O que se entende por
bem pensar? Será que sabemos pensar? Há alguma diferença entre pensar e ruminar
pensamentos? É possível melhorar o nosso pensamento? Existe alguma técnica? Com
essas perguntas introdutórias, damos início à nossa análise do tema. Nele verificaremos
os princípios de aprendizagem, ferramentas utilizadas para o bem pensar e
algumas anotações sobre o pensar por nós mesmos.
2. CONCEITO
Pensar, na significação
etimológica do termo, quer dizer sopesar, pôr na balança para
avaliar o peso de alguma coisa, ponderar.
3. CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
Tomando a Natureza
como ponto de partida, observamos que as pedras e as árvores existem, mas não
pensam; os animais, por sua vez, têm lampejos de pensamento; somente o homem
tem a capacidade de construir pensamentos através da palavra escrita e falada
e, com isso, transmitir conhecimentos. Contudo, ainda estamos longe de bem
utilizar o nosso cérebro, no sentido de bem pensar. Não é sem razão que muitos
dizem que usamos uma parcela muito diminuta dele. É que não somos habituados a
pensar com profundidade naquilo que estamos pensando. Anotemos as notícias
veiculadas num jornal televisivo: há uma série de informações, muitas vezes
desconexas, cuja análise fica para segundo plano. Além disso, preferimos aquilo
que diverte, aquilo que mexe com as nossas emoções. De qualquer modo, todos
somos obrigados a pensar melhor porque a vida, com as suas dificuldades,
coloca-nos, muitas vezes, num beco sem saída. Aí não temos escolha, a não ser
debruçar o pensamento sobre nós mesmos.
4. PRINCÍPIOS DE
APRENDIZAGEM
4.1. DO CONHECIDO
PARA O DESCONHECIDO
Qual a razão de
estarmos passando do simples para o composto, do conhecido para o desconhecido?
É a lei de toda a exploração. Para entrarmos numa terra desconhecida,
primeiramente temos que sair da conhecida, na qual nos encontramos. Para
ensinarmos eficazmente matemática a uma criança, primeiro, temos que lhe
transmitir a noção de número. Claude Bernard dizia: "Assim como o homem
não pode avançar a não se colocando um pé diante do outro, o espírito
naturalmente deve colocar um pé diante do outro. Além disso, o pé tem como
ponto de apoio o chão; assim também a inteligência apóia-se num conhecimento do
qual ela tem certeza." (Ide, 2000, p. 3)
O professor ou
conferencista deve constantemente cuidar para engatar o vagão do seu pensamento
ao de seus ouvintes, sob pena de, como se diz familiarmente, "passar por
cima da cabeça deles"
4.2. DO GERAL PARA O
PARTICULAR
Aristóteles dizia:
"A marcha natural do intelecto é ir das coisas mais conhecíveis e mais
claras para nós às que são mais claras em si e mais conhecíveis. (...) Ora, o
que para nós é primeiramente manifesto e claro são os conjuntos mais
misturados; é só depois que, dessa indistinção, os elementos e os princípios se
destacam por meio da análise." (Ide, 2000, p. 6)
Como decorrência do
princípio anterior, as idéias são apreendidas, primeiramente, em sua
generalidade, inclusive de forma nebulosa; somente depois é que elas vão se
assentando em nosso cérebro. É como uma pessoa caminhando, que vê um vulto se
deslocar. Pensa: deve ser um animal; chegando, porém, mais perto, percebe que é
um ser humano como ele mesmo. Um outro exemplo: pense numa montanha. A imagem
dela preenche todo o nosso ser. Contudo, para conhecê-la melhor temos que galgá-la
ou analisá-la de cima a baixo. Disto resulta que, quanto mais particular é o
dado analisado, mais conhecimento se tem a seu respeito. Lembremo-nos das
especializações da ciência, que cada vez mais vão se distanciando do todo para
tratar de algum fato particular. A definição filosófica do homem obedece a este
raciocínio. Fala-se, primeiramente, que é um animal; depois, acrescenta-se o
termo racional, ou seja, o homem é um animal racional.
4.3. APRENDE-SE
MELHOR FAZENDO
Este princípio tem
relação com as frases inglesas: "learn by doing" (aprender
fazendo) e "try and error" (tentativa e erro). É pensando que
aprendemos a pensar; é raciocinando que aprendemos a raciocinar. Muitas vezes
somos bafejados por um bom intelecto, mas o usamos para o mal. Isso mostra que
devemos pôr em pratica aquilo que aprendemos na teoria. Qual a utilidade de
sabermos a Bíblia de cor, se não temos condições de pôr em prática nenhum de
seus versículos?
5. FERRAMENTAS
UTILIZADAS PARA BEM PENSAR
5.1. PERGUNTA
A primeira das
preocupações para o bem pensar é a pergunta. Saber perguntar é uma arte.
Diz-nos a psicologia social que o homem deveria ser avaliado não pelas
respostas que dá, mas pelas perguntas que faz. Nesse mister, a filosofia se
baseia muito mais na pergunta do que na resposta, pois estamos sempre em busca
de respostas. Diz-se também que não há pergunta sem prévios conceitos, pois
quem pergunta já sabe algo da pergunta.
Saber responder
também é uma arte. As nossas respostas, na maioria das vezes, não atendem ao
que foi perguntado, mas reflete muito mais o que lemos ou ouvimos: o nosso
trabalho de reflexão acaba sendo efetuado, não no nível da pergunta, mas no da
resposta. É preciso cercar a pergunta por todos os lados.
5.2. PROBLEMA
O que é um problema?
O problema pode se descrito como uma situação de tensão
sentida pela matéria viva, cada vez que um de seus afetos não encontra meio de
extinção imediato ou manifesto. Diante deste conceito, os seres inanimados não
teriam problema, pois não sentem este tipo de tensão. Na acepção corrente,
podemos dizer que o problema é um incômodo, uma contrariedade, um mal-estar,
uma oposição ao nosso pensar.
Filosoficamente
considerado, o problema é o nexo ainda não manifestado entre conceitos que se
comparam na reflexão. Ele não é um cálculo matemático; ele deve resumir uma
pergunta, com fundamento gramatical. Assim, antes de estudarmos Kant, Hegel e
Leibniz, deveríamos descobrir o que eles estavam procurando, ou seja, que tipo
de resposta eles queriam dar às suas perguntas. Nesse sentido, o conteúdo
filosófico é muito mais importante do que a descrição histórica, do que contar
história.
Para detectar um
problema, podemos nos servir de um exemplo plástico. Suponha que à nossa frente
encontra-se um muro. Ele é um problema? Não? Quando ele se torna um problema?
Quando o quisermos transpor. Aí, teremos que pensar, racionar e ver a melhor
maneira do o fazer. (Pauli, 1964)
5.3. ANÁLISE
A apropriação de um
conhecimento requer o exercício da análise filosófica. O que entende por
analisar? Analisar é decompor e discernir as diferentes partes
de um todo, mas também reconhecer as diferentes relações que elas mantêm, quer
entre si, quer com o todo. Analisar é ousar enfrentar a dificuldade, a
complexidade que o conhecimento requer. É desatar os nós que impedem a clara
distinção do conhecimento. Nesse sentido, não se deve ser precipitado, nem
impaciente, pois tanto uma atitude quanto a outra impede que nos façamos
"engenheiro do sentido". (Arondel-Rohaut, 2000, p.2)
6. PENSAR POR SI
MESMO
6.1. ORDENAÇÃO
Os dados estão na
realidade, como os frutos na vitrine. Eles estão dispersos. Como somos o centro
da percepção, temos que exercitar a ordenação dos mesmos. E ordenar não é
tarefa fácil, pois nos obriga a juntar, a amontoar, coisa que temos um pouco de
preguiça, principalmente a preguiça mental.
De que serve assistir
durante meia hora a um jornal na TV, ler artigos durante uma hora, se não
retivermos quase nada? É preciso alocar a nossa energia mental para aquilo que
estivermos fazendo. Estamos dispostos a nos distrair ou informar-nos?
O preparo de uma
palestra ilumina o nosso pensamento. Quando falamos em público, não deveríamos
falar o que nos vêem à mente, mas aquilo que foi planejado, digerido, ou seja,
aquilo que não aparece publicamente. É como a suavidade do gesto do dançarino,
fruto visível de um trabalho invisível e quase infatigável de preparação.
6.2. REFLEXÃO
O elemento chave para
o bem pensar ou pensar por nós mesmos é a reflexão. É uma volta sobre si mesmo.
A reflexão seria mais perfeita se fosse somente sobre o próprio pensamento, sem
a intervenção dos sentidos; mas, como o pensamento e os sentidos são
inseparáveis, de qualquer forma é uma reflexão. Depois de tudo assimilado,
depois de tudo associado, temos que parar e voltarmo-nos para o nosso interior,
propondo, inclusive, uma mudança comportamental. Santo Agostinho, um dos
expoentes da Escolástica, sugere que façamos o que ele fazia todas as noites,
antes de dormir: "repassava mentalmente o que fizera durante dia,
indagando como fora em palavras, pensamentos e atos".
6.3. LIBERTAÇÃO PELO
CONHECIMENTO
Presentemente, há um
estoque ilimitado de informações: são mais de 25 séculos de estudo e
aprendizado. Os pensadores que passaram por este Planeta trouxeram coisas boas
e ruins; alguns acabaram enveredando pelo seu didatismo e acabaram se
distanciando da verdade. Nesse mister, o apóstolo Paulo recomenda que leiamos
de tudo, mas que fiquemos com aquilo que for bom. Kant, por exemplo, é elogiado
por muitos filósofos modernos, mas também muito criticado por ter desviado a
filosofia da razão e a encaminhado para a emoção.
Qualquer
conhecimento, sem o aval do Criador, é um conhecimento parcial que não nos
liberta. A própria palavra a-teu significa esquecido de Deus, abandonado. Nesse
sentido, a libertação pelo conhecimento será somente aquela que provier da
Divindade, pois é aí que se encontra a verdade. Por isso, Cristo nos dizia:
"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".
7. CONCLUSÃO
Direcionemos os
nossos raciocínios pela senda do bem pensar. Não nos preocupemos com as
possíveis dificuldades iniciais; ao contrário, vislumbremos os frutos sazonados
nos exercitados por ele.
8. BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA
IDE, Pascal. A
Arte de Pensar. Tradução de Paulo Neves. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes,
2000 (Ferramentas)
ARONDEL-ROHAUT,
Madeleine. Exercícios Filosóficos. Tradução de Paulo Neves. São
Paulo: Martins Fontes, 2000.
PAULI, E. Que
é Pensar (Teoria Fundamental do Conhecimento). Florianópolis:
Biblioteca Superior de Cultura, 1964.
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