1 — O Pensamento Iluminista. 2 — O Iluminismo Francês. 3 — O Enciclopedismo.
4 — Rousseau. 5 — O iluminismo Alemão. 6 — As Ideias Científicas do Iluminismo.
7 — Bibliografia Consultada.
1 — O Pensamento Iluminista
Filosofia
e movimento cultural
O Iluminismo que é tanto uma filosofia quanto um movimento cultural, tem
suas origens na Inglaterra, de onde se expande para França, Alemanha e demais
países europeus, dentro de limites cronológicos fixados por convenção entre a
revolução inglesa de 1688 e a revolução francesa de 1789.
Do ponto de vista filosófico, esse é um período do pensamento iluminista, que aspira à emancipação do homem e de toda a humanidade por meio das luzes da razão. A ruptura que então se estabelece com a tradição metafísica não tem precedente. (Temática Barsa, 2005)
A idade
da razão
O essencial para o pensamento iluminista é a afirmação da autonomia da
razão. Essa autonomia é preparada pelo racionalismo e pelo empirismo, mas chega
à sua plenitude no século XVIII quando se propõe, além disso, como programa de
emancipação de toda a humanidade. A razão é a luz e deve iluminar todos os
homens. Daí o nome de "iluminismo".
O homem estava na escravidão, vivia nas trevas da superstição, da
ignorância, do fanatismo e da intolerância; quer dizer, de todas as forças da
irracionalidade humana. Os iluministas pensam que essas forças podem ser
vencidas porque o homem chegou, como expressa Kant, à sua maioridade. E a idade
adulta é a idade da razão. (Temática Barsa, 2005)
O
livre-pensamento
A razão, que para os iluministas é uma nova divindade, exerce-se em
primeiro lugar como crítica livre e sem preconceitos, como livre-pensamento que
leva, segundo o enciclopedista D'Alembert, destruir, analisar e mexer em tudo,
"das ciências profanas aos fundamentos da revelação, da metafísica às
matérias do gosto, da música até a moral, das disputas escolásticas dos
teólogos aos objetos do comércio, dos direitos dos princípios às leis
arbitrárias das nações...".
O pensamento iluminista é, por isso, mais do que uma nova filosofia, uma
maneira diferente de entender a filosofia, mais rica em conteúdos práticos do
que teóricos, mais atenta aos usos concretos da razão do que à metafísica.
Sociologicamente, e expressão de uma classe social em ascensão, a burguesia, e
é também por isso um pensamento cujos conteúdos ideológicos triunfam na revolução
francesa de 1789. Temática Barsa, 2005)
2 — O Iluminismo Francês
Entre os diferentes pensadores que integram o iluminismo francês,
Voltaire e Montesquieu são dois dos mais representativos. Apesar de suas
diferenças, os dois têm vários aspectos em comum: sua confiança na razão, seu
repúdio à religião e o fato de terem a Inglaterra como ponto de referência.
Voltaire baseia seu programa iluminista nos ideais da tolerância religiosa e da
liberdade política, tais como se concretizaram na monarquia inglesa, e ao mesmo
tempo se encarrega de difundir na França a física newtoniana. Montesquieu
desenvolve seu pensamento político a partir do constitucionalismo britânico e
traz contribuições de grande peso para a doutrina do liberalismo. (Temática
Barsa, 2005)
Voltaire
"A dúvida não é uma condição agradável, mas a
certeza é absurda."
- Carta a Frederico, o Grande, 28 de novembro de
1770.
