Filosoficamente considerado, há dois
tipos de conhecimento: 1) histórico (cognitio ex-datis); 2) racional (cognitio
ex-principiis). O conhecimento histórico diz respeito à razão alheia. São
os dados, aqueles gerados ao longo do tempo, principalmente pelos grandes
pensadores da humanidade, tais como, Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes e
outros. O conhecimento racional, por sua vez, fundamenta-se nos princípios da
razão e não exclusivamente nos dados alheios.
Há necessidade de consultarmos os
grandes pensadores do passado? Por quê? É que os sistemas filosóficos
representam a história do uso da razão. Consultando-os, podemos extrair deles
uma grande quantidade de conhecimentos, pois não teríamos tempo suficiente para
apreendê-los somente por nós mesmos. Descartes, por exemplo, achava que a
leitura desses filósofos era uma conversa entre os melhores espíritos de épocas
passadas. Nesse sentido, diz-se que os clássicos nunca ficam obsoletos, isto é,
são sempre atuais.
Filosofar quer dizer problematizar e,
mais especificamente, formular problemas. O problema filosófico não deve ser
confundido com um outro problema qualquer, como o matemático, em que se procura
construir teoremas. Na filosofia, ele se assemelha ao questionamento que
Sócrates fazia em sua época, quando indagava o seu interlocutor através da
ironia e da maiêutica. Assim, é preciso interrogar, duvidar, hesitar, examinar,
ou seja, pensar.
A leitura dos clássicos, e sua
problematização, leva-nos a pensar o que eles pensaram, mas com o intuito de
tornar nossos os seus pensamentos, desde que haja consentimento da nossa razão.
Não podemos ser como “os macacos e os papagaios”, que simplesmente repetem o
que os outros disseram. Precisamos ultrapassar o que foi escrito pelos outros,
pois o que importa é a nossa maneira de ser, o nosso modo de pensar. Em
síntese: temos que adquirir certa autonomia no pensar.
Filosofar não é tarefa fácil, porque
induz-nos a enfrentar os nossos preconceitos e as nossas idiossincrasias. Isso,
porém, gera sofrimento. Como largar um hábito inveterado de uma hora para
outra? Como destruir um preconceito que nos acompanha desde longa data? De
qualquer forma, é sempre útil pensar sobre o pensamento, no sentido de tirarmos
conclusões que nos levem a ampliar a interpretação da realidade.
Leiamos, interpretemos e
problematizemos e nos aproximemos da verdade. A ilusão pode nos oferecer horas
de prazer, mas no longo prazo o que importa é o desenvolvimento integral de
nosso ser.
Mais informações em:
RAFFIN, Françoise. Pequena
Introdução à Filosofia. Tradução de Constância Morel e Ana Flaksman. Rio de
Janeiro: FGV, 2009. (Coleção FGV de bolso. Série Filosofia)
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