20 junho 2022

Boécio e "A Consolação da Filosofia"

Boécio nasceu, em 480, juntamente com o declínio do Império Romano do Ocidente. Cresceu na fé cristã, que era a religião oficial do Império Romano desde 391. A sua obra famosa, A consolação da filosofia (c. 524), foi escrita no momento em que estava na prisão e sabia que a morte era iminente.

De acordo com os historiadores da filosofia, o ano 529 marca o fim da filosofia antiga e o início da medieval. A consolação da filosofia é vista como o canto dos cisnes da antiga sabedoria, pois marca o testamento filosófico para a posteridade.

Boécio teve oportunidade de conhecer, por meio de seus estudos, as quatro escolas filosóficas mais influentes da Antiguidade, que tiveram origem em Atenas: a Academia de Platão, a escola peripatética, fundada por Aristóteles, os estoicos e a escola epicurista. Assim, pode combinar o Deus cristão com as concepções neoplatônicas. Tinha em mente que sua missão era engajar-se em prol da coletividade.

A consolação da filosofia é o resultado de suas reflexões sobre a tradição da filosofia antiga. Para toda a Antiguidade, e também para Boécio, o bem e o verdadeiro estavam intimamente ligados. Não existia a separação entre as questões da filosofia teórica e as da filosofia prática.

Baseando-se na “alegoria da caverna”, de Platão, Boécio pensa que o homem deveria “erguer seus olhos acostumados à escuridão para a luz da verdade manifesta”. Para explicar a felicidade, recorre à ética de Aristóteles. A essa  busca da felicidade, Boécio dá o nome de “Deus”.

"Com base no “motor imóvel” presente na Metafísica de Aristóteles, na ideia do bem da filosofia platônica e no “Uno” de Plotino, para Boécio, Deus não é pessoal, mas um princípio universal que o mundo cria, na medida em que, como arquétipo e objetivo de toda realidade, mantém o universo inteiro em movimento e lhe concede uma espécie de “energia da realidade”".

"Os problemas lançados por Boécio, como a compatibilidade entre a legítima predestinação e a liberdade da vontade humana, influenciaram a discussão ainda por um longo tempo. Essas questões foram tomadas, sobretudo, por pensadores como o cardeal Nicolau de Cusa, na Baixa Idade Média, ou o iluminista Immanuel Kant, que tratavam de demonstrar os limites e as contradições do conhecimento humano".

"Todavia, A consolação da filosofia deve seu efeito até os dias de hoje especialmente à convicção de que é a vida, e não a escrivaninha, a emergência da filosofia".

Fonte de Consulta

ZIMMER, Robert. O Portal da filosofia: Uma Breve Leitura de Obras Fundamentais da Filosofia Volume 2. Tradução Rita de Cassia Machado e Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

 

 

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