Na
história da filosofia, a aparência teve dois significados diametralmente
opostos: 1) ocultação da realidade; 2) manifestação ou revelação da realidade.
No primeiro caso, a aparência vela ou esconde a realidade das coisas. É preciso
transpô-la; no segundo caso, a aparência é o que manifesta ou revela a
realidade, de tal modo que este encontra na aparência a sua verdade, a sua
revelação. No primeiro caso, conhecer significa libertar-se das aparências
(Sócrates e Platão); no segundo, conhecer é confiar na aparência, deixá-la
aparecer.
Em
metafísica, depois de Kant, o termo aparência caiu em desuso. Em seu lugar
deve-se usar fenômeno. O termo aparência hoje em dia conserva um sentido
psicológico, ou seja, toda a representação, ou melhor, toda a presentação que
se considere diferente do objeto que lhe corresponde. O termo antitético é
realidade.
O que se
entende por realidade? O adjetivo real concerne às coisas e qualifica o que é
dado, o que existe efetivamente. Indica, assim, o modo de ser das coisas
existentes fora da mente humana ou independentemente dela. Consequentemente
opõe-se por um lado ao que é aparente e ilusório, e, por outro lado, ao que é abstrato.
Aquilo
que vemos é realmente o que vemos? Esta questão remete-nos ao próprio pensar do
ser humano. Podemos simplesmente absorver uma informação (de modo passivo) ou,
ao contrário, indagar se ela tem fundamento, se condiz com a verdade dos fatos.
O nosso procedimento, como seres racionais, é o de questionar se a informação
recebida tem um fundo de verdade. João, em seu Evangelho, já nos
alertava para não acreditarmos em todos os espíritos. Antes disso, deveríamos
verificar se eles são de Deus, ou se são mistificadores. Em outras palavras,
desconfiemos das aparências.
A dúvida
metódica de Descartes auxilia-nos a penetrar o nosso olhar além das aparências
das coisas. Descartes analisa o conhecimento vigente e conclui que nada se lhe
oferece, de modo indubitável, sobre o que possa fundamentar o seu trabalho. Tem
que buscar alguma coisa fora da tradição, uma ideia, uma única que seja, mas
que resista a todas as dúvidas. Ele coloca uma dúvida, não para simplesmente
duvidar, mas para extrair da sua dúvida a verdade. Aristóteles, por outro lado,
dizia: "... o que é diferente de alguma coisa é sempre diferente por
qualquer coisa, e tanto assim que deve necessariamente haver algo de idêntico,
pelo que são diferentes". (Metafísica, 1054b, 25 segs.) Parte-se,
muitas vezes, do conhecido para o desconhecido.
Bibliografia Consultada
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.
5 comentários:
Eu naobentendi uma coisa."É preciso transpo-lá
Sim. É preciso transpor a aparência, ou seja, aquilo que se nos apresenta aos olhos.
Excelente explicação!!!
Amei
Muito obrigado, me ajudou bastante
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