1 — Começo da Revolução Científica. 2 — A Nova
Ciência: Bacon. 3 — A Nova Ciência: Galileu. 4 — O Apogeu da Revolução
Científica. 5 — Giordano Bruno: o Universo Infinito. 6 — Bibliografia
Consultada.
1 — Começo da Revolução
Científica: Copérnico
Com o Renascimento, começa a revolução científica, longo e complexo
processo de mudança pelo qual uma nova imagem do mundo se impõe às
velhas ideias científicas da Antiguidade e da Idade Média. Esse
processo percorre suas primeiras fases nos séculos XV e XVI e culmina no
século XVII com a mecânica celeste de Newton: seu ponto central está situado na
revolucionária teoria astronômica de Copérnico, que afirma,
pela primeira vez, que a Terra não é o centro do Universo.
Junto com a astronomia, a nova ciência escavou o chão sob os fundamentos e princípios básicos da física de Aristóteles: a finitude do Universo, a heterogeneidade das substâncias terrestres e celestes (incorruptíveis e inalteráveis), a interpretação finalista do movimento, a uniformidade e a circularidade do movimento dos corpos celestes, a distinção entre movimentos naturais e movimentos violentos ou antinaturais.
A essa mudança na imagem do mundo se acrescentou — pela tradução e
conhecimento dos cientistas gregos— a concepção platônico-pitagórica de
que o real tem uma estrutura matemática. Todos esses fatores determinaram uma
nova interpretação da razão, assim como um novo método científico.
A ciência
no Renascimento
No período que compreende os séculos XV e XVII, a atitude humanista se
traduz no campo científico em uma exploração sistemática de todos os âmbitos da
natureza. As inovações técnicas do final da Idade Média, e particularmente a
imprensa, aparecem então como meios a serviço de uma vontade de exploração do
mundo. O que se pretende, sobretudo, é descobrir os segredos da natureza e
utilizar essas descobertas em proveito do homem. A figura do humanista, assim,
aparece duplicada pela do engenheiro, cujo protótipo renascentista é Leonardo
da Vinci.
Os conhecimentos da revolução científica do Renascimento estabelecem os
inícios da ciência experimental, que antes de Galileu é, sobretudo, uma ciência
descritiva. Esse caráter descritivo é, por outro lado, particularmente benéfico
no campo das ciências naturais, que adquirem amplitude graças aos grandes
descobrimentos geográficos dessa época. A observação e experimentação direta
estabelecem uma nova ciência médica — descobre-se o corpo humano —
que avança notavelmente nas descrições anatômicas, fisiológicas e patológicas.
A mais completa descrição anatômica é proporcionada por Andreas Vesalius
(1514-1564) em Sete livros sobre a estrutura do corpo humano (1543),
obra que na época representou uma verdadeira revolução. Vesalius é fruto de uma
atitude científica que combate a tradição da medicina clássica de Galeno e
Avicena, e que submete os órgãos do corpo a uma dissecação e exploração
sistemáticas. Teofrasto Paracelso (1493-1541), vinculando à tradição
alquimista e astrológica, entende que "o médico deve formar-se a partir
das coisas exteriores", pois só essas "oferecem o conhecimento do
interior". A medicina paracelsista se sustenta na doutrina do "astrum
in corpore", quer dizer, do homem como microcosmos relacionado com o
macrocosmos. A medicina iatroquímica de Paracelso, baseada no uso de agentes
quimioterápicos, contribuirá de modo importante para a fundação da química
moderna.
A
revolução coperniciana
Os inícios da revolução científica tem seu marco essencial na teoria de
Nicolau Copérnico (1473-1543), astrônomo de origem polonesa, exposta em seu
livro Sobre a revolução dos orbes celestes (1543). O sistema
geocêntrico de Ptolomeu, que tinha perdurado ao longo da Idade Média como
imagem inapelável do mundo, é então substituído por um sistema heliocêntrico. O
centro do Universo já não é a Terra, mas o Sol; aquela tem um duplo movimento,
de rotação sobre o seu eixo e de translação em torno do Sol, da mesma forma que
os outros planetas do sistema solar.
O aperfeiçoamento da corajosa teoria coperniciana será obra de Johannes
Kepler (1571-1630). Graças às observações precisas do
astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), Kepler, que foi seu
aluno, estabelece matematicamente as leis que regem as órbitas dos planetas. Em
1610, o sistema de Copérnico foi confirmado cientificamente por Galileu, ao
observar as fases de Vênus com seu telescópio.
