25 fevereiro 2015

Das Leis do Espírito

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Luc de Clapliers, marquês de Vauvenargues (1715-1747) no livro Das Leis do Espírito: Florilégio Filosófico, analisa vários aspectos da moralidade. A primeira parte é uma introdução ao conhecimento do espírito humano: do espírito em geral, das paixões e do bem e do mal moral. A segunda parte trata dos ensaios de moral e de filosofia: discurso sobre a glória, sobre os prazeres, sobre os costumes, sobre a liberdade etc. 

No livro I "Do espírito em geral", elabora alguns pensamentos sobre imaginação, reflexão, memória, fecundidade, vivacidade, penetração, profundeza, delicadeza, saliências, gosto etc. Exemplificando: para ele,  a imaginação é o dom de conceber coisas de maneira figurada e de manifestar o pensamento por meio de imagens; a reflexão é a capacidade de nos recolher sobre nossas ideias, de as examinar, modificá-las, ou combiná-las de diversas maneiras; a memória conserva o precioso depósito da imaginação e da reflexão. 

No livro II "Das paixões", trata da alegria, do júbilo, da melancolia, do amor-próprio, da avareza, da amizade, da piedade, do ódio etc. Exemplificando: para ele, todas as paixões giram em torno do prazer e da dor, o júbilo é um sentimento mais penetrante do que a alegria, os melancólicos são ardentes, tímidos, inquietos, e na maioria das vezes só se salvam da vaidade pela ambição e pelo orgulho. 

No livro III "Do bem e do mal moral", trata do grandeza da alma, da coragem, do bom e do belo etc. Exemplificando: a grandeza da alma é um instinto elevado, que leva os homens ao grande, seja de que natureza for; a verdadeira coragem é uma das qualidades que supõem a maior grandeza da alma, a atividade nasce de uma força inquieta: a preguiça, de uma impotência tranquila. 

Na segunda parte "Ensaios de moral e de filosofia", há os discursos sobre a glória, os prazeres, o caráter dos diferentes séculos, os costumes do século, a desigualdade da riqueza, a liberdade. Tem também o tratado sobre o livre-arbítrio e a imitação de Pascal. 

Vauvenargues acredita no poder da eloquência para inspirar a virtude e a grandeza, burilando-a. Acredita que dirigir-se ao sentimento do leitor, em nome do sentimento que se experimenta, é atingir também sua razão, pois o homem é uma unidade e suas faculdades formam um todo indissociável. 

VAUVENARGUES, Luc de Clapliers, marquês de. Das Leis do Espírito: Florilégio Filosófico.  Tradução Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 1998. (Clássicos)

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ChatGPT (16/05/2023)

As "Leis do Espírito" são princípios ou orientações que são frequentemente discutidos em contextos espirituais, filosóficos ou de desenvolvimento pessoal. Essas leis são consideradas como princípios universais que governam a vida e o crescimento espiritual. Embora diferentes tradições espirituais possam apresentar suas próprias versões das Leis do Espírito, aqui estão alguns exemplos comuns:

Lei da Unidade: Essa lei afirma que todos somos interconectados e fazemos parte de um todo maior. Ela ressalta a ideia de que não estamos separados uns dos outros ou do universo, mas sim interligados em uma teia de relacionamentos.

Lei do Amor: Essa lei enfatiza o poder e a importância do amor. Ela sugere que o amor é a força fundamental do universo e que cultivar o amor em nossas vidas é essencial para o crescimento espiritual e para criar harmonia e paz no mundo.

Lei da Ação e Reação: Também conhecida como Lei da Causa e Efeito, essa lei sugere que tudo o que fazemos ou pensamos tem consequências. Nossas ações e escolhas têm um impacto no mundo ao nosso redor e em nós mesmos. Portanto, é importante agirmos de forma responsável e consciente.

Lei da Gratidão: Essa lei enfatiza a importância de cultivar uma atitude de gratidão em relação à vida. Ao reconhecer e apreciar as bênçãos e oportunidades que temos, criamos uma mentalidade positiva e aberta, atraindo mais coisas boas para nossas vidas.

Lei da Aceitação: Essa lei nos lembra da importância de aceitar as coisas como elas são. Aceitar não significa resignação passiva, mas sim reconhecer a realidade e encontrar paz e serenidade dentro dela. A aceitação nos permite liberar resistências e encontrar um estado de equilíbrio interior.

Lei da Intenção: Essa lei destaca a importância de definir intenções claras e focadas. Ao estabelecermos intenções positivas e alinhadas com nosso propósito mais elevado, podemos direcionar nossa energia e criar resultados desejados em nossas vidas.

É importante ressaltar que essas leis são conceitos abstratos e podem ser interpretadas de diferentes maneiras, dependendo das crenças e perspectivas individuais. Elas não são leis físicas ou científicas, mas sim princípios que algumas pessoas encontram úteis em sua jornada espiritual ou na busca de um maior sentido de significado e propósito.





 



Psicanálise e Símbolo

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"A palavra ou a imagem é simbólica, se contém, mais do que se possa ver à primeira vista." (C. G. Jung)

psicanálise, método psicoterápico criado por Sigmund Freud no fim do século XIX, tem por base a cura das desordens nervosas, originadas por impulsos reprimidos que estão no subconsciente. Para explorar o que está submerso e trazê-lo ao nível do consciente, usa primeiramente as técnicas de hipnose. Sendo esta pouco eficiente, pois muitos não se deixavam hipnotizar, substitui-a pela "sugestão", que é uma espécie de associação livre de ideais.

Segundo Freud, o consciente é uma pequena superfície ao passo que o subconsciente é bem amplo. Quando o consciente capta um conhecimento ou recebe um impulso, retém somente o essencial. Mas, no subconsciente ficam gravadas as particularidades, as quais procuram emergir através dos sonhos e os sintomas de neuroses.

Inicialmente, os estudos da psicanálise restringiam-se ao campo da histeria. Depois, estendeu-se a todas as doenças psíquicas bem como a estados e processos psicossomáticos. No entanto, o tratamento de distúrbios psíquicos, nos quais conflitos não resolvidos se manifestam como substitutos simbólicos de conteúdos psíquicos reprimidos, faz com que o símbolo e sua significação assumam papel relevante da psicanálise. 

Na psicanálise, os sonhos e os sintomas doentios alojados no inconsciente são representados no consciente indiretamente por meio de imagens análogas. Por isso, a técnica de associação livre e o registro de todos os disfarces simbólicos da linguagem durante a sessão de psicanálise, no sentido de vencer a resistência que rejeita a conscientização. 

A psicanálise dá ênfase a interpretações sexuais dos símbolos, uma vez que , segundo Freud, conteúdos reprimidos cobrem sobretudo o campo da sexualidade. 

Fonte de Consulta

LURKER, Manfred. Dicionário de Simbologia. Tradução Mário Krauss e Vera Barkow. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003.

 


23 fevereiro 2015

Consciência Cósmica

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A consciência é comum a todos os seres humanos saudáveis. Embora conhecida e manipulada, continua a ser um mistério para os cientistas, pois sua natureza ainda é inexplicada. Há uma gradação, podendo descer até a completa inconsciência. Exemplo: quando um indivíduo se concentra em algo, pode chegar à inconsciência do que ocorre ao seu redor.

Consciência Cósmica é um termo cunhado por Richard Burke (1837-1902), médico canadense, autor de Consciência Cósmica: um Estudo Sobre a Evolução da Mente Humana, de 1901. Para Bucke, em sua experiência mística, teve como que uma revelação instantânea da sua relação com o universo. Esse lampejo faz com que todas as pessoas possam passar de uma consciência vulgar para uma consciência cósmica, tal qual Buda, Cristo e Maomé.

A consciência cósmica, também denominada de iluminação, libertação, batismo do Espírito, imersão na grande luz branca, é uma faculdade que todo o gênero humano deve atingir na sua evolução para chegar à posse da perfeição que lhe está destinada. Para tanto, o ser humano deve ir se aperfeiçoando dia-a-dia para que possa ter uma imortalidade consciente. Deve, a cada instante, exercitar a autoconsciência de si mesmo. 

 


19 fevereiro 2015

Erudito: Fichte e Rousseau

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Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) foi professor de filosofia na Alemanha que, em 1810, tornou-se reitor da Academia de Berlin. Fiche desenvolve uma filosofia que exalta a liberdade, cujos pressupostos iniciais encontram-se na filosofia de Kant. Para ele, a liberdade do eu opõe-se à resistência do não eu, que é o exterior e na qual o eu deve lutar para manifestar-se com liberdade. Para tal fim, só o consegue lutando tenazmente contra os obstáculos e as forças exteriores que tentam dilapidar a estrutura interior.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um filósofo francês que ficou famoso pelas obras "O Contrato Social" e "Emílio ou Da Educação". Em função de sua vida errante, elabora um pensamento que retrocede à vida natural. Simplifica o seu pensamento nos seguintes termos: "o homem é bom, e a sociedade o corrompe". Abomina a razão e flerta com o sentimento. Daí, os desvios do seu pensamento, pois o único critério que aplica se encontra em suas próprias convicções e certezas pessoais.

Fichte, na quinta preleção de "O Destino do Erudito", faz uma crítica ao pensamento de Rousseau, aludindo que este se concentrou apenas no sentimento, deixando a razão em segundo plano. É uma espécie de exemplo aos seus argumentos elaborados nas preleções anteriores, onde discutiu sobre a destinação do homem em si, a destinação do homem na sociedade, a diversidade das categorias na sociedade e a destinação do erudito, o mais apto a aproveitar os avanços da cultura.

Na sua opinião, Rousseau faz um trajeto inverso, ou seja, quer ir da cultura ao estado da natureza. Rousseau procede desta maneira porque confiou demasiadamente no sentimento. O sentimento é bom, mas deve ser domado pela razão. Rousseau esqueceu do princípio fundamental da cultura: dar e receber. Dar o que conseguimos amealhar em conhecimento; receber dos outros o que nos falta. Em o "Emílio ou Da Educação", relega a figura do professor a um segundo plano. Ela não precisa de um mestre para conduzi-la pelo trabalho, pelo esforço, pela disciplina.

Salientemos, aqui, a relação entre liberdade, perfeição e aperfeiçoamento. O fim do ser humano é buscar a potencialização de seu ser. O erudito tem um dever: retribuir ao próximo o que a cultura lhe forneceu. Não o consegue fazer sem a liberdade (em si e em relação aos outros) quando busca a perfeição que é inalcançável, mas pelo aperfeiçoamento que o eleva sempre acima. Este trabalho, segundo Fichte, não pode ser feito voltando ao estado natural. É preciso ir sempre para frente e enfrentar os problemas que o progresso nos reserva.

Partilhemos o que já sabemos; recebamos abertamente o que os outros têm a nos ensinar.

Fonte de Consulta

FICHTE, Johann Gottlieb. O Destino do Erudito. Tradução de Ricardo Barbosa. São Paulo: Hedra, 2014.

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Estado natural. Em Filosofia, a fórmula que se opõe a estado civil designa a situação fictícia do homem antes do surgimento da sociedade, e é então utilizada como ferramenta crítica por certos filósofos (Hobbes, Locke, Rousseau), que se apresentam com censores da sociedade moderna.




18 fevereiro 2015

O Destino do Erudito

5 PRELEÇÕES DE JOHANN GOTTLIEB FICHTE

FotoEnquanto as preleções privadas (parte teórica da doutrina da ciência) eram destinadas a estudantes matriculados, que pagavam por elas, as preleções públicas eram a todos os cidadãos interessados. 

PRIMEIRA PRELEÇÃO: SOBRE A DESTINAÇÃO DO HOMEM EM SI

Começa com as seguintes questões: Qual é a destinação do erudito? Qual é a sua relação com o conjunto da humanidade bem como com as suas categorias particulares? Através de quais meios ele pode alcançar de modo mais seguro sua sublime destinação? 

