"As multidões, pouco aptas ao raciocínio, mostram-se soberanas à
ação."
A multidão, em seu sentido comum, representa uma
reunião de indivíduos quaisquer, independentemente de sua nacionalidade, sua
profissão ou seu sexo. Psicologicamente, a multidão possui características distintas
do indivíduo (isolado). "A personalidade consciente desaparece e
forma a alma coletiva. A coletividade torna-se uma multidão psicológica. Ela
forma um único ser e encontra-se submetida à lei da unidade mental das multidões".
A inconsciência e a irracionalidade estão na base de uma multidão.
Geralmente, as pessoas em multidão são levadas pelo poder e contágio de um
chefe, de um guru, de um líder religioso. Os tutelados ficam cegos diante da
ordem do superior; apenas obedecem. Observe que individualmente não tomamos
certas medidas, visto raciocinarmos e virmos que aquele ato não é
correto. Em multidão, porém, falta-nos o senso crítico. Parece-nos que
tudo é permitido, inclusive quebrar o bem público.
Gustave Le Bon enfatiza o peso da raça na formação pensamento coletivo.
Ele diz: "A organização de uma multidão
forma-se sobre o fundo invariável e dominante da raça, sobrepõem-se algumas
características novas e específicas que provocam a orientação de todos os
sentimentos e pensamentos da coletividade numa direção idêntica". Por essa
razão, pessoas letradas acabam tendo o mesmo comportamento do de outros
integrantes da multidão.
Le Bon aponta, pelo menos três causas, para
diferenciar o indivíduo (só) de ele em grupo.
1ª) O indivíduo na multidão adquire, exclusivamente
por causa do número, um sentimento de poder invencível que lhe permite ceder a
instintos que, sozinho, teria forçosamente refreado.
2ª) Contágio mental associado ao efeito hipnótico.
Na multidão, todo sentimento, todo ato é contagioso, e contagioso no sentido de
sacrificar o seu interesse pessoal ao interesse coletivo.
3ª) É a mais importante das causas, pois determina
nos indivíduos na multidão características específicas às vezes muito opostas
às do indivíduo isolado.
Afirmação, repetição e contágio são
palavras-chaves para direcionar uma multidão. A afirmação deve
ser concisa, desprovida de provas e de demonstração. Pela repetição,
a coisa afirmada chega a se estabelecer nos espíritos a ponto de se aceitar
como uma verdade demonstrada. Depois de uma afirmação ser repetida há,
ainda, a necessidade do contágio. "Nas multidões, as ideias,
os sentimentos, as emoções, as crenças possuem um poder de contágio tão intenso
quanto o dos micróbios".
Fonte de Consulta
LE BON, Gustave. Psicologia das Multidões [obra
de 1895]. Tradução de Mariana Sérvulo da Cunha. São Paulo: Martins Fontes,
2008. (Coleção Tópicos)
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Gustave Le Bon, médico e sociólogo, nasceu em Nogentle-Rotrou, França, em 1841.
Estudou medicina na Universidade de Paris. Escreveu, entre outros livros, L'Homme
et les Societés e Les Premières Civilisations. Faleceu em
1931.