Nessa época, já se tinha iniciado uma nova batalha: a da igreja e dos
defensores da velha concepção geocêntrica do Universo contra os cientistas e
filósofos que aceitavam o que a ciência apresentava de forma evidente.
2 — A Nova
Ciência: Bacon
No curso da revolução científica ocorrida na Europa dos séculos
XVI-XVII, um dos pensadores que capta melhor os efeitos radicalmente
transformadores da nova ciência é o inglês Francis Bacon. Seguindo o exemplo de
Telésio, Bacon critica o aristotelismo por considerá-lo inoperante e propõe uma
nova lógica experimental e indutiva, um novo instrumento capaz
de descobrir as causas dos fenômenos, porque a verdadeira ciência
é sobretudo uma ciência das causas.
Dessa maneira, Bacon abandona explicitamente a metafísica, que, tal como
Montaigne, considera presunçosa, e propõe uma filosofia experimental, baseada
nos fatos e construída como uma metodologia científica. A natureza, mais do que
ser compreendida, deve ser dominada, posta a serviço do homem e de sua vontade
de dominação.
O método
indutivo
Francis Bacon (1561-1626), barão de Verulam e grande chanceler da
Inglaterra durante o reinado de Jacob I, embora tenha desdenhado o valor das
matemáticas e não se tinha percebido da sua importância fundamental no desenvolvimento
da ciência moderna, soube compreender que a física e a lógica aristotélicas
haviam ficado definitivamente inutilizadas desde o início da revolução
científica.
Compreendeu como ninguém os efeitos práticos da ciência. Sua grande
preocupação foi, portanto, metodológica; seu objetivo final, formular um novo
método científico capaz de estabelecer as leis rigorosas da observação
empírica.
Na lógica aristotélica, o caminho é sempre dedutivo. Não que não haja
uma observação empírica dos fatos. Acontece, porém, que essa lógica parte
"das sensações e dos fatos particulares para elevar-se rapidamente às
proposições mais gerais e, baseando-se nesses princípios, cuja verdade se supõe
imutável, descobre as proposições intermediárias". Bacon afirma que esse é
o caminho frequentemente seguido para atingir a verdade. Mas na ciência essa
descida do geral ao particular não está autorizada. A experiência não a
avaliza.
Partindo do caráter experimental de todo conhecimento verdadeiramente
científico, o método que convém seguir é contrário ao procedimento
aristotélico.
Bacon propõe então um novo método indutivo, por meio do qual
se vá subindo gradualmente do particular ao geral até chegar à máxima
generalização possível, que são as leis ou princípios. Essa nova lógica indutiva
e experimental está desenvolvida no Novum organum (1620), obra
fundamental de Bacon que devia fazer parte da Instauratio magna (A
grande instauração), um grande tratado geral das ciências que jamais foi
concluído. ONovum organum tem a pretensão de substituir o organum,
que é como se chamava tradicionalmente a velha lógica aristotélica.
As regras
da experimentação
No método indutivo, estabelece-se uma série de passos com o objetivo de
que a observação empírica seja a mais rigorosa possível. Em primeiro lugar, é
essencial confrontar os fatos observados mediante o uso de algumas
"tabelas". No Novum organum, distinguem-se várias
categorias. As mais importantes são as "tabelas de presença" —
onde se registram os casos em que se verifica um determinado fenômeno —,
as "tabelas de ausência" — que registram os casos em que, ao
contrário do que se esperava, o fenômeno não ocorre — e as "tabelas
de grau" — nas quais se assinala o aumento ou a diminuição do
fenômeno. Os dados registrados nas diferentes tabelas são depois comparados
atentamente, com o objetivo de estabelecer uma primeira hipótese. Essa primeira
hipótese tem somente o valor de prova e deve-se verificá-la empiricamente. Com
a verificação, surgem novos erros e, em consequência, formulam-se novas hipóteses,
mais próximas da verdade. O método indutivo de experimentação se baseia num
aperfeiçoamento sucessivo das hipóteses. A verdade vai surgindo por
aproximação, à medida que se descartam os erros. Então, e de forma escalonada,
formulam-se alguns axiomas intermediários e, finalmente, alguns princípios mais
gerais.
