13 outubro 2020

Complexidade e Eventos Extremos

Eventos extremos são os eventos fora do comum, raros, surpreendentes e dramáticos, que têm grande influência sobre a vida humana. Esses eventos — impactos dos asteroides, crises financeiras e ataques nucleares — foram muito pouco explorados pela ciência que, em geral, se atém ao estudo dos fenômenos recorrentes. Pergunta provocadora: como caracterizamos o risco em situações nas quais a teoria da probabilidade e as estatísticas não podem ser empregadas?

Em 2010, o arquiteto americano Bryan Berg construiu um castelo de cartas com três metros de altura e nove de largura. Qual a consequência de um espirro que pusesse abaixo o castelo construído em 44 dias? Observe como o nosso sistema de vida está entrelaçado: a internet depende da rede elétrica; esta do petróleo, do carvão, da fissão nuclear; carvão, petróleo e fissão nucelar necessitam de novas tecnologias de produção, as quais exigem eletricidade. O que aconteceria se não surgissem novas tecnologias durante uma década? 

Se a ciência da complexidade já existe há mais de duas décadas, por que chamar a atenção para eventos extremos nesse momento? Eis a razão: as infraestruturas para manter o estilo de vida — energia, água, comida, saúde, segurança, finanças — estão tão interligadas que, se um desses sistemas desmoronar, há grande risco do desmoronamento do sistema como um todo. É por isso que em economia se diz que "tudo depende de tudo". 

Nossa vida resume-se em uma longa cadeia de acontecimentos. A maioria é irrelevante, como comer, beber, distrair-se etc. Entretanto, a decisão de um país invadir outro país, afeta o mundo inteiro por décadas. Esses acontecimentos são raros, e a possibilidade de previsão é ínfima. Contudo, eles não podem sem classificados como extremos. Para se caracterizar como evento extremo, o que importa é o grau de imprevisibilidade quanto ao seu impacto na sociedade como um todo. Exemplos: os ataques de 11 de setembro, a crise da hipoteca em 2007-2008 e o apagão da Costa Leste dos EUA em 2003 podem ser considerados eventos extremos. 

Pensemos num governo autoritário que se confronta com a população que descobriu novas liberdades. A complexidade do sistema de controle, que é o governo, e do sistema controlado, que é a população, requer uma solução. O governo pode prender líderes e encarregar a polícia de dispersar os manifestantes. Pode, também, acelerar a realização de eleições livres. Google, Twitter e Facebook ajudam a aumentar complexidade social da população, mas não a do governo. 

Há, assim, dois tipos de regime: 1) o regime normal, com um histórico e a possibilidade de previsão; 2) regime de eventos extremos, para os quais nossas ferramentas de cálculo simplesmente não servem.

Fonte de Consulta 

CASTI, John. O Colapso de Tudo — Os Eventos Extremos Que Podem Destruir a Civilização a Qualquer Momento. Tradução de Ivo Korytowski e Bruno Alexandre. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012. 

&&&

A frase de abertura do texto De Bello Gallico, de Júlio César, proclama: “Toda a Gália é dividida em três partes.” Por isso, o livro foi dividido em três partes. 

 


Nenhum comentário: