1 — O
Pensamento Medieval. 2 — A
Escolástica. 3 — Bibliografia Consultada.
1 — O
Pensamento Medieval
Desde a dissolução do Império Romano, no século V, até a época do renascimento, que tem início no século XV, decorre a "Idade Média" da história ocidental, considerada uma obscura e prolongada etapa de transição em que o pensamento se teria extraviado perdido num fundo de primitivismo. Só o esforço da igreja teria mantido intacto o fio de continuidade com o passado. Hoje, sem se pôr em dúvida a barbárie dos primeiros séculos medievais, valoriza-se a Idade Média como uma época autônoma e original em que se reinterpretou o legado do pensamento antigo a se forjarem respostas para a relação do homem com Deus e com o Universo que a razão técnico-científica ainda não tinha conseguido encontrar.
Razão e fé
Um dos grandes problemas da filosofia medieval é o da relação entre
razão e fé — ou entre filosofia e teologia — e seu respectivo papel
na compreensão do mundo. Por certo, a filosofia é considerada ancilla
theologiae ("serva de teologia") e os medievais são mais
teólogos do que filósofos, mas se investiu grande esforço para encontrar uma
síntese entre as duas. O equilíbrio se rompe no final da Idade Média: fé e
razão se separam definitivamente e a filosofia conquista sua autonomia frente à
revelação e à teologia.
O problema dos universais
A reinterpretação que na Idade Média se faz do pensamento antigo segue a
orientação do chamado realismo. Nessa época, não se deve entender
realismo no sentido positivista, mas platônico, pois se trata daquele idealismo
de Platão que concede realidade às ideias, como arquétipos ou essências
preexistentes. Na linguagem medieval, isto é suscitado como discussão dos universais.
As ideias, as noções abstratas e gerais que temos das coisas, existem
realmente, ou serão apenas nomes que servem para designar os objetos?
Há uma corrente de base platônica e agostiniana que defende
um realismo extremo (os universais existem e são ante
res, anteriores às coisas); outra corrente que se opõe à anterior por
meio do seu nominalismo (os universais não são reais e
estão post rem, depois das coisas); e finalmente, uma posição
intermediária, a dorealismo moderado (os universais existem, mas
apenas como formas das coisas particulares), que está na base da síntese
aristotélica-tomista.
O realismo foi, no entanto, a atitude geral que impregnou por inteiro o
espírito do pensamento medieval. Em qualquer pensador da Idade Média se observa
logo uma tendência para a abstração genérica e universalista. Além da apreensão
individualizada e concreta das coisas e do estudo de sua inter-relação causal,
a mente medieval apresenta uma predisposição para a hierarquização ordenada das
grandes ideias e conceitos. Essa tendência para a generalização é produto de
uma atitude que outorga verdadeira entidade real a todas as coisas abstratas. O
homem medieval outorga existência a tudo aquilo que nomeia como gênero, espécie
e qualidade.
A conexão simbólica
No fundo, essa orientação realista do pensamento medieval, em que há sem
dúvida uma base e neoplatônica, obedece a uma visão de mundo em que todas as
coisas estão simbolicamente conectadas. O instrumento do pensamento medieval é
o símbolo, ou melhor, a capacidade de estabelecer correspondência entre todas
as coisas, desde as mais elevadas até as inferiores, descobrindo a analogia
secreta que as une.
Uma vez que Deus é auto-revelação, como defende Dionísio Areopagita,
também chamado o Pseudo-Dionísio, então todos os objetos, em diferentes graus,
constituem manifestações do Criador. Para usar as palavras de João Escoto
Erígena, nem a pedra mais humilde pode ser entendida se não se percebe nela a presença
de Deus. O pensamento simbólico — que se deve valorizar como uma
modalidade do pensamento medieval — estabelece assim uma conexão de
sentido sob a aparente multiplicidade do mundo dos fenômenos. O símbolo permite
descobrir uma unidade última do ser, o Unus Mundus, em que
desaparece a dualidade entre mente e matéria.
2 — A
Escolástica
O pensamento medieval se articula em torno da escolástica, movimento
religioso e teológico que surge no século IX e dura até o XV. O nome escolástica provém das scolae monásticas e episcopais que nos
primeiros séculos da Idade Média se encarregaram de conservar e transmitir
cultura. A característica essencial da escolástica é seu método especulativo,
que busca conciliação das verdades da fé e da razão, subordinando a filosofia à
teologia. Nesse sentido, é uma continuação da patrística — mas, como é menos
uma doutrina do que um método, engloba várias correntes do pensamento bem
diferenciadas.
