“Para filosofar, a mente deve estar ociosa”.
Arthur Schopenhauer (1788-1860) anota duas exigências para
se filosofar: 1) que se tenha coragem de não guardar no coração nenhuma
pergunta sem resposta; 2) que se traga à clara consciência aquilo que se
entende por si mesmo para considerá-lo como problema. Por fim, para se
filosofar propriamente, a mente deve estar ociosa. Quer dizer, deve procurar
desinteressadamente o conhecimento que o mundo intuitivo lhe oferece.
Depreende-se que o verdadeiro filósofo não é aquele
que tem uma finalidade, um objetivo, uma vontade, mas aquele que renuncia a si
mesmo e, deixando o particular, procura absorver-se no universal. É preciso ver
o universal nas coisas particulares. Por isso, a filosofia, o anelo pela
verdade nua e crua. Nesse sentido, os professores de filosofia podem dispor de
inúmeros conceitos e muitas abstrações e, mesmo assim, não serem
verdadeiramente filósofos.
Schopenhauer diz: “Somente se o conhecimento for
dirigido ao universal é que pode permanecer isento de vontade; já o objeto do
querer, pelo contrário, está nas coisas particulares”. Ainda: “Para o intelecto
a serviço da vontade só há coisas particulares; o gênio, ao contrário,
desconsidera e negligencia o individual”.
A verdadeira filosofia não pode ficar apenas nos
conceitos abstratos, que muitas vezes deturpam o próprio conhecimento. Já não
vemos mais árvores, animais e pedras, pois são meros produtos de nossa
abstração. O mesmo podemos dizer das palavras verdade e beleza, que se tornaram
mágicas a ponto de nos infundir o dualismo maniqueísta, entre o verdadeiro e o
falso, o bem e o mal, o belo e o feio. Seria mais produtivo fundamentá-la na
observação e experiência, interior e exterior.
O ócio pode livrar-nos dos vereditos da razão, expressão usada para aquele que toma o
conhecimento falso por verdadeiro, pois acreditou numa verdade sem exame. É
sobre este fato que devemos direcionar o nosso pensamento. Nesse caso, “é
melhor rejeitar dez verdades do que aceitar uma mentira” é uma frase lapidar
que deveríamos pôr em prática em nossas lucubrações filosóficas.
Fonte de Consulta
Schopenhauer, A. Sobre a Filosofia e seu
Método. Organização e tradução de Flamarion Caldeira Ramos. São Paulo:
Hedra, 2010.
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