02 novembro 2025

Iluminismo (Algumas Notas)

1 — O Pensamento Iluminista. 2 — O Iluminismo Francês. 3 — O Enciclopedismo. 4 — Rousseau. 5 — O iluminismo Alemão. 6 — As Ideias Científicas do Iluminismo. 7 — Bibliografia Consultada.

1 — O Pensamento Iluminista

Filosofia e movimento cultural

O Iluminismo que é tanto uma filosofia quanto um movimento cultural, tem suas origens na Inglaterra, de onde se expande para França, Alemanha e demais países europeus, dentro de limites cronológicos fixados por convenção entre a revolução inglesa de 1688 e a revolução francesa de 1789.

Do ponto de vista filosófico, esse é um período do pensamento iluminista, que aspira à emancipação do homem e de toda a humanidade por meio das luzes da razão. A ruptura que então se estabelece com a tradição metafísica não tem precedente. (Temática Barsa, 2005)

A idade da razão

O essencial para o pensamento iluminista é a afirmação da autonomia da razão. Essa autonomia é preparada pelo racionalismo e pelo empirismo, mas chega à sua plenitude no século XVIII quando se propõe, além disso, como programa de emancipação de toda a humanidade. A razão é a luz e deve iluminar todos os homens. Daí o nome de "iluminismo".

O homem estava na escravidão, vivia nas trevas da superstição, da ignorância, do fanatismo e da intolerância; quer dizer, de todas as forças da irracionalidade humana. Os iluministas pensam que essas forças podem ser vencidas porque o homem chegou, como expressa Kant, à sua maioridade. E a idade adulta é a idade da razão. (Temática Barsa, 2005)

O livre-pensamento

A razão, que para os iluministas é uma nova divindade, exerce-se em primeiro lugar como crítica livre e sem preconceitos, como livre-pensamento que leva, segundo o enciclopedista D'Alembert, destruir, analisar e mexer em tudo, "das ciências profanas aos fundamentos da revelação, da metafísica às matérias do gosto, da música até a moral, das disputas escolásticas dos teólogos aos objetos do comércio, dos direitos dos princípios às leis arbitrárias das nações...".

O pensamento iluminista é, por isso, mais do que uma nova filosofia, uma maneira diferente de entender a filosofia, mais rica em conteúdos práticos do que teóricos, mais atenta aos usos concretos da razão do que à metafísica. Sociologicamente, e expressão de uma classe social em ascensão, a burguesia, e é também por isso um pensamento cujos conteúdos ideológicos triunfam na revolução francesa de 1789. Temática Barsa, 2005)

2 — O Iluminismo Francês

Entre os diferentes pensadores que integram o iluminismo francês, Voltaire e Montesquieu são dois dos mais representativos. Apesar de suas diferenças, os dois têm vários aspectos em comum: sua confiança na razão, seu repúdio à religião e o fato de terem a Inglaterra como ponto de referência. Voltaire baseia seu programa iluminista nos ideais da tolerância religiosa e da liberdade política, tais como se concretizaram na monarquia inglesa, e ao mesmo tempo se encarrega de difundir na França a física newtoniana. Montesquieu desenvolve seu pensamento político a partir do constitucionalismo britânico e traz contribuições de grande peso para a doutrina do liberalismo. (Temática Barsa, 2005)

Voltaire

"A dúvida não é uma condição agradável, mas a certeza é absurda." 

- Carta a Frederico, o Grande, 28 de novembro de 1770.

Voltaire (1694-1778). O escritor, poeta e filósofo francês (nascido em Paris) Voltaire, cujo nome real era François Marie Arouet, é conhecido sobretudo por ter sido o grande promotor da cosmologia newtoniana na França e por ter destruído a crença no poder da encantação sobre o mundo natural. Partidário da Aufklärung e do "despotismo esclarecido", combateu as "trevas" da ignorância e da superstição. Reconheceu explicitamente o único agente capaz de libertar o homem da mais cruel das superstições: "Nunca houve império mais universal do que o do Diabo", declarou. "E quem foi que o destronou?" Sua resposta se limitou a uma palavra: "a razão". (Japiassu, 2008)

Montesquieu

Montesquieu (1689-1755). O moralista, pensador e filósofo francês Charles de Secondat, barão de La Brède Montesquieu, é conhecido sobretudo por sua obra L'Espirit des Lois (O Espírito das Leis, 1748), na qual expõe sua concepção política e histórica e estuda a lógica interna do sistema das leis e das instituições em suas relações com as condições reais de sua existência histórica. As leis não são deduzidas de idealistas a priori nem tampouco são devidas à arbitrariedade dos homens: elas "constituem as relações necessárias que derivam da natureza das coisas". Ao demonstrar a ineficácia do absolutismo, propõe um sistema de governo em que o máximo de liberdade seja produzido quando os poderes públicos se controlam mutuamente graças à sua independência respectiva: o poder legislativo, o poder executivo e o poder judiciário devem ser independentes uns dos outros, mas equilibrados entre si. Escapando a todos os messianismos, ele considera o "progresso" como invenção da "mecânica político-administrativa" que funciona melhor no contexto humano concreto. (Japiassu, 2008)

3 — O Enciclopedismo

No iluminismo francês distinguem-se duas gerações: a de Voltaire e Montesquieu de um lado, e a de Diderot e dos enciclopedistas do outro. A primeira geração é deísta e partidária da religião natural; a segunda, com algumas exceções, como Rousseau, considera que a matéria e o movimento são eternos, e que nada existe fora da natureza. Esse naturalismo é defendido, sobretudo, por Diderot e alguns dos mais ativos colaboradores da Enciclopédia francesa, e constitui o chamado enciclopedismo, uma corrente de pensamento em que confluem de forma particular a filosofia sensualista de Condillac e o materialismo de La Mettrie. (Temática Barsa, 2005)

A enciclopédia

Entre 1751 e 1772, foram publicados na França os 28 volumes da Enciclopédia ou Dicionário lógico das ciências, artes e ofícios, cuja direção direção ficou a cargo de Denis Diderot e, até 1759, de Jean Le Rond D'Alembert (1717-1783). Os dois pensadores transformaram o projeto de um simples dicionário enciclopédico numa obra de combate ideológico. A Enciclopédia contou com a colaboração de Voltaire, Montesquieu, Rousseau e outras figuras de destaque do iluminismo francês. Mas, ao mesmo tempo, foi a expressão de uma corrente especifica de pensamento baseada no sensualismo e no materialismo, e que ficou conhecida, justamente a partir dessa obra, com o nome de enciclopedismo.

Em consonância com essa filosofia prenunciada por Diderot e D'Alembert, a Enciclopédia refletiu em sua estrutura uma nova sistematização dos conhecimentos humanos que marcou todo um período de cultura europeia. O ponto de partida dessa nova estruturação do saber consistiu na distinção entre as disciplinas derivadas das sensações - e que eram definidas como produto do conhecimento direto - e as que provinham da reflexão. Entre as disciplinas provenientes da sensação, figuravam em primeiro lugar a agricultura e a medicina, as "artes necessárias", segundo expressão de D'Alembert, uma vez que seu objetivo é velar pela sobrevivência do ser humano. Depois vinham a física, a geometria e a mecânica, produto também da observação direta, e suas aplicações ao estudo dos corpos: as ciências físico-matemáticas e a física experimental. Nesse domínio do saber derivado das sensações estavam incluídas também a lógica e a gramática, a história e a geografia. E, como matérias surgidas do conhecimento reflexivo, a filosofia, as artes liberais e as mecânicas. (Temática Barsa, 2005)

4 — Rousseau

"O homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado." O contrato social

O pensamento político iluminista tem seu expoente mais radical em Jean-Jacques Rousseau, um pensador que acredita na bondade natural do homem, o qual foi pervertido pela sociedade. A natureza e a cultura se opõem, e o progresso, ao contrário do que defendiam os enciclopedistas, não conduz à felicidade, porque a existência social é baseada na desigualdade.

Para que o homem possa se reconciliar com a sociedade, Rousseau luta por um novo contrato social baseado na igualdade democrática, assim como numa nova pedagogia que respeite a natureza livre do ser humano.

As ideias políticas de Rousseau produzem em sua época um impacto enorme, e em 1789, ao explodir a revolução francesa, ajudam a inspirar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. (Temática Barsa, 2005)

O Sentimento à frente da Razão

Jean-Jacques Rousseau, cidadão de Genebra estabelecido na França e que durante algum tempo se relaciona com Voltaire, Diderot e D'Alembert, ocupa uma posição singular no seio do iluminismo francês. Aquilo que mais diferencia do restante dos pensadores iluministas é a superioridade que ele outorga ao sentimento em relação à razão.

Esta superioridade, além disso, está vinculada a outro traço diferenciador: a religiosidade. Para Rousseau, deísta convicto, a religião natural constitui uma ligação profunda que brota da harmonia do Universo e que une o homem a Deus, o Ser supremo.

O homem é bondoso por natureza mas, submetido como está ao falso parecer da existência social, descobre justamente por meio dessa religiosidade a genuína condição depositada em seu interior. (Temática Barsa, 2005)

Natureza e Cultura

Essa religião natural, que se expressa antes de tudo como sentimento, e não como razão, constitui o núcleo essencial do pensamento de Rousseau e impulsiona a ideia de que "tudo é perfeito ao sair das mãos do Criador, e tudo degenera nas mãos dos homens".

Rousseau se torna, desse modo, o primeiro pensador moderno que observa a oposição radical existente entre o homem e a sociedade, o caráter conflituoso da civilização separada da natureza e a condição opressora da cultura; as ciências e as artes, em lugar de promover as "luzes" da humanidade, fizeram apenas envilecê-las ainda mais.

A sociedade é intrinsecamente má porque é baseada na desigualdade - o forte se impõe sobre o fraco - e porque arrancou o homem de seu originário "estado de natureza" em que vivia em harmonia com sua bondade primitiva. 

Rousseau, no entanto, não sonha com um hipotético retorno a esse bondoso estado originário. Discute se teria havido um estado de guerra de todos contra todos, como sustentava Hobbes, e duvida que o progresso possa remediar a degradada condição humana. A partir desses pressupostos, será que ainda o homem pode construir os alicerces de uma sociedade justa e reconciliada consigo mesma? A resposta de Rousseau é afirmativa num duplo sentido. O "coração" do homem - esse caminho do sentimento que o "religa", à harmonia da natureza - diz que é possível viver livremente numa sociedade igualitária. Mas para isso são necessários um novo "contrato social" que mude as regras que comandam a existência coletiva e uma nova pedagogia que transforme o indivíduo. (Temática Barsa, 2005)

A Teoria do Contrato

No plano social, o problema é "como encontrar uma forma de associação que defenda e proteja, com a força em comum, a pessoa e os bens de cada associado, e pela qual cada um, unindo-se a todos os outros, obedeça apenas a si mesmo e permaneça, portanto, tão livre como antes".

Para que isso ocorra, é necessário em primeiro lugar um novo contrato social, graças ao qual o indivíduo finalmente recupere tudo o que cedeu à sociedade, já que, "dando-se a todos, cada indivíduo não se dá a ninguém, e como não há um associado sobre o qual não se adquira o mesmo direito que se cede, ganha-se a equivalência de tudo  que se perde, e maior força para conservar o que se tem".

O contrato é expressão da vontade geral, que vela pelo interesse comum, e se diferencia do pacto social existente, que é o resultado de uma simples das vontades (privadas) de todos. Do exercício dessa vontade geral emana a soberania, que pertence ao povo (e não a um poder autocrático) e que se define como absoluta, indivisível e inalienável.

O governo que deve surgir desse novo estado de coisas vem definido como "um corpo intermediário estabelecido entre os súditos e o soberano para sua mútua comunicação,e a quem corresponde a execução das leis e a manutenção da liberdade tanto civil quanto política". O poder executivo de tal governo é delegado e seus membros poderão ser destituídos pelo povo. 

Com essas ideias, que Rousseau traduz em 1762 em sua obra O Contrato Social, o pensamento político do iluminismo se encaminha para formas plenamente democráticas (que estão ausentes, por exemplo, das teorias de Montesquieu). A incidência dessas ideias de Rousseau na revolução francesa é indiscutível, a tal ponto que chegarão a inspirar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Mas a igualdade que Rousseau defende vai ainda muito mais longe: é profundamente antiburguesa e aponta para um horizonte em que já aparecem as ideias socialistas do século XIX. (Temática Barsa, 2005)