O erudito só é um erudito na medida em que é contraposto a outros homens que não são; seu conceito surge por comparação, por referência à sociedade. 

A resposta à pergunta: qual é a destinação do erudito?, pressupõe a resposta a uma outra, que é a seguinte: qual é a destinação do homem na sociedade? A resposta a esta pergunta pressupõe, por sua vez, a resposta a uma outra ainda mais elevada: qual é a destinação do homem em si? 

Em se tratando da destinação do homem em si, objeto de sua primeira preleção, pergunta: o que seria o propriamente espiritual no homem, o Eu puro 
— simplesmente em si — isolado — e fora de toda relação com algo exterior a ele? 

Como esta pergunta, segundo Fichte, é irrespondível, parte para algumas conjecturas

Tão certo quanto o homem ter razão é ser ele o seu próprio fim, ou seja, ele não existe porque outra coisa deve existir — e sim existe pura e simplesmente porque ele deve existir. Ele é porque é

Ele não diz apenas: Eu sou, mas ainda acrescenta: eu sou isto ou aquilo. 

Ele não é o que é primeiramente porque ele existe, e sim porque existe algo fora dele. O homem deve ser o que é, pura e simplesmente porque é, ou seja, tudo que ele é deve ser referido ao seu Eu puro, à sua simples egoidade (Ichgeit). 

O homem é o seu próprio fim; ele deve determinar-se a si mesmo e nunca se deixar determinar por algo estranho; ele deve ser o que é porque quer sê-lo e deve querê-lo. 

Submeter a si tudo o que é desprovido de razão, dominá-lo livremente e segundo a sua própria lei: este é o derradeiro e fim último do homem, o qual é inteiramente inalcançável e tem de permanecer eternamente inalcançável, se o homem não deve deixar de ser homem, e se não deve tornar-se Deus. 

A perfeição é meta suprema e inalcançável do homem; mas o aperfeiçoamento ao infinito é a sua destinação. Ele existe para tornar a si mesmo sempre eticamente melhor e para tornar tudo ao seu redor sensivelmente melhor, e se é considerado em sociedade, também eticamente melhor, e assim tornar a si mesmo cada vez mais feliz.

SEGUNDA PRELEÇÃO: SOBRE A DESTINAÇÃO DO HOMEM NA SOCIEDADE

É meu destino, a menos que eu queira ser superficial e tratar futilmente aquilo sobre o que creio saber algo mais fundamental — a menos que queira ocultar e passar em silêncio dificuldades que vejo muito bem — tocar em questões quase ainda intocadas. 

Chamo sociedade à relação dos seres racionais uns com os outros. 

A experiência ensina apenas que a representação de seres racionais fora de nós está contida em nossa consciência empírica; e sobre isso não há disputa e nenhum egoísta ainda o contestou. 

Vejam, meus senhores, como é importante não confundir a sociedade em geral com o tipo particular, empiricamente condicionado, de sociedade, que se chama Estado. 

O fim de todo governo é tornar supérfluo o governo. Agora não é o momento, mas é certo que no decurso do gênero humano traçado a priori se encontra um tal ponto em que todos os vínculos estatais serão supérfluos. É aquele ponto em que, ao invés da força ou da astúcia, a simples razão será reconhecida universalmente como o juiz supremo. 

A ação recíproca pela liberdade é o caráter positivo da sociedade.  

O impulso fundamental era o de encontrar seres racionais iguais a nós, ou homens.  

Nessa luta dos espíritos com os espíritos, vence sempre aquele que é o homem superior e melhor; assim, surge através da sociedade o aperfeiçoamento da espécie, e com isso também descobrimos, ao mesmo tempo, a destinação de toda a sociedade enquanto tal. 

A luz certamente vence ao final — é verdade que não se pode determinar em quanto tempo, mas já é um penhor de vitória, e da vitória próxima, se as trevas são obrigadas a travar uma luta pública. Elas amam a obscuridade; e quando forçadas a vir à luz, já perderam. 

Entre as habilidades que o homem deve aperfeiçoar encontra-se a sociabilidade

A destinação está subordinada à lei suprema da concordância conosco mesmos, ou à lei moral, e tem a seguir de ser determinada pela mesma e colocada sob uma regra sólida. 

O impulso nos leva a encontrar seres racionais livres fora de nós e a entrar em contato com eles. Querer dominá-los o impulso social entra em contradição consigo mesmo. Todo aquele que se considera um senhor dos outros é ele mesmo um escravo. 

A meta última e suprema da sociedade é a unidade e unanimidade plenas de todos os seus membros possíveis. 

Por isso, podemos igualmente dizer: nossa destinação na sociedade é o aperfeiçoamento comum, o aperfeiçoamento de si mesmo pela influência livremente utilizada dos outros sobre nós e o aperfeiçoamento dos outros pela reação sobre eles enquanto seres livres.

TERCEIRA PRELEÇÃO: SOBRE A DIVERSIDADE DAS CATEGORIAS DA SOCIEDADE

O erudito é um erudito apenas na medida em que é considerado na sociedade. Qual é, em particular, a destinação do erudito na sociedade? Mas o erudito não é meramente um membro da sociedade; ele é ao mesmo tempo um membro de uma categoria particular desta. 

Nossa investigação principal — sobre a destinação do erudito — pressupõe, portanto, além das duas já concluídas, ainda uma terceira, a investigação da importante questão: de onde provém em geral a diversidade das categorias entre os homens?, ou ainda, de onde surgiu a desigualdade entre os homens? 

O fundamento de todos os impulsos reside no nosso ser; mas também como nada mais que um fundamento. Todo impulso tem de ser despertado pela experiência, se deve chegar à consciência; e se deve ser desenvolvido por frequentes experiências da mesma espécie, se deve se transformar em inclinação — e sua satisfação em carecimento. Mas a experiência não depende de nós mesmos; portanto, também não o despertar e o desenvolvimento dos nossos impulsos em geral. 

A lei suprema da humanidade implica que todas as disposições dos indivíduos sejam desenvolvidas uniformemente, que todas as capacidades sejam cultivadas à máxima perfeição possível. 

O impulso social compreende dois outros impulsos: impulso para a comunicação, isto é, o impulso para cultivar alguém naqueles aspectos que fomos cultivados; impulso para receber, isto é, o impulso para se deixar cultivar pelo outro, naquilo que ele foi cultivado. 

O impulso social refere-se à liberdade; ele apenas impele, mas não força. Podemos resistir a ele ou reprimi-lo. 

Sob a direção do impulso social, deve-se comunicar o que se tem de bom àquele que dele carece — e receber o que nos falta daquele que o possui. 

Minha categoria é determinada pela aptidão particular a cujo desenvolvimento me dedico por livre escolha.

A lei diz: cultiva todas as tuas disposições integral e uniformemente, tanto quando puderes; mas ela nada determina se devo exercitá-la imediatamente. A lei não proíbe escolher uma categoria particular — mas também não o ordena, justamente porque não o proíbe. 

Nunca estejas em contradição contigo mesmo a propósito de tuas determinações da vontade. 

A escolha de uma categoria é uma escolha através da liberdade. Consequentemente, nenhum homem pode ser forçado a integrar uma categoria qualquer ou ser excluído de uma categoria qualquer. 

Uma categoria determinada foi escolhida, e com isso o cultivo ulterior de um talento determinado para poder restituir à sociedade o que ela fez por nós

Cada um tem o dever de não apenas querer ser útil em geral à sociedade, mas também de dirigir todos os seus esforços, o melhor que o saiba, para o fim último da sociedade, para enobrecer cada vez mais o gênero humano, isto é, torná-lo cada vez mais livre da coerção da natureza, cada vez mais independente e auto-ativo — e assim, através desta nova desigualdade, surge uma nova igualdade: um progresso uniforme da cultura em todos os indivíduos. 


QUARTA PRELEÇÃO: SOBRE A DESTINAÇÃO DO ERUDITO

Cada categoria é necessária. 

O simples conhecimento das disposições e carecimentos do homem, sem a ciência de os desenvolver e satisfazer, não seria apenas um conhecimento extremamente triste e deprimente; ele seria ao mesmo tempo um conhecimento vazio e inteiramente inútil. Aquele que mostra as minhas falhas sem ao mesmo tempo mostrar o meio pelo qual eu possa repará-las, age para comigo de modo muito pouco amistoso. 

Ninguém pode tornar-se perfeito e, menos ainda, ativo e vivo sem o outro. O conhecimento adquirido deve tornar-se útil à sociedade.  

O fim dos conhecimentos é cuidar, por meio deles, para que todas as disposições da humanidade se desenvolvam de modo uniforme, contínuo, mas progressivamente. Disto resulta a verdadeira destinação da categoria dos eruditos: a suprema inspeção do progresso efetivo do gênero humano em geral e a contínua promoção desse progresso

A humanidade pode dispensar tudo; pode-se tirar tudo dela sem ofender sua verdadeira dignidade, mas não a possibilidade do aperfeiçoamento. 

Ele tem o dever de cultivar em si, principalmente e no mais alto grau possível, os talentos sociais: a receptividade e a capacidade de comunicação

Quem é enganado é tratado como um simples meio. 

O fim último de cada homem singular, assim como o de toda a sociedade, e portanto também o de todos os trabalhos do erudito na sociedade, é o enobrecimento moral do homem inteiro. 

Não ensinamos apenas através de palavras; ensinamos também, de modo muito mais penetrante, através do nosso exemplo. 

Se o melhor entre os homens está corrompido, onde ainda se deve buscar o bem moral? Por isso, considerado sob esse último aspecto, o erudito deve ser o homem moralmente melhor de sua época: deve apresentar em si o nível mais alto de formação moral possível até ele. 

QUINTA PRELEÇÃO: EXAME DAS AFIRMAÇÕES DE ROUSSEAU SOBRE A INFLUÊNCIA DAS ARTES E DAS CIÊNCIAS SOBRE O BEM-ESTAR DA HUMANIDADE 

Para a descoberta da verdade, a contestação de erros opostos não é de grande proveito. 

Toda verdade pode ser deduzida apenas de uma única proposição fundamental. Cabe a uma sólida doutrina da ciência mostrar qual é essa proposição para cada problema determinado. 

Situei a destinação da humanidade no progresso constante da cultura e no desenvolvimento uniformemente contínuo de todas as suas disposições e carecimentos; e indiquei um lugar muito honroso na sociedade humana à categoria que deve velar pelo progresso e a uniformidade desse desenvolvimento. 

Ninguém contradisse essa verdade com tanta determinação, com as razões mais aparentes e com eloquência mais enérgica do que Rousseau. Para ele, o avanço da cultura é a única causa de toda corrupção humana. Segundo ele, não há salvação para os homens a não ser no estado de natureza; e — o que se segue de modo totalmente correto de suas proposições fundamentais — aquela categoria que mais promove o progresso da cultura, a categoria dos eruditos, é para ele não só a fonte como o ponto central de toda miséria e corrupção humanas. 

Para ele, retorno é progresso; para ele, aquele estado de natureza abandonado é a meta última a que a humanidade, hoje corrompida e deformada, finalmente tem de chegar. Ele trabalhava, à sua maneira, levar adiante a humanidade. Porém, suas ações estavam em contradição com as suas proposições fundamentais. 

O que Rousseau tem de verdadeiro funda-se imediatamente no seu sentimento; e o seu conhecimento tem por isso a falha de todo conhecimento fundado no mero sentimento não desenvolvido, que é de certa incerto, pois não se pode prestar contas integralmente sobre o seu sentimento; e de em parte mesclar o verdadeiro com o não verdadeiro, pois um juízo fundado sobre um sentimento não desenvolvido sempre estabelece como tendo o mesmo significado, o que, porém, não tem o mesmo significado. A saber, o sentimento nunca erra, mas a faculdade do juízo erra enquanto interpreta incorretamente o sentimento e toma um sentimento misto por um sentimento puro. 

