23 junho 2022

Nicolau de Cusa e "Da Douta Ignorância"

Nicolau de Cusa, em Da Douta Ignorância, defende que Deus está sempre além da razão humana. O conhecimento de Deus é um saber do não saber. No primeiro capítulo do seu livro diz: “O homem será tanto mais sábio quanto mais ignorante se souber”. Este livro procura mostrar a relação entre Deus, o mundo e o homem em base completamente nova.

Nicolau de Cusa (1401-1464), cujo nome verdadeiro era Nicolau Krebs, graças ao patrimônio do pai, ao completar 15 anos, pode ser enviado à recém-criada Universidade de Heidelberg, que se lecionava com o espírito da escolástica, e a doutrina cristã era interpretada com base na filosofia aristotélica. Posteriormente, transferiu-se para a Universidade de Pádua, onde pode receber excepcionais ensinamentos do Cardeal Giuliano Cesarini. Foi ordenado padre aos 22 anos. Doutorou-se em direito canônico.

Antes que sua obra viesse a público, refletiu sobre os grandes ensinamentos dos filósofos da Antiguidade grega, tais como, Platão, pela sua Teoria das Ideias, Aristóteles, pela sua lógica e metafísica, Pitágoras, pela sua matemática. De Plotino, extrai o princípio da realidade do “Uno”. Em se tratando de Deus, diz: “Deus é a unidade no sentido de uma ‘coincidência’, uma junção ou simultaneidade de opostos em um nível mais elevado. O conhecimento dessa unidade, porém, está ligado à renúncia ao ‘conhecimento’ em seu sentido habitual: é um saber do não saber”.

Da Douta Ignorância é composto de três volumes: o primeiro trata de Deus como unidade “em que opostos coincidem” [metafísica]; o segundo volume trata do universo [cosmologia]; e o terceiro, ao papel de Jesus Cristo como a ligação entre Deus, o mundo e o homem [teologia]. Usa as noções de “máximo”, “absoluto”, “infinito” etc., para explicar a sua teoria sobre Deus, o universo e Jesus Cristo.

As ideias de Nicolau de Cusa influenciaram outros pensadores.  A tese da infinitude do mundo e da impossibilidade de pensar em Deus foi incorporada à obra de Giordano Bruno. As contradições da razão estão na “doutrina das antinomias”, posta por Kant na Crítica da razão pura. A “interação entre unidade e diversidade” está presente na obra de Hegel.

Percebemos que Cusa estava à frente de seu tempo. Todas as suas teses envolvem o aspecto lógico, matemático, místico e intuitivo. Além disso, incentiva-nos a buscar a humildade perante às forças ocultas da natureza.

Fonte de Consulta

ZIMMER, Robert. O Portal da filosofia: Uma Breve Leitura de Obras Fundamentais da Filosofia Volume 2. Tradução Rita de Cassia Machado e Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

 

 

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