Antecedentes e etapas da
escolástica
As diferentes correntes escolásticas podem ser agrupadas, na verdade, em
duas grandes orientações. A primeira delas tem como antecedente santo Agostinho
e corresponde à orientação platônica do pensamento medieval. É uma corrente
essencialmente espiritual e mística que se reclama, no início, tributária das
doutrinas de Dionísio Areopagita e que impregna de sentido movimento como o
cisterciense ou ordens como a dos agostinianos e, mais tarde, a dos
franciscanos. Já no outono da Idade Média, essa corrente dará ainda seus frutos
na mística germânica. A outra grande corrente é aristotélica. Nos primeiros
séculos medievais, essa orientação é muito fraca, devido em parte ao fato de
que a obra de Aristóteles é apenas superficialmente conhecida, por
meio dos textos de Boécio. A partir do século XII, entretanto, uma vez que o
pensamento aristotélico se difunde amplamente em virtude das
filosofias muçulmana e judaica, essa orientação alcançará
um formidável desenvolvimento. A recepção, portanto, da filosofia da
Antiguidade marca em grau notável as diferentes etapas do pensamento
escolástico.
A filosofia medieval começa propriamente no século IX. O pensamento
anterior significou, sobretudo, um trabalho de acumulação e conservação da
cultura clássica. Na escolástica, costumam-se distinguir quatro etapas:
formação (séculos IX-XI), desenvolvimento (século XII), apogeu (século XIII) e,
finalmente, a crise (século XIV).
Santo Tomás de Aquino: o Apogeu da Escolástica
O apogeu da escolástica se situa no século XIII. Essa é a época em que o
papado desfruta de maior autoridade política e é também o século em que os
efeitos da "revolução comercial" intensificam os circuitos da
economia urbana. Nesse contexto, a instituição primordial que transmite o saber
já não é o mosteiro, mas a universidade. Nela, a escolástica floresce como
método de raciocínio e discussão, e sobre a base de um rico
patrimônio conceitual acumulado lentamente nos obscuros séculos precedentes. É
então que acontece a penetração do aristotelismo, paradoxalmente transmitido
pelo pensamento muçulmano e judaico, e que obriga a redefinir a estrutura
teológica-filosófica do escolasticismo. O autor dessa complexa operação é santo
Tomás de Aquino, e o resultado é o tomismo, que a igreja adotará oficialmente a
partir de então.
A Escolástica Tardia
Durante o século XIV — época de crise — o equilíbrio entre
doutrinas e crenças se alterou profundamente. O scotismo (sistema filosófico de
Duns Scotus) desfaz então as conexões entre razão e fé, dois âmbitos que ficam
cindidos depois do nominalismo de Guilherme de Occam. Para Occam e os
nominalistas, os universais são simplesmente termos que aludem aos objetos
singulares. O domínio da razão está no campo da experiência, o conhecimento das
coisas individuais exclui o das verdades da fé que, por
serem indemonstráveis, devem ficar relegadas ao âmbito das crenças. Essa
atitude de Occam já prefigura o nascimento da ciência moderna e, ao mesmo
tempo, assinala o acaso da escolástica e do pensamento medieval.
Místicos e Visionários
Além do racionalismo escolástico, há ao longo da Idade Média uma
corrente de pensamento místico que, apesar de suas interrupções e sua
configuração variada, pode ser estudada de forma unitária. Essa corrente,
herdeira das doutrinas de Dionísio Areopagita, recebe o impulso das
ideias platônicas e do pensamento de santo Agostinho, e se expressa
com frequência, por meio de símbolos e visões. O misticismo
medieval é, mais do que a expressão de um pensamento, a confissão de uma
experiência religiosa que tem por objetivo limpar o caminho que conduz a Deus,
elevando o homem do profano ao sagrado.
A Ciência Medieval
Durante os dez séculos transcorridos entre a queda do Império Romano e o
Renascimento, o pensamento científico se desenvolve com grande lentidão. A
ciência medieval, vista em seu conjunto, é mais uma adaptação do modelo
helenístico do que uma abertura original para novas formas de investigação e de
domínio da natureza. Por outro lado, inserida como está em uma cultura
teológica, propõe-se apenas, na melhor das hipóteses, a confirmar
experimentalmente as verdades religiosas estabelecidas pela igreja.
O surgimento da ciência experimental, emancipada das crenças da fé, é
característica do Renascimento. A época medieval, no entanto, prepara esse
surgimento, recuperando por meio dos muçulmanos os esquemas
científicos da Antiguidade clássica e trazendo um conjunto de técnicas que
serão imprescindíveis para o movimento da ciência moderna.
3 — Bibliografia Consultada
Temática Barsa — Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.
São Paulo, fevereiro de 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário