Eventos extremos são os eventos fora do comum, raros,
surpreendentes e dramáticos, que têm grande influência sobre a vida humana.
Esses eventos — impactos dos asteroides, crises financeiras e ataques nucleares
— foram muito pouco explorados pela ciência que, em geral, se atém ao estudo
dos fenômenos recorrentes. Pergunta provocadora: como caracterizamos o risco em
situações nas quais a teoria da probabilidade e as estatísticas não podem ser empregadas?
Em 2010, o arquiteto americano Bryan Berg construiu um castelo de cartas
com três metros de altura e nove de largura. Qual a consequência de um espirro
que pusesse abaixo o castelo construído em 44 dias? Observe como o nosso
sistema de vida está entrelaçado: a internet depende da rede elétrica; esta do
petróleo, do carvão, da fissão nuclear; carvão, petróleo e fissão nucelar
necessitam de novas tecnologias de produção, as quais exigem eletricidade. O
que aconteceria se não surgissem novas tecnologias durante uma década?
Se a ciência da complexidade já existe há mais de duas décadas, por que
chamar a atenção para eventos extremos nesse momento? Eis a
razão: as infraestruturas para manter o estilo de vida — energia, água, comida,
saúde, segurança, finanças — estão tão interligadas que, se um desses sistemas
desmoronar, há grande risco do desmoronamento do sistema como um todo. É por
isso que em economia se diz que "tudo depende de tudo".
Nossa vida resume-se em uma longa cadeia de acontecimentos. A maioria é
irrelevante, como comer, beber, distrair-se etc. Entretanto, a decisão de um
país invadir outro país, afeta o mundo inteiro por décadas. Esses
acontecimentos são raros, e a possibilidade de previsão é ínfima. Contudo, eles
não podem sem classificados como extremos. Para se caracterizar
como evento extremo, o que importa é o grau de imprevisibilidade quanto ao seu
impacto na sociedade como um todo. Exemplos: os ataques de 11 de setembro, a
crise da hipoteca em 2007-2008 e o apagão da Costa Leste dos EUA em 2003 podem
ser considerados eventos extremos.
Pensemos num governo autoritário que se confronta com a população que
descobriu novas liberdades. A complexidade do sistema de controle, que é o
governo, e do sistema controlado, que é a população, requer uma solução. O
governo pode prender líderes e encarregar a polícia de dispersar os
manifestantes. Pode, também, acelerar a realização de eleições livres. Google,
Twitter e Facebook ajudam a aumentar complexidade social da população, mas não a
do governo.
Há, assim, dois tipos de regime: 1) o regime normal, com um
histórico e a possibilidade de previsão; 2) regime de eventos extremos,
para os quais nossas ferramentas de cálculo simplesmente não servem.
Fonte de Consulta
CASTI, John. O Colapso de Tudo — Os Eventos Extremos Que Podem
Destruir a Civilização a Qualquer Momento. Tradução de Ivo Korytowski e
Bruno Alexandre. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.
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A frase de abertura do texto De Bello Gallico, de Júlio
César, proclama: “Toda a Gália é dividida em três partes.” Por isso, o livro
foi dividido em três partes.
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