Em Imposturas intelectuais, os acadêmicos Alan Sokal e Jean
Bricmont se uniram e analisaram uma série de textos que mostram as
mistificações físico-matemática criadas por Jacques Lacan, Luce Irigaray, Julia
Kristeva, Bruno Latour, Gilles Deleuze, Jean Baudrillard e Paul Virilio.
Prefácio
O livro originou-se da falsa e agora famosa publicação na revista
americana de estudos culturais Social Text, por um de nós, de um
artigo satírico cheio de citações sem sentido, porém infelizmente autênticas,
sobre física e matemática, proferidas por proeminentes intelectuais franceses e
americanos.
Os autores querem mostrar que Lacan e outros pensadores abusaram e
utilizaram conceitos científicos fora do contexto, sem dar a menor
justificativa.
Um segundo alvo do livro é o relativismo epistêmico. Aqui, diz-se que a
ciência moderna é apenas um "mito", uma "narração" ou uma
"construção social, entre muitas outras.
Este livro é a fusão de dois trabalhos: 1) coleção de abusos extremos
descobertos, mais ou menos por acaso, por Sokal (Imposturas); 2) crítica aos
conceitos equivocados sobre a "ciência pós-moderna".
Introdução
O livro começou com a atitude da filosofia dita pós-moderna: "uma
corrente intelectual caracterizada pela rejeição mais ou menos explícita da
tradição racionalista do Iluminismo, por discursos teóricos desconectados de
qualquer teste empírico, e por um relativismo cognitivo e cultural que encara a
ciência como nada mais que uma "narração", um "mito" ou uma
construção social entre muitas outras".
O artigo, intitulado "Transgredindo as fronteiras: em direção a uma
hermenêutica transformativa da gravitação quântica", está repleto de
absurdos e ilogismos flagrantes. Os trechos são absurdos ou desprovidos de
sentido, mas são, apesar disso, autênticos.
Os abusos apontados:
1) Falar longamente de teorias científicas sobre as quais se tem, na
melhor das hipóteses, uma ideia extremamente confusa.
2) Importar conceitos próprios das ciências naturais para o interior das
ciências sociais ou humanas, sem dar a menor justificação conceitual ou
empírica.
3) Ostentar uma erudição superficial ao atirar na cara do leitor, aqui e
ali, descaradamente, termos técnicos num contexto em que eles são totalmente irrelevantes.
4) Manipular frases e sentenças que, na verdade, não têm sentido.
O plano do livro consiste na análise de textos, autor por autor.
Jacques Lacan
De acordo com seus discípulos, ele revolucionou a teoria e a prática da
psicanálise; segundo seus detratores, é um charlatão e seus escritos são pura
verborragia.
Vamos nos limitar à análise de suas frequentes referências à matemática,
para mostrar que Lacan ilustra perfeitamente, em diferentes partes de seu
trabalho, as inadequações ou os abusos enumerados em nossa introdução.
O interesse de Lacan pela matemática centra-se na topologia, ramo da
matemática que trata (entre outras coisas) das propriedades dos objetos
geométricos — superfícies, sólidos e assim por diante — que permanecem
imutáveis quando o objeto é deformado sem ser partido. (Segundo uma anedota
clássica, um topólogo é incapaz de perceber a diferença entre uma rosquinha e
uma xícara de café, pois ambos são objetos sólidos com um só buraco
através do qual se pode enfiar o dedo
Seguem-se citações e comentários
Julia Kristeva
A obra de Julia Kristeva toca num grande número de campos, de crítica
literária à psicanálise e à filosofia política. Iremos analisar aqui alguns
trechos de seus primeiros trabalhos sobre linguística e semiótica. A meta
declarada de Kristeva é edificar uma teoria formal da linguagem poética.
Entretanto o objetivo é ambíguo porque, de um lado ela assevera que "a
linguagem poética é um sistema formal cuja teorização pode ser alicerçada na
teoria [matemática] dos conjuntos e, de outro, diz numa nota de rodapé que isso
é "apenas metafórico". Ela invoca noções técnicas relativas aos
conjuntos infinitos, em cuja relevância para a linguagem poética é difícil penetrar,
especialmente quando nenhum argumento é oferecido.
Seguem-se citações e comentários.
Luce Irigaray
Os textos de Luce Irigaray lidam com ampla diversidade de assuntos,
estendendo-se da psicanálise à linguística e daí à filosofia da ciência.
Seguem-se citações e comentários.
Bruno Latour
O sociólogo da ciência Bruno Latour é muito conhecido por seu
libro Science in Action, Muito menos conhecida é sua análise
semiótica da teoria da relatividade, na qual "o texto de Einstein é lido
como uma contribuição à sociologia da delegação". Latour faz uso da teoria
da relatividade, conteúdo de uma teoria científica que não compreende
bem.
Seguem-se citações e comentários.
Jean Baudrillard
O sociólogo e filósofo Jean Baudrillard é muito conhecido por suas
reflexões sobre os problemas de realidade, aparência e ilusão. Neste capítulo
pretendemos chamar a atenção para um aspecto menos conhecido do trabalho de
Baudrillard, ou seja, seu costumeiro uso da terminologia científica e
pseudocientífica. Em alguns casos, o seu apelo a conceitos científicos é
claramente metafórico.
Seguem-se citações e comentários.
Gilles Deleuze e Félix Guattari
Gilles Deleuze é reputado como um dos mais importantes pensadores
franceses contemporâneos. Ele escreveu vinte e tantos livros de filosofia,
sozinho ou em colaboração com o psicanalista Félix Guattari. Neste
capítulo, analisaremos a parte da obra de Deleuze e Guattari em que eles
invocam termos e conceitos da física e da matemática. A principal característica desses
textos é a sua falta de clareza.
Seguem-se citações e comentários.
Paul Virilio
Os escritos de Paul Virilio giram principalmente em torno de temas como
tecnologia, comunicação e velocidade. Seus livros estão repletos de referência
à física, particularmente à teoria da relatividade. Embora as frases de Virilio
sejam levemente mais compreensíveis do que as de Deleuze-Guattari, o que é
apresentado como "ciência" não passa de uma mistura de confusões
monumentais e fantasias delirantes.
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