Regina Schöpke, doutora em filosofia e medievalista, e Mauro
Baladi, graduado em filosofia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro,
fazem a seleção, a apresentação e a tradução do livro Filosofia
Clandestina: Cinco Tratados Franceses do Século XVIII, com o
intuito de tornar público o "movimento" filosófico-literário, cuja
marca foi a circulação de diversas obras anticlericais e de crítica política
entre os séculos XVI e XVIII.
O Verdadeiro Filósofo, de autoria de César Chesneau
du Marsais (1676-1756), célebre gramático, advogado e filósofo francês, nascido
em Marselha, é o primeiro texto. Esta obra pode ser considerada um autêntico
manifesto da nova filosofia do século das luzes, preocupada em intervir
favoravelmente na formação crítica da população. Rejeita, assim, o caráter
puramente metafísico da reflexão.
O segundo texto é o Breviário Filosófico ou História do Judaísmo, do Cristianismo e do Deísmo
em 33 Versos, escrito por Giuseppe Antonio Giachimo Cerutti, jesuíta, escritor
político e jornalista italiano, radicado na França ainda jovem. O livro
apresenta um pequeno poema atribuído ao rei da Prússia, Frederico II. Cerutti
critica, em notas, os episódios do Velho e do Novo Testamento, com a intenção
de atacar a Igreja e seu instrumental de ritos e dogmas, no sentido de
instituir a religião natural, fundamentada na razão e na virtude.
O terceiro texto, de autor anônimo, é o mais longo e sintetiza o
conteúdo mais radical das críticas ao monopólio das ideias vigentes na época. O
título é: Giordano Bruno Redivivo ou Tratado dos Erros Populares, de 1771.
Dividido em cinco partes, ou seja: 1) Da Pluralidade dos Mundos; 2) Os Conhecimentos Humanos nada Têm de Seguro; 3) Da Existência de Deus; 4) Deus não é Imutável; 5) Não Seria Possível Conciliar a Ciência de Deus, seu
Conhecimento e seu Governo Absolutos com o Mal que Existe no Mundo.
Das Conspirações contra os Povos ou Das Proscrições, de
1766, o quarto texto, traz a marca do iluminismo francês e da própria literatura
clandestina de Voltaire. A trajetória de Voltaire é uma luta contra a
ignorância, a superstição, a intolerância, o fanatismo e os abusos de toda
ordem. Para tal fim, usa a sátira, temperada com uma sólida erudição e uma
ironia que não poupa ninguém (e que chegou a levá-lo para a prisão e ao
exílio). Esta obra poderia ser chamada: Uma Pequena História dos Grandes Massacres Motivados pela
Intolerância Religiosa.
Profissão de Fé dos Teístas, também de Voltaire, é o
quinto texto. Atribuído a um pretenso conde e veladamente dedicado a Frederico
II, ele faz uma defesa apaixonada do teísmo, apresentado como a única religião
verdadeira, visto que é natural, intuitiva e precede todas as outras. Trata-se
de uma religião não institucionalizada, em que os dogmas devem ser substituídos
pela razão, e os sacerdotes pelo bom senso. É totalmente inspirada e guiada
pela "luz natural".
Fonte de Consulta
DU MARSAIS, César Chesneau. Filosofia Clandestina: Cinco Tratados Franceses do Século
XVIII. Seleção, apresentação e tradução de Regina Schöpke e Mauro Baladi. São
Paulo: Martins, 2008. (Coleção Tópicos Martins)