Voltaire (1694-1778). O
escritor, poeta e filósofo francês (nascido em Paris) Voltaire, cujo nome real
era François Marie Arouet, é conhecido sobretudo por ter sido o grande promotor
da cosmologia newtoniana na França e por ter destruído a crença no poder da
encantação sobre o mundo natural. Partidário da Aufklärung e do "despotismo
esclarecido", combateu as "trevas" da ignorância e da
superstição. Reconheceu explicitamente o único agente capaz de libertar o homem
da mais cruel das superstições: "Nunca houve império mais universal do que
o do Diabo", declarou. "E quem foi que o destronou?" Sua
resposta se limitou a uma palavra: "a razão". (Japiassu, 2008)
Montesquieu
Montesquieu (1689-1755). O moralista, pensador
e filósofo francês Charles de Secondat, barão de La Brède Montesquieu, é
conhecido sobretudo por sua obra L'Espirit
des Lois (O Espírito das
Leis, 1748), na qual expõe sua concepção política e histórica e estuda a
lógica interna do sistema das leis e das instituições em suas relações com as
condições reais de sua existência histórica. As leis não são deduzidas de
idealistas a priori nem
tampouco são devidas à arbitrariedade dos homens: elas "constituem as
relações necessárias que derivam da natureza das coisas". Ao demonstrar a
ineficácia do absolutismo, propõe um sistema de governo em que o máximo de
liberdade seja produzido quando os poderes públicos se controlam mutuamente
graças à sua independência respectiva: o poder legislativo, o poder executivo
e o poder judiciário devem
ser independentes uns dos outros, mas equilibrados entre
si. Escapando a todos os messianismos, ele considera o "progresso"
como invenção da "mecânica político-administrativa" que funciona
melhor no contexto humano concreto. (Japiassu, 2008)
3 — O Enciclopedismo
No iluminismo francês distinguem-se duas gerações: a de Voltaire e
Montesquieu de um lado, e a de Diderot e dos enciclopedistas do outro. A
primeira geração é deísta e partidária da religião natural; a segunda, com
algumas exceções, como Rousseau, considera que a matéria e o movimento são
eternos, e que nada existe fora da natureza. Esse naturalismo é defendido,
sobretudo, por Diderot e alguns dos mais ativos colaboradores da Enciclopédia francesa,
e constitui o chamado enciclopedismo, uma corrente de pensamento em
que confluem de forma particular a filosofia sensualista de Condillac e o
materialismo de La Mettrie. (Temática Barsa, 2005)
A enciclopédia
Entre 1751 e 1772, foram publicados na França os 28 volumes da Enciclopédia ou Dicionário lógico das ciências, artes e ofícios, cuja direção direção
ficou a cargo de Denis Diderot e, até 1759, de Jean Le Rond D'Alembert
(1717-1783). Os dois pensadores transformaram o projeto de um simples
dicionário enciclopédico numa obra de combate ideológico. A Enciclopédia contou
com a colaboração de Voltaire, Montesquieu, Rousseau e outras figuras de
destaque do iluminismo francês. Mas, ao mesmo tempo, foi a expressão de uma
corrente especifica de pensamento baseada no sensualismo e no materialismo, e
que ficou conhecida, justamente a partir dessa obra, com o nome de
enciclopedismo.
Em consonância com essa filosofia prenunciada por Diderot e D'Alembert,
a Enciclopédia refletiu em sua estrutura uma nova
sistematização dos conhecimentos humanos que marcou todo um período de cultura
europeia. O ponto de partida dessa nova estruturação do saber consistiu na
distinção entre as disciplinas derivadas das sensações - e que eram definidas
como produto do conhecimento direto - e as que provinham da reflexão. Entre as
disciplinas provenientes da sensação, figuravam em primeiro lugar a agricultura
e a medicina, as "artes necessárias", segundo expressão de D'Alembert,
uma vez que seu objetivo é velar pela sobrevivência do ser humano. Depois
vinham a física, a geometria e a mecânica, produto também da observação direta,
e suas aplicações ao estudo dos corpos: as ciências físico-matemáticas e a
física experimental. Nesse domínio do saber derivado das sensações estavam
incluídas também a lógica e a gramática, a história e a geografia. E, como
matérias surgidas do conhecimento reflexivo, a filosofia, as artes
liberais e as mecânicas. (Temática Barsa, 2005)
4 — Rousseau
"O homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado." O contrato social
O pensamento político iluminista tem seu expoente mais radical em
Jean-Jacques Rousseau, um pensador que acredita na bondade natural do homem, o
qual foi pervertido pela sociedade. A natureza e a cultura se opõem, e o
progresso, ao contrário do que defendiam os enciclopedistas, não conduz à
felicidade, porque a existência social é baseada na desigualdade.
Para que o homem possa se reconciliar com a sociedade, Rousseau luta por
um novo contrato social baseado na igualdade democrática, assim como numa nova
pedagogia que respeite a natureza livre do ser humano.
As ideias políticas de Rousseau produzem em sua época um impacto enorme,
e em 1789, ao explodir a revolução francesa, ajudam a inspirar a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão. (Temática Barsa, 2005)
O
Sentimento à frente da Razão
Jean-Jacques Rousseau, cidadão de Genebra
estabelecido na França e que durante algum tempo se relaciona com Voltaire,
Diderot e D'Alembert, ocupa uma posição singular no seio do iluminismo francês.
Aquilo que mais diferencia do restante dos pensadores iluministas é a
superioridade que ele outorga ao sentimento em relação à razão.
Esta superioridade, além disso, está vinculada a
outro traço diferenciador: a religiosidade. Para Rousseau, deísta convicto, a
religião natural constitui uma ligação profunda que brota da harmonia do
Universo e que une o homem a Deus, o Ser supremo.
O homem é bondoso por natureza mas, submetido como
está ao falso parecer da existência social, descobre justamente por meio dessa
religiosidade a genuína condição depositada em seu interior. (Temática
Barsa, 2005)
Natureza
e Cultura
Essa religião natural, que se expressa antes de tudo
como sentimento, e não como razão, constitui o núcleo essencial do pensamento
de Rousseau e impulsiona a ideia de que "tudo é perfeito ao sair das mãos
do Criador, e tudo degenera nas mãos dos homens".
Rousseau se torna, desse modo, o primeiro pensador
moderno que observa a oposição radical existente entre o homem e a sociedade, o
caráter conflituoso da civilização separada da natureza e a condição opressora
da cultura; as ciências e as artes, em lugar de promover as "luzes"
da humanidade, fizeram apenas envilecê-las ainda mais.
A sociedade é intrinsecamente má porque é baseada na
desigualdade - o forte se impõe sobre o fraco - e porque arrancou o homem de
seu originário "estado de natureza" em que vivia em harmonia com sua
bondade primitiva.
Rousseau, no entanto, não sonha com um hipotético
retorno a esse bondoso estado originário. Discute se teria havido um estado de
guerra de todos contra todos, como sustentava Hobbes, e duvida que o progresso
possa remediar a degradada condição humana. A partir desses pressupostos, será
que ainda o homem pode construir os alicerces de uma sociedade justa e
reconciliada consigo mesma? A resposta de Rousseau é afirmativa num duplo
sentido. O "coração" do homem - esse caminho do sentimento que o
"religa", à harmonia da natureza - diz que é possível viver
livremente numa sociedade igualitária. Mas para isso são necessários um novo
"contrato social" que mude as regras que comandam a existência
coletiva e uma nova pedagogia que transforme o indivíduo. (Temática Barsa,
2005)
A Teoria
do Contrato
No plano social, o problema é "como encontrar
uma forma de associação que defenda e proteja, com a força em comum, a pessoa e
os bens de cada associado, e pela qual cada um, unindo-se a todos os outros,
obedeça apenas a si mesmo e permaneça, portanto, tão livre como antes".
Para que isso ocorra, é necessário em primeiro lugar
um novo contrato social, graças ao qual o indivíduo finalmente recupere tudo o
que cedeu à sociedade, já que, "dando-se a todos, cada indivíduo não se dá
a ninguém, e como não há um associado sobre o qual não se adquira o mesmo
direito que se cede, ganha-se a equivalência de tudo que se perde, e
maior força para conservar o que se tem".
O contrato é expressão da vontade geral, que vela pelo
interesse comum, e se diferencia do pacto social existente, que é o resultado
de uma simples das vontades (privadas) de todos. Do exercício dessa vontade
geral emana a soberania, que pertence ao povo (e não a um poder autocrático) e
que se define como absoluta, indivisível e inalienável.
O governo que deve surgir desse novo estado de
coisas vem definido como "um corpo intermediário estabelecido entre os
súditos e o soberano para sua mútua comunicação,e a quem corresponde a execução
das leis e a manutenção da liberdade tanto civil quanto política". O poder
executivo de tal governo é delegado e seus membros poderão ser destituídos pelo
povo.
