É o “eu” que pensa ou o “eu” que recebe
o pensamento? Em se tratando de filosofia, o pronome eu deveria ficar em
segundo plano. Fernando Santoro, em Patologia do Pensamento, diz:
"É uma presunção moderna acharmos que somos os sujeitos do nosso
pensamento. Eu não penso, sou acometido pelo pensamento". Pergunta: o que
significa um “eu” para o pensamento? Em sua explicação, escreve: “Somos
sujeitos ao pensamento, nunca nosso, mas infestado pela própria linguagem. A
linguagem, ela sim, tem sua vida própria e espontânea e leva o pensar para onde
bem entende. Inclusive, e principalmente, para nossos vícios de entendimento”.
Alguns são traídos pela linguagem;
outros, não. Descartes, por exemplo, foi traído pela língua francesa, a qual
não admite a ausência do sujeito na frase, nem que este seja apenas um pronome
de referência, como é o caso de “il pleut” — “chove”. Nesse caso, quando ele
fundamentou o seu cogito ergo sum, ele estava escrevendo em
latim. Ao passar para a língua francesa, fica subentendido um pronome, o
pronome eu. Os franceses diriam: “Eu penso, logo eu existo”.
Sócrates, de quem a Pítia disse não
haver ninguém mais sábio, não se deixou enganar. Para ele, as palavras que
a Pítia pronunciava em transe no Oráculo de Delfos eram enigmáticas. O
discípulo de Sócrates, que foi a Delfos perguntar ao Oráculo se havia alguém
mais sábio do que seu mestre, não imaginava que a resposta da Pítia (“Não há
ninguém mais sábio”), tinha que ser interpretada diligentemente, como bem
suspeitou Sócrates. Para Sócrates, a frase significava: “A Pítia disse isso,
porque ela sabe que eu nada sei”.
A palavra pode ser interpretada de
diversas formas: depende exclusivamente da nossa experiência de vida e do que
conhecemos acerca de um determinado assunto. As pessoas que vivem plenamente as
suas vidas não creem em qualquer novidade, mesmo que esta venha pintada com as
cores mais atraentes do mundo.
Fonte de Consulta
SANTORO, Fernando. Patologia do
Pensamento. In: MEES, Leonardo e PIZZOLANTE, Romulo (orgs.). O
Presente do Filósofo: Homenagem a Gilvan Fogel. Rio de Janeiro: Mauad X,
2008.