Ítalo Calvino, em seu livro "Por que Ler os Clássicos", anota quatorze razões para lermos os clássicos. Eis os lembretes:
1. Os clássicos são
aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: “Estou relendo…” e nunca ‘‘Estou
lendo…”.
2. Dizem-se clássicos
aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas
constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela
primeira vez nas melhores condições para apreciá-los.
3. Os clássicos são
livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis
e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como
inconsciente coletivo ou individual.
4. Toda releitura
de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira.
5. Toda primeira
leitura de um clássico é na realidade uma releitura.
6. Um clássico é
um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.
7. Os clássicos são
aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que
precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas
culturas que atravessaram (ou mais
simplesmente na linguagem ou nos costumes).
8. Um clássico é
uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discursos críticos sobre si,
mas continuamente a repele para longe.
9. Os clássicos são
livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de
fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.
10. Chama-se de
clássico um livro que se configura como equivalente do universo, à semelhança
dos antigos talismãs.
11. O “seu” clássico
é aquele que não pode ser-lhe indiferente e que serve para definir a você próprio
em relação e talvez em contraste com ele.
12. Um clássico é
um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e
depois lê aquele reconhece logo o seu lugar na genealogia.
13. É clássico
aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao
mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo.
14. É clássico
aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível.