24 outubro 2020

Barbarismo e Intelectualidade

Mário Ferreira dos Santos, na segunda parte do livro Invasão Vertical dos Bárbaros, trata do barbarismo relacionando-o à intelectualidade. Compara o barbarismo intelectual às pseudomorfoses (pseudos = falsos e morphósis = formações), pois essas formações não correspondem essencialmente ao que o cristal teria num desenvolvimento normal. Há, assim, muitas formações aparentemente cultas e civilizadas, mas que, na verdade, seu conteúdo é bárbaro, e bárbara também a sua causa eficiente.

A dúvida descabida que se empresta à inteligência tem levado os intelectuais modernos a tenderem para a mecanização do saber, para o cibernético etc., com graves prejuízos para o melhor desenvolvimento da capacidade intelectual do homem. 

As principais promoções para a barbarização da inteligência podem ser vistas.

A Desvalorização da VontadeA vontade é uma disposição para o bem, é uma disposição já intelectualizada. Confundir a vontade com o desejo é uma posição verdadeiramente bárbara. A vontade é uma deliberação intelectual e não um impulso cego

Ridicularização do inteligente — Em certos filmes, glorifica-se o estudante que apenas se interessa pelo atletismo, pelos esportes, e a caricaturização do estudante que se dedica ao conhecimento. Caricaturiza-se o sábio que constrói um invento, mas eleva-se o herói, de grande musculatura e agilidade, que vence e domina com facilidade.

Barbarização da Ciência e da Técnica — O estudo dos primeiros princípios está desterrado da maioria das escolas. Há legiões de professores cépticos e agnósticos, que dizem que nada podemos saber dos primeiros princípios.

A luta contra a universalização do conhecimento — Uma vez alcançada a universalização do conhecimento, a vantagem obtida pelos césares desaparecerá, pois estes enfatizam a especialidade, uma arma extremamente hábil empregada.

Desvirtuamento da Universidade — Quando Innocêncio III aceitou a universidade, reiterou que ela fosse sempre um foco de ideias sãs e não a propulsora de erros, que dariam resultados maléficos. Na Universidade de Paris, por exemplo, pediram a cabeça de Pasteur e impediram que Einstein proferisse conferências.

Silêncio sobre os que sabem pensar — As mediocridades colocadas nos altos postos tiveram sempre o cuidado de, em sua defesa, silenciar todos os criadores, aqueles que poderiam fazer-lhes sombra.

Há, ainda: a tendência em separar a Religião da Filosofia e esta da Ciência, a luta contra o criador, o Conceito de Deus, o fetichismo, a incompreensão sobre a diferença entre a Ética e a Moral, a juventude transviada...

Contra todos esses desmandos da inteligência, devemos enaltecer o verdadeiro sábio, que é um libertário. “É uma esperança que se robustece numa verdadeira fé, e que inaugurará a verdadeira caridade: o amor ao bem do homem, sem esquecer que esse bem está em sua grandeza e não em sua pequenez, que este bem está em sua exaltação não em sua depressão, que este bem está na vitória sobre tudo quanto separou, dividiu, amesquinhou”.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Invasão Vertical dos Bárbaros


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