Ora, cheio deste amargo sentimento, Rousseau não era capaz de ver outra coisa senão o objeto que o incitara. 

Poderíamos propor-lhe a questão: o que Rousseau propriamente buscava neste estado de natureza? — Ele mesmo se sentia oprimido e limitado por múltiplos carecimentos. Ele se achava em toda parte oprimido pelos outros, pois impedia a satisfação dos carecimentos deles. 

Assim, inadvertidamente, ele transpunha a si mesmo e a sociedade inteira ao estado natural junto com toda a formação que ela pôde receber apenas através da saída do estado de natureza.

Rousseau queria reintegrar o homem ao estado de natureza, não em vista da formação espiritual, e sim apenas em vista da independência dos carecimentos da sensibilidade. 

Rousseau esquece que a humanidade pode se aproximar e deve se aproximar desse estado apenas mediante cuidado, esforço e trabalho. 

O carecimento não é a fonte do vício; ele é incitação à atividade e à virtude. A preguiça é fonte de todos os vícios. Gozar sempre o mais possível, agir sempre o menos possível  esta é a tarefa da natureza corrompida. 

A dor, que está ligada ao sentimento de carecimento, deve nos estimular para a atividade.

Ele agiu quase sem sem ser autoconsciente de sua auto-atividade. Essa falta de esforço para a auto-atividade domina todo o seu sistema de ideias. 


OBSERVAÇÃO: CÓPIA DE TRECHOS DO LIVRO
FICHTE, Johann Gottlieb. O Destino do Erudito. Tradução de Ricardo Barbosa. São Paulo: Hedra, 2014.


15 fevereiro 2015

O Problema Está em Nós

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O problema não está nos outros, mas em nós. Que ilações podemos tirar dessa frase? Em nosso cotidiano, passamos por diversas dificuldades; quando não conseguimos resolvê-las, colocamos a culpa no outro. É a atitude mais cômoda. Porém, o problema não fica resolvido. 

Suponha que um vizinho esteja exagerando o volume do som. Achamos que ele está errado e, para tal, pedimos para diminuí-lo. Isso se repete uma, duas, três vezes. Depois da terceira vez, achamos que ele está fazendo pouco caso de nós. Poderíamos perfeitamente registrar queixa no órgão público. Em vez disso, tentemos administrar essa dificuldade dentro de nós mesmos. Nesse caso, lembremo-nos da frase: "Se com uma ou duas repreensões o próximo não se emendar, deixe tudo por conta de Deus". Ou seja, deixemos que o tempo se encarregue dessa solução. 

Há certas situações que perduram por longo tempo. Por mais que façamos, o problema continua, exigindo de nós alta dose de paciência, de força de vontade, do perdão, entre outros. Podemos, também, encarar essa dificuldade como um teste para o nosso equilíbrio mental e espiritual. Um exercício interessante é comparar o barulho a uma bomba: mesmo explodindo ao nosso lado, não pode ser capaz de tirar o nosso poder de concentração. 

O ser humano ainda está muito longe do respeito que deve ter para com o próximo. Falta-lhe educação. A maioria não divisa os limites de sua ação. Não sabem que o direito de um termina quando começa o direito do outro. Isso denota também o egoísmo que ainda nos domina. A pessoa diz: quero saciar os meus desejos, mesmo que seja em detrimento próximo.  

Pensando sensatamente: o barulho nos prejudica? Não. Quando tivermos um objetivo claro em mente, o volume do som não tem capacidade de tirar o foco que temos em mira. É mais uma opinião de que o outro está errado e que não devia agir daquela maneira, porque é da lei que um deve respeitar o outro. E se o outro não se inteirou, ou não quis tomar consciência dessa lei, o que podemos fazer? 

Do mesmo modo que hoje somos consequência de ontem, tudo o que estivermos pensando ou fazendo hoje tem a sua respectiva consequência no futuro. A nossa atitude mental tem um poder extraordinário. Num átimo de segundo podemos mudar o nosso ânimo, a nossa disposição. 

Treinemos uma atitude mental positiva, sempre pensando no bem, apesar da visita contínua do mal.