O gnosticismo centra-se na busca da perfeição através da gnose
Gnosticismo, uma corrente
particular do pensamento, ainda não bem conhecido na época presente, deriva de
grego gnosis, e significa
“conhecimento”, não um conhecimento conceitual, mas intuitivo, reservado
somente a alguns iniciados. É uma corrente de pensamento que surgiu a partir do
século II de nossa era, na qual se combinam elementos cristãos e pagãos. (1)
No começo da era cristã, havia a tradição grega, baseada no deus da
razão, e a tradição cristã, baseada na fé sobrenatural. O problema
principal era conciliar Deus e a Alma do Mundo. Deus é o invisível,
o Bem; a Alma do Mundo, a matéria, o Mal. Não foram somente os cristãos que
quiseram dar uma solução para a dualidade entre o bem e o mal. Na época, havia
duas correntes: o gnosticismo e o
neoplatonismo. (1)
Segundo o neoplatonismo, o real é constituído de três
hipóstases - o Uno, a Inteligência (Nous) e a Alma, sendo que as duas
últimas procederiam da primeira por emanação. As suas teses podem
ser assim resumidas: absoluta transcendência do ser divino, a emanação e o retorno
do mundo a Deus pela interiorização progressiva do homem.
Para defender a pureza angélica, os gnósticos de todos
os tempos inventaram teorias que davam sustentação aos seus anseios. Muitos
gnósticos negaram a corporeidade de Jesus, imputando-lhe um corpo astral.
Valentim (c. 160 d.C.) dizia: “Jesus comia e bebia de forma especial, sem
excretar a comida. Tão grande era a força de seu poder de evitar a excreção que
os alimentos não apodreciam nele, pois ele mesmo era indefectível e
incorruptível”.
O autoconhecimento, que é a premissa básica do gnosticismo,
não passa de um escapismo, como nos ensina Martin Burckhardt, em
“Pequena História das Grandes Ideias”. Para ele, a gnose passa a ser um
escapismo, quando se torna uma religião da razão. Platão falava de um mundo
além deste; o gnósticos queriam a felicidade aqui e agora. A dificuldade estava
em entender a descida do ser humano ao vale de lágrimas: como pressupunham que
a carne era fraca, encontraram um vilão para todos os pecados: o
demoníaco, diabolon, antítese da divindade.
No início da era cristã, o gnosticismo surge como uma
reunião da alma oriental e da alma ocidental. Depois, a gnose seguirá o seu
próprio curso, fundamentada na revelação cristã e na racionalidade grega. No
decorrer da história, porém, nem todo o pensamento assentou-se na fé cristã e
na racionalidade grega. Entram em cena as doutrinas enigmáticas do Orfismo (transmigrações
sucessivas das almas) e o hermetismo (que está relacionada com
a astrologia e a alquimia). (Temática Barsa)
O gnosticismo busca o encontro com Deus, o Uno. Esta busca está centrada
no conhecimento de si, base da gnose. Para tanto, utiliza-se de tudo o que
possa facilitar a interiorização do ser humano: preceitos cristãos, as retortas
alquímicas e a astrologia. O objetivo maior é diminuir a distância que há entre
o homem (limitado) e Deus (o onipotente).
(1) TEMÁTICA Barsa - Filosofia.
BURCKHARDT, Martin. Pequena História das Grandes Ideias: Como a Filosofia Inventou nosso Mundo. Tradução de Petê Rissatti. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2011.