A teoria
dos idola
O Novum organum estabelece uma crítica
sobre os erros e preconceitos que obstaculizam o conhecimento da verdade. Tais
obstáculos são interpostos pelo intelecto humano à maneira de deformação que
impedem a percepção correta dos fatos. Bacon os denomina idola,
isto é, "ídolos", e distingue entre eles quatro tipos fundamentais.
3 — A Nova
Ciência: Galileu
O Universo está escrito em linguagem matemática e a mera observação
empírica dos fatos não basta para fundamentar um verdadeiro método científico.
À indução preconizada por Francis Bacon cabe unir a dedução efetuada a partir
de alguns axiomas e teoremas matemáticos. Essa combinação do matemático com o
empírico, do dedutivo com o indutivo, que tem por objetivo tornar mensuráveis
os fenômenos da natureza, constitui a característica mais importante método
experimental. Seu autor é Galileu Galilei, um dos maiores cientistas da Europa
moderna.
O método experimental, antes de mais nada, uma nova maneira de
"perguntar" à natureza.
4 — O Apogeu da
Revolução Científica
A ciência moderna, que tem suas origens no Renascimento, atinge a
maturidade em fins do século XVII, quando Isaac Newton elabora a sua teoria da
gravitação universal. O mundo fica mais unificado sob rigorosas leis mecânicas,
e física destitui definitivamente a teologia e se converte num ponto de
referência obrigatório de qualquer reflexão filosófica. Trata-se de uma virada
de grande envergadura na história do pensamento ocidental,
e constitui por isso uma das mais
importantes consequências da revolução científica.
Regras
para raciocinar em filosofia
"1) Não devemos admitir mais causas de coisas do que as que são
verdadeiras e suficientes para explicar suas aparências.
"2) Portanto, aos mesmos efeitos naturais devemos atribuir, até
onde seja possível, as mesmas causas.
"3) Aquelas propriedades dos corpos que não se possam aumentar ou
diminuir gradualmente, e que existam em todos os corpos que possamos examinar,
serão considerados como propriedades universais da totalidade dos corpos.
"4) Na filosofia experimental devemos aceitar as proposições
derivadas por indução geral dos fenômenos como exatas ou muito provavelmente
corretas, apesar das hipóteses contrárias que se pudessem imaginar, até o tempo
em que ocorram outros fenômenos, com os quais possam tornar-se mais exatas ou
aceitar exceções." Isaac Newton. Princípios matemáticos da
filosofia natural
5 — Giordano
Bruno: o Universo Infinito
No século XVI a filosofia renascentista se articula firmemente. O
misticismo teosófico dos primeiros humanistas, como Pico della Mirandola, é
superado na Itália do Renascimento pela filosofia natural de Telésio, Bruno e
Campanella. É típico desses pensadores opor-se a qualquer princípio
sobrenatural ou transcendente para explicar a natureza, quer dizer, o conjunto
da realidade existente. Dessa maneira, investigando as leis naturais e
explicando a realidade por meio delas, rompem definitivamente com a Idade Média
e levam o humanismo à sua expressão máxima.
Importância particular reveste a filosofia de Giordano Bruno, que
elabora uma nova imagem do mundo, partindo dos pressupostos da astronomia de
Copérnico. O Universo é infinito e Deus está incorporado a ele a partir de uma
visão panteísta que influenciará de modo notável a filosofia posterior de
Spinoza e Leibniz.
Giordano
Bruno e seus carrascos
"Dizer: qual foi o meu crime? Nem ao menos suspeitais?
E me acusais, sabendo que nunca agi fora da lei?
Queimai-me, que amanhã onde acendeis a fogueira
A história erguerá uma estátua para mim.
[...]
Mas sois sempre os mesmos, os velhos fariseus.
Os quer rezam e se prostram onde podem ser vistos.
Fingindo fé, sois falsos, invocando a Deus, ateus;
[...]
Prefiro mil vezes minha sorte à vossa;
Morrer como eu morro não é morte;
Morrer assim é a vida; vosso viver, sim, é a morte.
[...]
Covardes! O que vos detém? Temeis o futuro?
Ah! Tremeis. É porque vos falta o que sobra em mim.
Olhai, eu não tremo. E sou eu quem vai morrer!"
6 — Bibliografia Consultada
Temática
Barsa - Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.
São
Paulo, março de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário