02 novembro 2025

Filosofia Medieval (Algumas Notas)

1 — O Pensamento Medieval. 2 — A Escolástica. 3 — Bibliografia Consultada. 

1 — O Pensamento Medieval

Desde a dissolução do Império Romano, no século V, até a época do renascimento, que tem início no século XV, decorre a "Idade Média" da história ocidental, considerada uma obscura e prolongada etapa de transição em que o pensamento se teria extraviado perdido num fundo de primitivismo. Só o esforço da igreja teria mantido intacto o fio de continuidade com o passado. Hoje, sem se pôr em dúvida a barbárie dos primeiros séculos medievais, valoriza-se a Idade Média como uma época autônoma e original em que se reinterpretou o legado do pensamento antigo a se forjarem respostas para a relação do homem com Deus e com o Universo que a razão técnico-científica ainda não tinha conseguido encontrar.

Razão e fé

Um dos grandes problemas da filosofia medieval é o da relação entre razão e fé — ou entre filosofia e teologia — e seu respectivo papel na compreensão do mundo. Por certo, a filosofia é considerada ancilla theologiae ("serva de teologia") e os medievais são mais teólogos do que filósofos, mas se investiu grande esforço para encontrar uma síntese entre as duas. O equilíbrio se rompe no final da Idade Média: fé e razão se separam definitivamente e a filosofia conquista sua autonomia frente à revelação e à teologia. 

O problema dos universais

A reinterpretação que na Idade Média se faz do pensamento antigo segue a orientação do chamado realismo. Nessa época, não se deve entender realismo no sentido positivista, mas platônico, pois se trata daquele idealismo de Platão que concede realidade às ideias, como arquétipos ou essências preexistentes. Na linguagem medieval, isto é suscitado como discussão dos universais. As ideias, as noções abstratas e gerais que temos das coisas, existem realmente, ou serão apenas nomes que servem para designar os objetos? 

Há uma corrente de base platônica e agostiniana que defende um realismo extremo (os universais existem e são ante res, anteriores às coisas); outra corrente que se opõe à anterior por meio do seu nominalismo (os universais não são reais e estão post rem, depois das coisas); e finalmente, uma posição intermediária, a dorealismo moderado (os universais existem, mas apenas como formas das coisas particulares), que está na base da síntese aristotélica-tomista. 

O realismo foi, no entanto, a atitude geral que impregnou por inteiro o espírito do pensamento medieval. Em qualquer pensador da Idade Média se observa logo uma tendência para a abstração genérica e universalista. Além da apreensão individualizada e concreta das coisas e do estudo de sua inter-relação causal, a mente medieval apresenta uma predisposição para a hierarquização ordenada das grandes ideias e conceitos. Essa tendência para a generalização é produto de uma atitude que outorga verdadeira entidade real a todas as coisas abstratas. O homem medieval outorga existência a tudo aquilo que nomeia como gênero, espécie e qualidade.

A conexão simbólica

No fundo, essa orientação realista do pensamento medieval, em que há sem dúvida uma base e neoplatônica, obedece a uma visão de mundo em que todas as coisas estão simbolicamente conectadas. O instrumento do pensamento medieval é o símbolo, ou melhor, a capacidade de estabelecer correspondência entre todas as coisas, desde as mais elevadas até as inferiores, descobrindo a analogia secreta que as une. 

Uma vez que Deus é auto-revelação, como defende Dionísio Areopagita, também chamado o Pseudo-Dionísio, então todos os objetos, em diferentes graus, constituem manifestações do Criador. Para usar as palavras de João Escoto Erígena, nem a pedra mais humilde pode ser entendida se não se percebe nela a presença de Deus. O pensamento simbólico — que se deve valorizar como uma modalidade do pensamento medieval — estabelece assim uma conexão de sentido sob a aparente multiplicidade do mundo dos fenômenos. O símbolo permite descobrir uma unidade última do ser, o Unus Mundus, em que desaparece a dualidade entre mente e matéria. 

2 — A Escolástica

O pensamento medieval se articula em torno da escolástica, movimento religioso e teológico que surge no século IX e dura até o XV. O nome escolástica provém das scolae monásticas e episcopais que nos primeiros séculos da Idade Média se encarregaram de conservar e transmitir cultura. A característica essencial da escolástica é seu método especulativo, que busca conciliação das verdades da fé e da razão, subordinando a filosofia à teologia. Nesse sentido, é uma continuação da patrística — mas, como é menos uma doutrina do que um método, engloba várias correntes do pensamento bem diferenciadas.

Antecedentes e etapas da escolástica

As diferentes correntes escolásticas podem ser agrupadas, na verdade, em duas grandes orientações. A primeira delas tem como antecedente santo Agostinho e corresponde à orientação platônica do pensamento medieval. É uma corrente essencialmente espiritual e mística que se reclama, no início, tributária das doutrinas de Dionísio Areopagita e que impregna de sentido movimento como o cisterciense ou ordens como a dos agostinianos e, mais tarde, a dos franciscanos. Já no outono da Idade Média, essa corrente dará ainda seus frutos na mística germânica. A outra grande corrente é aristotélica. Nos primeiros séculos medievais, essa orientação é muito fraca, devido em parte ao fato de que a obra de Aristóteles é apenas superficialmente conhecida, por meio dos textos de Boécio. A partir do século XII, entretanto, uma vez que o pensamento aristotélico se difunde amplamente em virtude das filosofias muçulmana e judaica, essa orientação alcançará um formidável desenvolvimento. A recepção, portanto, da filosofia da Antiguidade marca em grau notável as diferentes etapas do pensamento escolástico. 

A filosofia medieval começa propriamente no século IX. O pensamento anterior significou, sobretudo, um trabalho de acumulação e conservação da cultura clássica. Na escolástica, costumam-se distinguir quatro etapas: formação (séculos IX-XI), desenvolvimento (século XII), apogeu (século XIII) e, finalmente, a crise (século XIV). 

Santo Tomás de Aquino: o Apogeu da Escolástica

O apogeu da escolástica se situa no século XIII. Essa é a época em que o papado desfruta de maior autoridade política e é também o século em que os efeitos da "revolução comercial" intensificam os circuitos da economia urbana. Nesse contexto, a instituição primordial que transmite o saber já não é o mosteiro, mas a universidade. Nela, a escolástica floresce como método de raciocínio e discussão, e sobre a base de um rico patrimônio conceitual acumulado lentamente nos obscuros séculos precedentes. É então que acontece a penetração do aristotelismo, paradoxalmente transmitido pelo pensamento muçulmano e judaico, e que obriga a redefinir a estrutura teológica-filosófica do escolasticismo. O autor dessa complexa operação é santo Tomás de Aquino, e o resultado é o tomismo, que a igreja adotará oficialmente a partir de então. 

A Escolástica Tardia

Durante o século XIV — época de crise — o equilíbrio entre doutrinas e crenças se alterou profundamente. O scotismo (sistema filosófico de Duns Scotus) desfaz então as conexões entre razão e fé, dois âmbitos que ficam cindidos depois do nominalismo de Guilherme de Occam. Para Occam e os nominalistas, os universais são simplesmente termos que aludem aos objetos singulares. O domínio da razão está no campo da experiência, o conhecimento das coisas individuais exclui o das verdades da fé que, por serem indemonstráveis, devem ficar relegadas ao âmbito das crenças. Essa atitude de Occam já prefigura o nascimento da ciência moderna e, ao mesmo tempo, assinala o acaso da escolástica e do pensamento medieval. 

Místicos e Visionários

Além do racionalismo escolástico, há ao longo da Idade Média uma corrente de pensamento místico que, apesar de suas interrupções e sua configuração variada, pode ser estudada de forma unitária. Essa corrente, herdeira das doutrinas de Dionísio Areopagita, recebe o impulso das ideias platônicas e do pensamento de santo Agostinho, e se expressa com frequência, por meio de símbolos e visões. O misticismo medieval é, mais do que a expressão de um pensamento, a confissão de uma experiência religiosa que tem por objetivo limpar o caminho que conduz a Deus, elevando o homem do profano ao sagrado. 

A Ciência Medieval

Durante os dez séculos transcorridos entre a queda do Império Romano e o Renascimento, o pensamento científico se desenvolve com grande lentidão. A ciência medieval, vista em seu conjunto, é mais uma adaptação do modelo helenístico do que uma abertura original para novas formas de investigação e de domínio da natureza. Por outro lado, inserida como está em uma cultura teológica, propõe-se apenas, na melhor das hipóteses, a confirmar experimentalmente as verdades religiosas estabelecidas pela igreja. 

O surgimento da ciência experimental, emancipada das crenças da fé, é característica do Renascimento. A época medieval, no entanto, prepara esse surgimento, recuperando por meio dos muçulmanos os esquemas científicos da Antiguidade clássica e trazendo um conjunto de técnicas que serão imprescindíveis para o movimento da ciência moderna. 

3 — Bibliografia Consultada

Temática Barsa — Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.

São Paulo, fevereiro de 2016.

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