A Pedagogia de Rousseau

A sociedade livre e igualitária que Rousseau preconiza é inatingível se não se estabelece uma nova pedagogia. O contrato social é, assim, inseparável de Emílio ou Da Educação (1762), romance em que Rousseau expõe seus ideais pedagógicos. Uma vez que o ser humano é originariamente bondoso e sua perversão é produto da sociedade e da cultura, a educação tem de ser em primeiro lugar negativa, evitando a imposição de qualquer conteúdo religioso, moral ou filosófico. A arte do verdadeiro educador, diz Rousseau, não tem outro fim senão o afastamento dos obstáculos que impedem o desenvolvimento das aptidões e impulsos naturais do indivíduo. O ensino deve preparar o homem para o reino da liberdade, fortalecendo-o fisicamente - em contato com a natureza e longe da corrupção do mundo urbano - e lhe devolvendo esse poder que lhe foi arrancado pela sociedade e pela cultura. Consequentemente, é necessário, antes de raciocinar, aprender a sentir, e, antes de memorizar, dispor dos meios que permitam compreender. Os conteúdos intelectuais devem ser introduzidos o mais tarde possível, e de forma limitada, porque não se trata de conhecer tudo, mas apenas aquilo que será útil ao bem-estar do indivíduo. Nessa apologia da educação natural que se aloja no Emílio, subjazem ideias que foram extraordinariamente fecundas para o desenvolvimento da moderna pedagogia. Uma das mais importantes é a que se refere ao mundo da infância. Antes de Rousseau, a criança era vista como um pequeno adulto; depois de Rousseau, começou-se a compreender que a personalidade infantil tem direitos próprios, e que os primeiros anos de vida constituem uma etapa autônoma e diferenciada, que não pode de maneira alguma ser assimilada às coordenadas da vida adulta. (Temática Barsa, 2005)

5 — O Iluminismo Alemão

O iluminismo alemão tem como representante máximo Immanuel Kant (1724-1804), cuja filosofia transcendental sintetiza e supera tanto as posições do racionalismo quanto as do empirismo.

Para Kant, o conhecimento provém ao mesmo tempo da razão e da experiência. O que chamamos de realidade é a realidade como é conhecida, já determinada no próprio processo de conhecimento. A realidade tal como é em si mesma (à margem de nosso conhecimento sobre ela), ainda que sem dúvida exista, é inacessível ao ser humano.

Isto constitui uma "revolução coperniciana" que altera o sentido de toda a filosofia anterior e que, ao mesmo tempo, afetará profundamente as diretrizes do pensamento contemporâneo. (Temática Barsa, 2005)

Kant

"Aja somente de acordo com um princípio que desejaria que fosse ao mesmo tempo uma lei universal."

 Fundamentação da metafísica dos costumes

Immanuel Kant (1724-1804). Um dos filósofos que mais profundamente influenciou a formação da filosofia contemporânea. Filho de modesta família, nasceu em Konigsberg, e morreu nessa mesma cidade. Estudou na Universidade de Konigsberg, onde foi professor particular, tendo depois participado de atividades universitárias e, em 1770, foi nomeado professor de Lógica e Matemática. Sete anos antes de sua morte, abandonou a cátedra em razão de sua debilidade física. (Japiassu, 2008) 

A revolução kantiana do saber

Immanuel Kant (1724-1804) nasceu em Königsburg, antiga Prússia, que hoje se situa na Polônia. Filho de pais pobres, tem sua formação universitária financiada por um teólogo, amigo da família. Assim, em 1740, pode se matricular na universidade de Königsburg. Em 1755, torna-se livre docente nesta mesma universidade. A partir de 1770, ano em que se faz professor catedrático, ministra diversos cursos de interesse acadêmico. É nesse período que prepara uma de suas mais importantes obras, a Crítica da Razão Pura, que veio a lume em 1781.

Kant pública três tipos de crítica: a Crítica da razão pura, a Crítica da razão práticae a Crítica da faculdade do juízo. Na Crítica da razão pura, examina a teoria do conhecimento, estabelecendo os limites para a sua apreensão. Na Crítica da razão prática, examina o significado moral da liberdade, da imortalidade da alma e da existência de Deus. Na Crítica da faculdade do juízo, desenvolve a sua teoria acerca do belo, tendo por fundamento o mesmo das duas críticas anteriores, ou seja, o domínio da natureza e o domínio da liberdade/moralidade.

A revolução copernicana, que Kant proporciona na filosofia, baseia-se na hipótese de que o conhecimento não é extraído da coisa em si, mas do fenômeno. Para Kant, não temos condições de penetrar nas coisas em si, muito embora podemos discuti-las. O que sabemos é proveniente da observação, das sensações. Em outras palavras, o conhecimento é fruto de nossa sensibilidade. É a sensibilidade que nos dá o ensejo de conhecer. Um modelo teórico existe e podemos nele pensar, mas, daí inferir uma verdade categórica, vai grande distância. Pretende, com isso, combater o dogmatismo e o ceticismo.

Para Kant, a participação do sujeito na construção do objeto de conhecimento não é uma projeção de caprichos e de fantasias subjetivas. Existe algo que se encontra na base de todos os sujeitos particulares (tão distintos entre si), algo que os torna essencial. Acha que só conhecemos a priori das coisas aquilo que nós mesmos colocamos nelas. Esta é a mudança na maneira de pensar proposta por Kant, a sua revolução copernicana.

O sujeito absorve o conhecimento de acordo com a sua subjetividade. Mas não é qualquer subjetividade. De acordo com Kant, há no sujeito uma faculdade que consegue apreender a essência do saber. (Rego, 2006)

Sapere aude

Em 5 de dezembro de 1783, é publicado o artigo de Kant intitulado: Resposta à Pergunta: Que é Esclarecimento? “Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento”.

Kant (1724-1804) vivenciou a época do iluminismo, o século da luzes, em que tudo era posto sob a crítica da razão, inclusive a fé. Enquanto a Idade Média era considerada a época das sombras, pois impedia o livre-pensar, o iluminismo é a libertação do ser humano. Quer-se questionar tudo, desde o poderio econômico e político até as injunções da religião na vida de cada ser humano. Ao lado de outros pensadores, tais como Descartes, Kant deu a sua contribuição para a expansão das luzes do pensamento. Por isso, o sapere aude, ou seja, ouse pensar, pense por você mesmo.

Em suas prédicas, Kant separa o uso privado e o uso público da razão. O uso privado diz respeito à obediência que decorre do exercício de determinadas funções. Cita o exemplo do soldado, que mesmo discordando (uso público da razão) do seu chefe, deve obedecê-lo (uso privado da razão). Outro caso é o pagamento de impostos. Podemos discordar (uso público da razão), mas devemos pagá-los (uso privado da razão)

O principio da razão é pensar por si mesmo. Não é, contudo, fazer revolução ou o que se bem entender. Pensar por si é usar incondicionalmente a razão. Quando agimos dessa forma, acabamos discordando de muitos procedimentos em sociedade, pois a maioria deles é fruto do condicionamento em que fomos inseridos, quer pela mídia quer pelos usos e costumes, absorvidos ao longo do tempo.

sapere aude kantiano não é nenhuma novidade. Sócrates, na antiguidade, já nos instruía sobre o “conhece-te a ti mesmo”. De qualquer forma, a sua lembrança faz-nos refletir sobre a essência do conhecimento, que deve ser construído por cada ser humano, segundo os seus próprios interesses e necessidades. Daí, andar nos trilhos traçados por outrem é trabalho fácil, mas trilhar o próprio caminho é tarefa mais árdua, pois implica contrariar opiniões e preconceitos.

Colocar no papel o que se viu, leu ou escutou é muito útil ao nosso crescimento moral e intelectual. É não dar trégua à preguiça mental, pois já foi comprovado que quanto menos usarmos o cérebro, mais ele se atrofia. Assemelha-se à passagem evangélica em que Jesus diz: “Ao que muito foi dado, muito será exigido, mas mais lhe será acrescentado”. Quer dizer, atividade chama atividade, pensamento atrai pensamento. O desânimo e a indolência entram na alma, porque não foram combatidos desde o início.

As circunstâncias podem exigir o uso da razão privada. Não tenhamos receio de colocá-la em prática. Contudo, em cada uma dessas ações, reflitamos também sobre o uso da razão pública, que é a prática da razão incondicional.

6 — As Ideias Científicas do Iluminismo

Na época do Iluminismo, o quadro das ciências modernas acaba praticamente de se configurar em suas linhas básicas, com o nascimento da química racional e o aparecimento da economia científica. O impulso dado às aplicações da ciência, por sua vez, um processo revolucionário, de caráter industrial, que culminará, já no século XIX, com uma profunda transformação das sociedades ocidentais.

Ao mesmo tempo, os naturalistas iluministas começam a descobrir que a natureza é regida por algumas leis evolutivas, que distinguem entre uma matéria inerte e uma matéria viva e procuram explicar as propriedades dessa última: a obscura e misteriosa força que governa a vida. (Temática Barsa, 2005)

Do saber à energia

Durante a época do Iluminismo, os métodos da ciência experimental do século XVII se expandem em todos os terrenos da atividade humana e preparam o caminho para uma nova revolução destinada a transformar radicalmente a estrutura das sociedades ocidentais: a revolução industrial não podemos entrar na explicação desse complexo processo que conduz ao mundo contemporâneo, mas sim ressaltar que a mentalidade científica dos iluministas o estimula diretamente, ao propiciar o caráter aplicado da ciência. A natureza pode e deve ser transformada, já que, como sustentam os philosophes franceses, é eterna, não tem princípio nem fim e está exclusivamente a serviço do homem. Pela mesma razão, entende-se que o processo é indefinido, e é isso o que o matemático e filósofo Condorcet (1473-1794) teoriza explicitamente.

A revolução científica iniciada no Renascimento foi uma revolução do saber, enquanto a revolução industrial que se inicia no século XVIII é a revolução da energia. A matemática e a astronomia cedem lugar à química, à térmica e à eletricidade. (Temática Barsa, 2005)

A matéria do universo

Essa mudança de perspectiva é congruente se se leva em conta que o mecanicismo newtoniano aparece nessa época como um sistema indiscutível...

Onde se realiza um avanço prodigioso, no entanto, é na compreensão dos processos físico-químicos da matéria. Na época do Iluminismo, a química se transforma verdadeiramente numa ciência moderna e quantitativa graças a Antoine Laurent de Lavoisier (1743-1794), que em seu Tratado elementar de química(1789) define com rigor o conceito de elemento e apresenta uma tabela dos corpos simples. O próprio Lavoisier se encarrega de derrubar a teoria do flogístico - que havia sido formulada, ainda em 1718, como um imponderável que explicava os processos de oxidação e redução. Além disso, Scheele, Rutherford, Priestley e outros isolam o hidrogênio e o nitrogênio e colaboram para a instauração de uma química racional. É o fim definitivo da alquimia e de todas as formas mágicas do animismo, ainda ancoradas na cultura medieval. (Temática Barsa, 2005)

O nascimento da ciência econômica

Durante a época do Iluminismo, a economia se transforma em ciência porque pela primeira vez os iluministas trataram de explicar as causas gerais das quais depende o bem-estar material da sociedade. Antes, a economia era vista como uma técnica destinada a incrementar a riqueza dos estados, sobretudo por meio da acumulação de metais preciosos (mercantilismo). No século XVIII, entretanto, o pensamento iluminista procurou compreender o funcionamento do sistema econômico de forma global. Entre os fundadores da economia moderna, é preciso destacar em primeiro lugar os fisiocratas, cujo representante máximo foi o economista francês François Quesnay (1694-1774). Para os fisiocratas, a atividade econômica deve regular-se de acordo com uma ordem natural, que supunham universal e eterna e que fundamentava, segundo eles, os dois grandes princípios da liberdade e da prosperidade. A riqueza da sociedade era devida aos agricultores e estava, portanto, indissoluvelmente ligada à propriedade agrária. Os fisiocratas preconizavam o livre-câmbio e a necessidade de que o governo interferisse o menos possível na vida econômica (laissez-faire). Esse é um principio básico do liberalismo econômico, e foi defendido também por outro dos fundadores da moderna ciência econômica: o escocês Adam Smith (1723-1790).

Em sua Uma investigação sobre a natureza e causas da riqueza das nações (1776), Smith, no entanto, percebeu que a fonte da riqueza de uma sociedade não se baseia unicamente na agricultura, mas no trabalho humano. Também considerou que o interesse pessoal, motor básico da economia, conciliava-se harmonicamente com os interesses coletivos em virtude da oferta e da procura do mercado. Mas essa harmonia, em última instância, só podia ser explicada pela "mão invisível da Providência". (Temática Barsa, 2005)

7 — Bibliografia Consultada

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

REGO, Pedro Costa. Kant: A revolução copernicana na filosofia. In FIGUEIREDO, Vinicius de. Seis Filósofos em Sala de Aula. São Paulo: Berlendis e Vertecchia, 2006.

Temática Barsa - Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.

São Paulo, março de 2016.

 

 

 

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