Com essas ideias, que Rousseau traduz em 1762 em sua
obra O Contrato Social, o
pensamento político do iluminismo se encaminha para formas plenamente
democráticas (que estão ausentes, por exemplo, das teorias de Montesquieu). A
incidência dessas ideias de Rousseau na revolução francesa é indiscutível, a
tal ponto que chegarão a inspirar a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789. Mas a igualdade que Rousseau defende vai ainda muito mais
longe: é profundamente antiburguesa e aponta para um horizonte em que já
aparecem as ideias socialistas do século XIX. (Temática Barsa, 2005)
A
Pedagogia de Rousseau
A sociedade livre e igualitária que Rousseau
preconiza é inatingível se não se estabelece uma nova pedagogia. O contrato social é, assim,
inseparável de Emílio ou Da
Educação (1762), romance em
que Rousseau expõe seus ideais pedagógicos. Uma vez que o ser humano é
originariamente bondoso e sua perversão é produto da sociedade e da cultura, a
educação tem de ser em primeiro lugar negativa, evitando a imposição de
qualquer conteúdo religioso, moral ou filosófico. A arte do verdadeiro
educador, diz Rousseau, não tem outro fim senão o afastamento dos obstáculos
que impedem o desenvolvimento das aptidões e impulsos naturais do indivíduo. O
ensino deve preparar o homem para o reino da liberdade, fortalecendo-o
fisicamente - em contato com a natureza e longe da corrupção do mundo urbano -
e lhe devolvendo esse poder que lhe foi arrancado pela sociedade e pela
cultura. Consequentemente, é necessário, antes de raciocinar, aprender a
sentir, e, antes de memorizar, dispor dos meios que permitam compreender. Os
conteúdos intelectuais devem ser introduzidos o mais tarde possível, e de forma
limitada, porque não se trata de conhecer tudo, mas apenas aquilo que será útil
ao bem-estar do indivíduo. Nessa apologia da educação natural que se aloja no Emílio, subjazem ideias que
foram extraordinariamente fecundas para o desenvolvimento da moderna pedagogia.
Uma das mais importantes é a que se refere ao mundo da infância. Antes de
Rousseau, a criança era vista como um pequeno adulto; depois de Rousseau,
começou-se a compreender que a personalidade infantil tem direitos próprios, e
que os primeiros anos de vida constituem uma etapa autônoma e diferenciada, que
não pode de maneira alguma ser assimilada às coordenadas da vida adulta. (Temática
Barsa, 2005)
5 — O Iluminismo Alemão
O iluminismo alemão tem como representante máximo Immanuel Kant
(1724-1804), cuja filosofia transcendental sintetiza e supera tanto as posições
do racionalismo quanto as do empirismo.
Para Kant, o conhecimento provém ao mesmo tempo da razão e da
experiência. O que chamamos de realidade é a realidade como é conhecida, já
determinada no próprio processo de conhecimento. A realidade tal como é em si
mesma (à margem de nosso conhecimento sobre ela), ainda que sem dúvida exista,
é inacessível ao ser humano.
Isto constitui uma "revolução coperniciana" que altera o
sentido de toda a filosofia anterior e que, ao mesmo tempo, afetará
profundamente as diretrizes do pensamento contemporâneo. (Temática Barsa,
2005)
Kant
"Aja somente de acordo com um princípio que
desejaria que fosse ao mesmo tempo uma lei universal."
Fundamentação da metafísica dos
costumes
Immanuel Kant (1724-1804). Um
dos filósofos que mais profundamente influenciou a formação da filosofia
contemporânea. Filho de modesta
família, nasceu em Konigsberg, e morreu nessa mesma cidade. Estudou na Universidade de Konigsberg,
onde foi professor particular, tendo depois participado de atividades
universitárias e, em 1770, foi nomeado professor de Lógica e Matemática. Sete anos antes de sua morte,
abandonou a cátedra em razão de sua debilidade física. (Japiassu, 2008)
A revolução
kantiana do saber
Immanuel Kant (1724-1804) nasceu em Königsburg, antiga Prússia, que hoje
se situa na Polônia. Filho de pais pobres, tem sua formação universitária
financiada por um teólogo, amigo da família. Assim, em 1740, pode se matricular
na universidade de Königsburg. Em 1755, torna-se livre docente nesta mesma
universidade. A partir de 1770, ano em que se faz professor catedrático,
ministra diversos cursos de interesse acadêmico. É nesse período que prepara
uma de suas mais importantes obras, a Crítica da Razão Pura, que
veio a lume em 1781.
Kant pública três tipos de crítica: a Crítica da
razão pura, a Crítica da razão práticae a Crítica da
faculdade do juízo. Na Crítica da razão pura, examina a
teoria do conhecimento, estabelecendo os limites para a sua apreensão. Na Crítica
da razão prática, examina o significado moral da liberdade, da
imortalidade da alma e da existência de Deus. Na Crítica da
faculdade do juízo, desenvolve a sua teoria acerca do belo, tendo por
fundamento o mesmo das duas críticas anteriores, ou seja, o domínio da natureza
e o domínio da liberdade/moralidade.
A revolução copernicana, que Kant proporciona na filosofia, baseia-se na
hipótese de que o conhecimento não é extraído da coisa em si, mas do fenômeno.
Para Kant, não temos condições de penetrar nas coisas em si, muito embora
podemos discuti-las. O que sabemos é proveniente da observação, das sensações.
Em outras palavras, o conhecimento é fruto de nossa sensibilidade. É a
sensibilidade que nos dá o ensejo de conhecer. Um modelo teórico existe e
podemos nele pensar, mas, daí inferir uma verdade categórica, vai grande
distância. Pretende, com isso, combater o dogmatismo e o ceticismo.
Para Kant, a participação do sujeito na construção do objeto de
conhecimento não é uma projeção de caprichos e de fantasias subjetivas. Existe
algo que se encontra na base de todos os sujeitos particulares (tão distintos
entre si), algo que os torna essencial. Acha que só conhecemos a priori das
coisas aquilo que nós mesmos colocamos nelas. Esta é a mudança na maneira de
pensar proposta por Kant, a sua revolução copernicana.
O sujeito absorve o conhecimento de acordo com a sua subjetividade. Mas
não é qualquer subjetividade. De acordo com Kant, há no sujeito uma faculdade
que consegue apreender a essência do saber. (Rego, 2006)
Sapere aude
Em 5 de dezembro de 1783, é publicado o artigo de Kant intitulado:
Resposta à Pergunta: Que é Esclarecimento? “Esclarecimento é a saída do homem
de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade
de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o
próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento,
mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de
outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio
entendimento, tal é o lema do esclarecimento”.
Kant (1724-1804) vivenciou a época do iluminismo, o século da luzes, em
que tudo era posto sob a crítica da razão, inclusive a fé. Enquanto a Idade
Média era considerada a época das sombras, pois impedia o livre-pensar, o
iluminismo é a libertação do ser humano. Quer-se questionar tudo, desde o
poderio econômico e político até as injunções da religião na vida de cada ser
humano. Ao lado de outros pensadores, tais como Descartes, Kant deu a sua
contribuição para a expansão das luzes do pensamento. Por isso, o sapere
aude, ou seja, ouse pensar, pense por você mesmo.
Em suas prédicas, Kant separa o uso privado e o uso público da razão. O
uso privado diz respeito à obediência que decorre do exercício de determinadas
funções. Cita o exemplo do soldado, que mesmo discordando (uso público da
razão) do seu chefe, deve obedecê-lo (uso privado da razão). Outro caso é o
pagamento de impostos. Podemos discordar (uso público da razão), mas devemos
pagá-los (uso privado da razão)
O principio da razão é pensar por si mesmo. Não é, contudo, fazer
revolução ou o que se bem entender. Pensar por si é usar incondicionalmente a
razão. Quando agimos dessa forma, acabamos discordando de muitos procedimentos
em sociedade, pois a maioria deles é fruto do condicionamento em que fomos
inseridos, quer pela mídia quer pelos usos e costumes, absorvidos ao longo do
tempo.
O sapere aude kantiano não é nenhuma novidade.
Sócrates, na antiguidade, já nos instruía sobre o “conhece-te a ti mesmo”. De
qualquer forma, a sua lembrança faz-nos refletir sobre a essência do
conhecimento, que deve ser construído por cada ser humano, segundo os seus
próprios interesses e necessidades. Daí, andar nos trilhos traçados por outrem
é trabalho fácil, mas trilhar o próprio caminho é tarefa mais árdua, pois
implica contrariar opiniões e preconceitos.
Colocar no papel o que se viu, leu ou escutou é muito útil ao nosso
crescimento moral e intelectual. É não dar trégua à preguiça mental, pois já
foi comprovado que quanto menos usarmos o cérebro, mais ele se
atrofia. Assemelha-se à passagem evangélica em que Jesus diz: “Ao que muito
foi dado, muito será exigido, mas mais lhe será acrescentado”. Quer dizer,
atividade chama atividade, pensamento atrai pensamento. O desânimo e a
indolência entram na alma, porque não foram combatidos desde o início.
As circunstâncias podem exigir o uso da razão privada. Não tenhamos
receio de colocá-la em prática. Contudo, em cada uma dessas ações, reflitamos
também sobre o uso da razão pública, que é a prática da razão incondicional.
6 — As Ideias Científicas do
Iluminismo
Na época do Iluminismo, o quadro das ciências modernas acaba
praticamente de se configurar em suas linhas básicas, com o nascimento da
química racional e o aparecimento da economia científica. O impulso dado às
aplicações da ciência, por sua vez, um processo revolucionário, de caráter
industrial, que culminará, já no século XIX, com uma profunda transformação das
sociedades ocidentais.
Ao mesmo tempo, os naturalistas iluministas começam a descobrir que a
natureza é regida por algumas leis evolutivas, que distinguem entre uma matéria
inerte e uma matéria viva e procuram explicar as propriedades dessa última: a
obscura e misteriosa força que governa a vida. (Temática Barsa, 2005)
Do saber
à energia
Durante a época do Iluminismo, os métodos da ciência experimental do
século XVII se expandem em todos os terrenos da atividade humana e preparam o
caminho para uma nova revolução destinada a transformar radicalmente a
estrutura das sociedades ocidentais: a revolução industrial não podemos entrar
na explicação desse complexo processo que conduz ao mundo contemporâneo, mas
sim ressaltar que a mentalidade científica dos iluministas o estimula
diretamente, ao propiciar o caráter aplicado da ciência. A natureza pode e deve
ser transformada, já que, como sustentam os philosophes franceses,
é eterna, não tem princípio nem fim e está exclusivamente a serviço do homem.
Pela mesma razão, entende-se que o processo é indefinido, e é isso o que o
matemático e filósofo Condorcet (1473-1794) teoriza explicitamente.
A revolução científica iniciada no Renascimento foi uma revolução do
saber, enquanto a revolução industrial que se inicia no século XVIII é a
revolução da energia. A matemática e a astronomia cedem lugar à química, à
térmica e à eletricidade. (Temática Barsa, 2005)
A matéria
do universo
Essa mudança de perspectiva é congruente se se leva em conta que o
mecanicismo newtoniano aparece nessa época como um sistema indiscutível...
Onde se realiza um avanço prodigioso, no entanto, é na compreensão dos
processos físico-químicos da matéria. Na época do Iluminismo, a química se
transforma verdadeiramente numa ciência moderna e quantitativa graças a Antoine
Laurent de Lavoisier (1743-1794), que em seu Tratado elementar de
química(1789) define com rigor o conceito de elemento e apresenta uma
tabela dos corpos simples. O próprio Lavoisier se encarrega de derrubar a
teoria do flogístico - que havia sido formulada, ainda em 1718, como um
imponderável que explicava os processos de oxidação e redução. Além disso,
Scheele, Rutherford, Priestley e outros isolam o hidrogênio e o nitrogênio e
colaboram para a instauração de uma química racional. É o fim definitivo da
alquimia e de todas as formas mágicas do animismo, ainda ancoradas na cultura
medieval. (Temática Barsa, 2005)
O
nascimento da ciência econômica
Durante a época do Iluminismo, a economia se transforma em ciência
porque pela primeira vez os iluministas trataram de explicar as causas gerais
das quais depende o bem-estar material da sociedade. Antes, a economia era
vista como uma técnica destinada a incrementar a riqueza dos estados, sobretudo
por meio da acumulação de metais preciosos (mercantilismo). No século
XVIII, entretanto, o pensamento iluminista procurou compreender o funcionamento
do sistema econômico de forma global. Entre os fundadores da economia moderna,
é preciso destacar em primeiro lugar os fisiocratas, cujo representante máximo
foi o economista francês François Quesnay (1694-1774). Para os fisiocratas, a
atividade econômica deve regular-se de acordo com uma ordem natural, que
supunham universal e eterna e que fundamentava, segundo eles, os dois grandes
princípios da liberdade e da prosperidade. A riqueza da sociedade era devida
aos agricultores e estava, portanto, indissoluvelmente ligada à
propriedade agrária. Os fisiocratas preconizavam o livre-câmbio e a necessidade
de que o governo interferisse o menos possível na
vida econômica (laissez-faire). Esse é um principio básico do
liberalismo econômico, e foi defendido também por outro dos fundadores da
moderna ciência econômica: o escocês Adam Smith (1723-1790).
Em sua Uma investigação sobre a natureza e causas da riqueza das
nações (1776), Smith, no entanto, percebeu que a fonte da riqueza de
uma sociedade não se baseia unicamente na agricultura, mas no trabalho humano.
Também considerou que o interesse pessoal, motor básico da economia,
conciliava-se harmonicamente com os interesses coletivos em virtude da oferta e
da procura do mercado. Mas essa harmonia, em última instância, só podia ser
explicada pela "mão invisível da Providência". (Temática Barsa,
2005)
7 — Bibliografia Consultada
JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia.
5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
REGO, Pedro Costa. Kant: A revolução copernicana na filosofia. In
FIGUEIREDO, Vinicius de. Seis Filósofos em Sala de Aula. São Paulo:
Berlendis e Vertecchia, 2006.
Temática Barsa - Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.
São Paulo, março de 2016.
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