos nos
voltar para os grandes pensadores do passado e, junto com eles, construir uma
vida interior significativa.
Sócrates, Platão, Aristóteles,
Confúcio, Buda, Epicuro, Montaigne, entre outros, legaram-nos ideias e
pensamentos que são extremamente importantes para a nutrição de nossa vida
interior. Vejamos alguns deles: conhecimento de si mesmo, o caminho do meio, a
justa medida, aceitar a vida como ela é, a busca do silêncio, reviver como foi
o dia, meditação, amizade, virtude e contemplação.
Esses grandes pensadores não paravam de
dizer que devíamos combater a ignorância, pois esta é a causa de todos os
males. O primeiro passo para essa grande empreitada é saber discernir. Para
discernir, há que se empenhar na busca do conhecimento. Hegel, por exemplo,
achava que a busca do conhecimento é a busca da liberdade. Sócrates, na
sua maiêutica, eternizou o "Só sei que nada sei". A inscrição
completa dessa máxima era: "Conhece-te
a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses."
Aristóteles, em Ètica a Nicômaco,
ensinou-nos que a virtude é a "justa medida" entre extremos nocivos.
Buda transformou-a no caminho do meio. Pitágoras, em sua escola, ensinava que
as qualidades constitutivas do ser humano seriam: austeridade, coragem,
moderação e autocontrole. Aristóteles preferiu usar os termos
"prudência", "temperança", "coragem" e
"justiça", as quatro virtudes cardeais. Às quatro virtudes cardeais,
a moral cristão acrescentou as três virtudes teologais, ou seja, a fé, a
esperança e a caridade.
Sobre o amar a si mesmo, Pitágoras,
um dos primeiros filósofos da Grécia antiga, tinha como lema esta regra de
ouro: "Acima de tudo, respeita a ti mesmo." Aristóteles, em Ética
a Nicômaco, afirma: "O homem virtuoso tem o dever de amar a si
mesmo." Há, também, a exigência bíblica: "Amarás o teu próximo como a
ti mesmo". Jesus retoma essa máxima nos mesmos termos. A psicologia
moderna, por seu turno, ensina-nos que se a relação consigo mesmo é distorcida,
haveremos de projetar no outro os problemas que nos pertencem e que não estão
resolvidos.
A regra de ouro "Não faça aos
outros o que não quer que lhe seja feito" é uma espécie de lei natural que
antecede a todas as formulações filosóficas. Esta pode, também, ser enunciada
positivamente: "Faça aos outros o que gostaria que lhe fosse feito."
Fonte de Consulta
LENOIR, Frédéric. Pequeno Tratado
de Vida Interior. Tradução Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
12 junho 2019
Inutilidade: Busca Desinteressada do Saber
O "útil" caracteriza-se pela intermediação, vale por
tudo aquilo a que se dirige, não por si mesmo. A criação e a renovação
constante são seus atributos. O "inútil", em se tratando de um
fim em si mesmo, caracteriza-se pela perfeição e pela liberdade. Nesse sentido,
a existência lúdica, a estética e a especulação intelectual desinteressada
tornam-se uma necessidade, porque distanciam-nos dos aspectos práticos da vida.
A contemplação de uma boa música ou de uma obra de arte pode levar-nos ao
êxtase.
Na antiguidade, a busca do saber não visava o lucro, mas a apreensão da
verdade. Para tanto, basta recordar as vivências de Sócrates, Platão e
Aristóteles. Sócrates, com sua ironia e maiêutica, criava contradição naqueles
que se julgavam donos da verdade. Platão, no Teeteto, diz que os
"homens livres" não têm problemas com o tempo, enquanto os
"escravos" estão condicionados por um patrão que decide. Aristóteles,
por sua vez, afirmava que é pela admiração que os indivíduos se põe a
filosofar, e que em seus níveis mais elevados o conhecimento não é "uma
ciência prática".
Há, ao longo da história, outros pensadores que enalteceram a livre
busca do conhecimento. Em Nova Atlântica (1627), Francis Bacon
enfatiza que os seus ilhéus não mantinham o comércio para obter lucro, mas
somente para "aumentar o conhecimento". Shakespeare, em O Mercador de Veneza, no
reino de Belmonte, mostra que o ouro e a prata são desprezados. Para Kant, o
desinteresse atingirá também o juízo estético. Martin Heidegger, refletindo
sobre a essência da obra de arte, diz: "O mais útil é o inútil. Mas
experienciar o inútil é o mais difícil para o homem moderno."
A maioria das universidades, hoje,
está reduzindo os níveis de dificuldade a fim de permitir que os estudantes
passem nos exames com maior facilidade. Muitas delas estão cortando as verbas
dos cursos que não dão retorno financeiro, e deixando cada vez esquecidos os
autores clássicos da filosofia. Há, contudo, um problema, pois muitas descobertas
se deram no campo do desinteresse. Basta consultar a vida de alguns grandes
cientistas: estes não foram movidos pelo lucro, mas por seus insights, por sua
missão humanitária.
A produção técnica tem o seu valor, ou seja, fornece-nos o conforto do
lar, a facilidade da comunicação, a locomoção rápida pelas grandes aeronaves...
Contudo, não nos esqueçamos que a vida, na sua essência, transcende tudo isso.
Fonte de Consulta
ORDINE, Nuccio. A Utilidade do
Inútil: Um Manifesto. Tradução de Luiz Carlos Bombasaro. Rio de Janeiro:
Zahar, 2016.
23 abril 2019
Teoria
"O
maior valor da vida depende do poder da contemplação." (Aristóteles)
Teoria é um conjunto de raciocínios que dão nexo, fundada
em fatos ou suposições. Diz-se, também, do processo resumido de contemplação e
compreensão que pode ser sustentado por evidências. Theoria é um verbo usado para descrever uma ampla
variedade de atividades intelectuais. Platão
(424-348 a.C.), por exemplo, associou o verbo aos estados do processo
intelectual de compreensão.
Theoria. De theos, Deus, o ser que se vê, que em grego quer dizer
visão. Os gregos, quando iam às suas festas religiosas, faziam longas filas e
podiam ser vistas à distância, ou seja, ter delas uma visão, denominaram-as de theoria. As filas que tinham um nexo, pois tendiam ao templo,
significou também o que se vê pelos olhos do espírito. Palavra de uso corrente
transformou-se, metaforicamente, em termo para a Filosofia.
Os gregos, de maneira nenhuma opunham, como hoje, teoria e prática.O conhecimento teórico,
em toda a antiguidade clássica grega, era entendido como a contemplação da
verdade (aletheia) em si mesma. A supremacia do
conhecimento teórico sobre o prático ou técnico provém do fato de ele ser útil
em si mesmo, independentemente de sua aplicação exterior.
No sentido moderno, uma
teoria equivale a um corpo de proposições adequadas à explicação e à
interpretação dos fenômenos dentro de determinado campo disciplinar,
descobertas por indução e aplicadas por dedução. Nesse sentido, a teoria passou
a ser um conjunto de regras ou de normas a que devem obedecer os fenômenos ou a
sua interpretação. Por isso, diz-se que o conhecimento tornou-se
teórico-experimental. Há uma concepção mental, uma teoria; para que tenha
validade, há necessidade de colher dados e prová-la, geralmente com o auxílio
de modelos matemáticos.
As teorias
estão sujeitas a novas descobertas e podem ser derrubadas por relatos mais
adequados. Há muitos exemplos, tais como, a substituição da gravidade
newtoniana pela teoria geral da relatividade de Einstein. Mas, a derrubada da teoria
geocêntrica de Ptolomeu pela teoria heliocêntrica de Copérnico é considerado o
marco mais importante da teoria científica. Nicolau
Copérnico (1473-1543), astrônomo de origem polonesa, ao negar ser a Terra o
centro do Universo, deu a partida para o Universo infinito e a Nova Ciência.
Fonte de Consulta
ARP, Robert (Editor). 1001 Ideias que Mudaram a Nossa
Forma de Pensar.
Tradução Andre Fiker, Ivo Korytowski, Bruno Alexander, Paulo Polzonoff Jr e
Pedro Jorgensen. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.
SANTOS, M. F. dos. Convite à Filosofia e à História da Filosofia. 6. Rd., São Paulo: Logos, s.d.p.
08 março 2019
Ansiedade e Budismo
"Perguntaram ao Buda: O que você
ganhou com a meditação? Ele disse: — Nada, mas deixe-me dizer o que
perdi com ela: ansiedade, raiva, depressão, insegurança, medo da velhice e da
morte".
Buda revelou-nos os ensinamentos das quatro nobres verdades — a verdade do sofrimento, a verdade da origem do sofrimento, a verdade da libertação do sofrimento e a verdade do caminho da libertação —, que são antigos, mas muito úteis nos dias presentes. A didática desses ensinamentos resume-se em nossa escolha: queremos perpetuar o sofrimento ou interrompê-lo em sua origem?
Um dos aspectos relevantes do Budismo é
a ansiedade, inerente a todos os viventes neste planeta Terra. Esta
ansiedade decorre de nossa insatisfação com as coisas em geral. Quando nos
sentimos solitários, procuramos companhia; quando temos pessoas demais ao nosso
lado, sentimo-nos claustrofóbicos. Embora algumas demandas sejam atendidas,
ainda assim a ansiedade permanece. Daí, a neurose, o desconforto, a depressão.
Para corrigir a ansiedade, geramos agressão, paixão e orgulho (kleshas),
que desviam o foco de nossa ansiedade básica.
Para alcançarmos um lampejo de
liberação, deveríamos reconhecer a existência do sofrimento, que a ansiedade
está ocorrendo. Este é o princípio básico do Budismo. "A dor provém da
ansiedade e a ansiedade vem da neurose. Uma grande quantidade de abafamento
leva-nos à neurose. Os ensinamentos de Buda não nos dizem como nos livrar dessa
dor ou como abandoná-la; dizem apenas que temos de entender nosso estado de
ser. Algumas vezes nos acostumamos a nosso sofrimento e outras vezes sentimos
falta dele, então, deliberadamente pedimos mais sofrimento".
A ansiedade manifesta-se de diversos
modos: comer sem quase mastigar, não querer cortar as unhas, fazer tudo tão
rapidamente, não esperar o vendedor completar a venda etc. "A única
maneira de trabalhar essa ansiedade é por meio da prática da meditação, domar a
mente, praticar o shamatha. Isso nada mais é do que domar a si mesmo. É melhor
trabalhar com a realidade do que com idealizações".
Há oito tipos de sofrimento: nascimento,
velhice, doença, morte, encontrar o que não é desejável, não ser capaz de
conservar o que é desejável, não conseguir o que se deseja e ansiedade geral.
Poderíamos meditar a respeito de cada um deles e observar as nossas reações. A
velhice, por exemplo, tolhe-nos sobremaneira porque restringe os nossos atos,
as nossas caminhadas, a nossa locomoção.
Buda, pede-nos para buscar o nirvana,
ou seja, transcender a agonia e problemas como o aturdimento, a insatisfação e
a ansiedade.
Fonte de Consulta
TRUNGPA, Chôgyam. As 4 Nobres
Verdades do Budismo e o Caminho da Libertação. Compilado e organizado por
Judith L. Lief. Tradução de Oddone Marsiaj. São Paulo: Cultrix, 2013.
27 fevereiro 2019
Só Sei que Nada Sei
"O resultado da discussão, no que me diz
respeito, é que eu nada sei..." [Sócrates, citado, em A República de
Platão (360 a.C.)]
Muitas palavras perdem o seu sentido original ao
longo do tempo. Buscando a etimologia delas, podemos ter alguma luz sobre as
variações ocorridas. Há, também, palavras e frases, retiradas de um contexto,
que produzem um significado contestável. Da passagem acima, as pessoas
preferiram simplesmente dizer: "só sei que nada sei". Alguns
acadêmicos enfatizam a incoerência de Sócrates sobre a frase. Dizem: "Se ele de fato nada sabe, então é falso que ele
saiba disso; mas, se ele sabe que nada sabe, então é falso que ele nada
sabe".
O contexto da frase pode ser visto: 1) em A
República (360 a.C.), Sócrates conclui uma discussão com Trasímaco sobre
"justiça" dizendo "o resultado da discussão, no que me diz
respeito, é que eu nada sei, pois quando eu não sei o que é justiça
dificilmente saberei se é ou não uma forma de virtude, ou se a pessoa a que a
tem é feliz ou infeliz"; 2) em Apologia (399 a.C.), Sócrates fala
de um político respeitado que "ele não sabe nada e acha que sabe. Eu nem
sei nem acho que sei".
Outras considerações sobre "só sei que nada
sei".
O “só sei que nada sei” socrático exprime a
ignorância filosófica, ou seja, a que permite o acesso ao saber, já que se
reconhece como ignorância, abrindo o caminho para o conhecimento. É neste
sentido que Sócrates afirmava também que “o conhecimento da ignorância é o
início da sabedoria”.
Para Sócrates, a ignorância
constitui condição prévia para o saber autêntico. Só quem reconhece a sua
ignorância está capacitado ao aprendizado. Por isso, dizia: "sei que nada
sei". Para chegar a esse estado prévio do não-saber, Sócrates lança mão de
seu método, que é o de perguntar. As perguntas objetivavam descobrir o conceito
que se ocultava na superficialidade do conhecimento. Primeiramente, aplicava
a ironia, que é a forma negativa do diálogo, em que procurava
confundir o interlocutor sobre um conhecimento que acreditava possuir; depois,
aplicava a maiêutica, a forma positiva do diálogo que, baseado no
ofício de parteira de sua mãe, procurava dar à luz um novo saber. Ele não
ensinava, mas criava condições para que o conhecimento brotasse do ouvinte.
"Só sei que nada sei" é
uma frase-chave no pensamento filosófico. O aparecimento de Sócrates implica o
rompimento com os sofistas, com os políticos que tinham um pensamento muito
raso e com os naturalistas, que estavam preocupados com a origem das coisas.
Esta frase mostra que só Deus sabe e o sábio é aquele que reconhece que não
sabe. A grande contribuição de Sócrates foi mudar a pergunta sobre a origem das
coisas para o que é o ser humano. Ao se debruçar sobre essa questão vai se
enverando pela política, pela ética que são elementos da convivência humana.
A ciência é o resultado das
hipóteses, enunciados e corolários levantados ao longo do tempo. Por trás,
porém, de cada corolário, de cada hipótese e de cada enunciado há uma pergunta.
Por isso, diz-se que “o máximo da pergunta científica são os postulados,
axiomas e teorias que são formulados por um pensamento prévio interrogador”. A
filosofia também é construída por meio de perguntas. E, quanto mais se
pergunta, mais se tem o que perguntar, pois o “sei que nada sei” socrático pode
se dirigir ao infinito.
01 janeiro 2019
Mosca Socrática