22 junho 2022

Tomás de Aquino e a Escolástica Medieval

Nosso ponto de partida: Aristóteles acredita na existência de um deus (“motor imóvel”), mas este não criou o mundo a partir do nada nem possui um filho, que seria também Deus, e redimiria a humanidade. Tomás de Aquino vê Aristóteles, que o denominou de “o filósofo”, como o filósofo que expressou de forma racional o cristianismo antes que esse se apresentasse de forma completa na revelação do Novo Testamento.

Tomás de Aquino (1225-1274), aos 5 anos de idade, foi internado no mosteiro dos beneditinos em Monte Casino, onde ficou até 1239, e, nesse mesmo ano, fora enviado a Nápoles para estudar com a finalidade se tornar abade naquele mosteiro. Em 1244, ingressou, contrariando os desejos da família, na jovem Ordem Mendicante, dedicada a atividades de ensino e formação, um contrapeso à crescente secularização da Igreja, tornando-se sua pátria espiritual.

Mesmo a família tentando dissuadi-lo de levar uma vida como frade mendicante, inclusive deixando-o preso em casa por um ano, ele retornou a seus irmãos de Ordem, e pode, assim ter contato com um dos professores de filosofia mais importante da época, o alemão Alberto de Lauingen, também conhecido como “Albertus Magnus”. Tornou-se o aluno-mestre de Alberto, recebendo o apelido de “boi mudo”, por ser muito reservado. Posteriormente, passou a ser chamado “Doctor angelicus”, doutor angélico entre os eruditos.

Depois de se separar de seu professor, e voltar para Paris, teve oportunidade de lecionar de maneira autônoma. Um de seus primeiros e mais conhecidos escritos, O ente e a essência, tem o objetivo de familiarizar seus colegas de estudos com a doutrina de Aristóteles. Tomás permaneceu até o fim da vida como professor a serviço de sua Ordem, que lhe dava sempre novas tarefas.

Em 1259, foi enviado de volta à Itália. Em 1264, concluiu sua primeira grande obra: a Suma contra os gentios. O título de suma significava que ali havia o resumo sistemático de um plano de curso. A Suma contra os gentios deveria fornecer argumentos aos monges dominicanos para que pudessem defender sua posição teológica contra os dissidentes.

Em 1266, começa a esboçar a sua segunda grande obra: a Suma teológica, que seria tripartida, e pretendia delinear uma nova metafisica e uma nova ética sobre a base cristã. A primeira parte, cujo centro está Deus, foi concluída na Itália. Entre 1268 e 1272, quando voltou a lecionar em Paris, surgiu a segunda parte, dedicada ao homem. Entre 1272 e sua morte, em 1274, Tomás regressou à sua casa, no sul da Itália, onde iniciou a terceira parte, não concluída, que trata do filho de Deus encarnado.

Na Suma Teológica está esboçada uma ordem mundial que engloba Deus e o homem e é acessível em sua estrutura racional e no curso regular da razão humana. Nesta obra, razão e fé não são opostas, pois são conduzidas na mesma direção. Assim, a “luz natural da razão” determina os limites da atuação na filosofia. A teologia, que tem por base a fé, pode se apoiar na “luz de uma ciência superior”.

“Durante a Idade Média, a Suma teológica foi o ápice da escolástica. Ela forneceu a visão de mundo para a Divina comédia, de Dante, e o modelo para a renovação da escolástica pelo espanhol Francisco Suarez, no século XVI. Mas mesmo no século XX os ‘neotomistas’, como Jacques Maritain e Josef Pieper, tentaram desenvolver uma filosofia de inspiração religiosa, seguindo Tomás de Aquino. Ser finito e ser eterno, principal obra da filósofa Edith Stein, morta em Auschwitz, é um dos resultados mais importantes desses esforços da Idade Moderna".

A Suma teológica não serve apenas para dar às convicções religiosas uma aparência filosófica. "Ela pertence ao grupo das grandes obras, com as quais a razão começa a se apossar de princípios religiosos para, finalmente, deles se emancipar no iluminismo do século XVII".

Fonte de Consulta

ZIMMER, Robert. O Portal da filosofia: Uma Breve Leitura de Obras Fundamentais da Filosofia Volume 2. Tradução Rita de Cassia Machado e Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

 

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