Nosso ponto de partida: Aristóteles acredita na existência de um deus (“motor
imóvel”), mas este não criou o mundo a partir do nada nem possui um filho, que
seria também Deus, e redimiria a humanidade. Tomás de Aquino vê Aristóteles,
que o denominou de “o filósofo”, como o filósofo que expressou de forma
racional o cristianismo antes que esse se apresentasse de forma completa na
revelação do Novo Testamento.
Tomás de Aquino (1225-1274), aos 5 anos de idade, foi
internado no mosteiro dos beneditinos em Monte Casino, onde ficou até 1239, e,
nesse mesmo ano, fora enviado a Nápoles para estudar com a finalidade se tornar
abade naquele mosteiro. Em 1244, ingressou, contrariando os desejos da família,
na jovem Ordem Mendicante, dedicada a atividades de ensino e formação, um
contrapeso à crescente secularização da Igreja, tornando-se sua pátria espiritual.
Mesmo a família tentando dissuadi-lo de levar uma vida como
frade mendicante, inclusive deixando-o preso em casa por um ano, ele retornou a
seus irmãos de Ordem, e pode, assim ter contato com um dos professores de
filosofia mais importante da época, o alemão Alberto de Lauingen, também
conhecido como “Albertus Magnus”. Tornou-se o aluno-mestre de Alberto,
recebendo o apelido de “boi mudo”, por ser muito reservado. Posteriormente,
passou a ser chamado “Doctor angelicus”, doutor angélico entre os eruditos.
Depois de se separar de seu professor, e voltar para Paris,
teve oportunidade de lecionar de maneira autônoma. Um de seus primeiros e mais
conhecidos escritos, O ente e a essência,
tem o objetivo de familiarizar seus colegas de estudos com a doutrina de Aristóteles.
Tomás permaneceu até o fim da vida como professor a serviço de sua Ordem, que
lhe dava sempre novas tarefas.
Em 1259, foi enviado de volta à Itália. Em 1264, concluiu
sua primeira grande obra: a Suma contra
os gentios. O título de suma significava que ali havia o resumo sistemático
de um plano de curso. A Suma contra os
gentios deveria fornecer argumentos aos monges dominicanos para que
pudessem defender sua posição teológica contra os dissidentes.
Em 1266, começa a esboçar a sua segunda grande obra: a Suma teológica, que seria tripartida, e pretendia
delinear uma nova metafisica e uma nova ética sobre a base cristã. A primeira
parte, cujo centro está Deus, foi concluída na Itália. Entre 1268 e 1272,
quando voltou a lecionar em Paris, surgiu a segunda parte, dedicada ao homem. Entre
1272 e sua morte, em 1274, Tomás regressou à sua casa, no sul da Itália, onde
iniciou a terceira parte, não concluída, que trata do filho de Deus encarnado.
Na Suma Teológica
está esboçada uma ordem mundial que engloba Deus e o homem e é acessível em sua
estrutura racional e no curso regular da razão humana. Nesta obra, razão e fé
não são opostas, pois são conduzidas na mesma direção. Assim, a “luz natural da
razão” determina os limites da atuação na filosofia. A teologia, que tem por
base a fé, pode se apoiar na “luz de uma ciência superior”.
“Durante a Idade Média, a Suma teológica foi o ápice da escolástica. Ela forneceu a visão de
mundo para a Divina comédia, de
Dante, e o modelo para a renovação da escolástica pelo espanhol Francisco
Suarez, no século XVI. Mas mesmo no século XX os ‘neotomistas’, como Jacques
Maritain e Josef Pieper, tentaram desenvolver uma filosofia de inspiração religiosa,
seguindo Tomás de Aquino. Ser finito e
ser eterno, principal obra da filósofa Edith Stein, morta em Auschwitz, é
um dos resultados mais importantes desses esforços da Idade Moderna".
A Suma teológica não serve apenas para dar às convicções religiosas uma aparência filosófica. "Ela pertence ao grupo das grandes obras, com as quais a razão começa a se apossar de princípios religiosos para, finalmente, deles se emancipar no iluminismo do século XVII".
Fonte de Consulta
ZIMMER, Robert. O Portal da filosofia: Uma Breve Leitura de Obras Fundamentais da Filosofia Volume 2. Tradução Rita de Cassia Machado e Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
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